Golpe usa marcas como ‘Shein’ e ‘Instagram’ para enganar os consumidores

Influenciadores divulgam plataformas que prometem ganhos de até R$ 10 mil por mês com poucas horas de trabalho

Por Carla Matsue, Valor Investe — São Paulo


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Ganhar uma grana extra sem precisar de muito esforço é uma proposta perfeita, principalmente para quem quer aumentar os lucros. Mas quando o assunto é renda extra, muitos golpistas se aproveitam da situação de fragilidade financeira das pessoas para lucrar.

Durante as últimas semanas, influenciadoras famosas, algumas com mais de 9 milhões de seguidores, publicaram vídeos com uma “oportunidade” para fazer uma renda extra. O “publi post”, como é chamado no jargão das redes sociais, é um vídeo ou post pago por alguma marca e realizado por um influencer para divulgar a marca para a base de seguidores do influenciador. Ou seja, nada mais é do que uma propaganda feita por esse famoso das redes sociais.

A prática é muito comum e é adotada nas mais diversas redes sociais, mas nas últimas semanas, um tipo específico de publicidade intrigou os seguidores.

Os vídeos consistem em oferecer uma oportunidade para ganhar dinheiro “sem muito esforço”. Dois métodos ficaram mais evidenciados na última semana.

O primeiro, conhecido por InstaMoney, consiste em acessar uma página e curtir as postagens que aparecem no “feed” para ganhar a remuneração. Na prática, a explicação é que os criadores de conteúdo que utilizam o instagram, buscam maior engajamento e curtidas em seus posts, sendo assim, a ferramenta distribui os posts e as curtidas geram um valor para o usuário. O custo do app é de R$ 147 e a promessa é de ganhos de até R$ 200 por dia, apenas dando “likes” em publicações.

Procurado pela reportagem, o Instagram afirmou que não tem relação com a plataforma e os serviços de engajamento falso que são ofertados pelo InstaMoney, violam os Termos de Uso da plataforma. “Dedicamos recursos significativos para combater estes tipos de abuso em nossas plataformas e, quando detectados, consideramos todas as opções aplicáveis, incluindo a suspensão e remoção das contas. Em alguns casos, tomamos medidas legais contra os responsáveis”, afirma o porta-voz da Meta, dona do Instagram.

O segundo método é o “Money Looks”, que diz que o e-commerce chinês SHEIN, famoso pela venda de roupas, está falindo e a marca paga até R$ 347 por dia para avaliar as roupas da marca.

O vídeo explicativo que é exibido no site da Money Looks afirma que o aplicativo é oficial da Shein e é possível lucrar entre R$ 6.000 a R$ 9.000 por mês. Para justificar o custo que o novo usuário tem ao entrar na plataforma, o vídeo diz que como o número de usuários aumentou muito, eles tiveram gastos com equipe, pois não lucram com o ganho do usuário. O valor mínimo para ter acesso a plataforma é de R$ 97, que pode ser parcelado em até 12 vezes.

Em nota enviada à reportagem, a SHEIN esclarece que não tem relação alguma com o site fraudulento denominado “Money Looks". “Esse website está sendo enganosamente utilizado para propagar informações falsas sobre a companhia, com uso indevido do nome e imagem da empresa, com intenção de enganar usuários para que eles adquiram um aplicativo com falsa promessa de obtenção de uma renda extra por meio de avaliações de looks da marca”, afirma a nota.

A SHEIN ainda explica que já adotou as medidas legais cabíveis relativas ao uso indevido de seu nome e imagem e vem promovendo medidas para inibir a propagação de informações que possam expor a empresa e seus consumidores.

Ainda no posicionamento, a empresa recomenda ainda que nenhuma pessoa realize cadastros neste site, a fim de evitar o uso indevido de seus nomes, informações pessoais e dados bancários.

Nathalie Fragoso, sócia do VMCA Advogados e professora do Insper, explica que os casos apresentados, se confirmados, podem ser caracterizados como publicidade enganosa e até abusiva.

“Qualquer modalidade de informação de caráter publicitário, parcial ou inteiramente, mesmo por aquilo que omite, induz o consumidor em erro, é uma publicidade enganosa e é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor”, explica Fragoso.

Nos casos em que o consumidor é lesado por essa prática, ele pode - e deve - buscar reparação nos órgão de proteção ao consumidor, como o Procon, e também pela via judicial, com pedido de danos materiais pelo investimento e danos morais pela perda de tempo.

Em relação a culpabilização dos influenciadores que divulgaram o produto, a advogada explica que o fornecedor é o ator que tem a responsabilidade de manter as informações que dão sustentação ao produto, que precisam demonstrar que aquela mensagem publicitária que está sendo veiculada é verdadeira. Ou seja, em última instância, a culpa é da empresa que está cometendo a fraude e não do influenciador, que está se passando apenas como um canal de divulgação

“Nem todos os tribunais consideram responsáveis os outros agentes dessa cadeia, então a responsabilidade é do fornecedor, mas vale ao influenciador, pensar na perda do sentido de credibilidade e na pressão pública que pode sofrer”, finaliza Fragoso. Portanto, em muitos momentos vale a pena o influenciador se desculpar pelo problema que ajudou a causa do que correr o risco de ter sua reputação manchada por um golpe que, mesmo sem querer, ele ajudou a divulgar.

Bruna Andriotto, especialista de Renda Extra da plataforma Me Poupe!, adverte que é preciso pesquisar sobre o assunto e ver se existem mais sites ou outras pessoas falando sobre a renda extra oferecida e deve-se desconfiar de propostas muito tentadoras que prometem ganhos exorbitantes sem muito esforço. Como diz o famoso ditado em economia: "não há almoço grátis", portanto, sempre desconfie de ganhos altos sem você precisar fazer quase nada.

Também vale pesquisar o nome do produto no "Reclame Aqui" ou em outras plataformas de defesa do consumidor, como o Procon, para ver quais são os comentários das pessoas.

A página do "InstaMoney" no Reclame Aqui, conta com 2847 reclamações e apenas UMA respondida, que indica que a compradora solicite o reembolso diretamente na Kiwify, o site que hospeda a venda do InstaMoney. Contatado, o Kiwify afirma que, assim como os outros produtos da plataforma, o InstaMoney não é vinculado a eles, e o produtor é o responsável final pelo reembolso.

“Caso o cliente entre em contato com o produtor e não tenha retorno ou não concorde com os termos do Infoprodutor, o comprador deverá ingressar com o seu pedido pelo link de reembolso automático, com a solicitação de reembolso automático, por intermédio do e-mail da conta. O reembolso poderá ser concluído em até 48h úteis, desde que a solicitação de cancelamento esteja dentro do prazo de 7 dias após a compra, e que exista saldo disponível na conta do Infoprodutor”, afirma a o Kiwify.

Apesar de existir a possibilidade de ressarcimento, 53,14% das reclamações do InstaMoney no Reclame Aqui, são sobre estorno do valor pago. Os outros dois principais problemas da plataforma são: propaganda enganosa e problemas com o site.

No caso da Shein, de fato, é possível avaliar as roupas comercializadas pela Shein, mas isso é feito dentro das próprias plataformas do e-commerce (no site ou no aplicativo), quando se realiza uma compra e a recompensa é dada ao cliente em forma de pontos que viram descontos para a próxima compra.

Cada ponto equivale a 1 centavo de dólar e no final de cada compra, o cliente pode optar por utilizar esses pontos para gerar um desconto de acordo com a quantidade usada.

A reportagem tentou, de diversas maneiras, encontrar os donos ou algum dado dos responsáveis pelas plataformas “InstaMoney” e “Money Looks”, mas não obteve sucesso em contatar a pessoa jurídica.

E, se serve de alerta, nunca embarque em algo que parece bom demais para ser verdade. Muito provavelmente não é verdade mesmo, simples assim.

Golpe Shein — Foto: Reprodução/Plataforma MoneyLooks
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