Mulheres e o valor das empresas

Talvez os acionistas não saibam disso ainda, mas as mulheres são benéficas às empresas e geram mais valor.

Por Rodrigo de Losso, Joelson Sampaio e Priscilla Tavares — São Paulo


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À medida que a ciência avança, constata-se cada vez que as mulheres são diferentes dos homens em termos dos benefícios que trazem à sociedade e, particularmente, às companhias, quando ocupam cargos de alta gestão e conselhos de administração.

Há, ao menos, cinco razões para essa constatação, todas elas oriundas de pesquisa acadêmica de alto nível, fundamentadas, obviamente, na experiência concreta:

  • a.Melhora das práticas de governança corporativa;
  • b.Melhora do desempenho das empresas;
  • c.Melhora de diversidade dos conselhos de administração;
  • d.Incentivo a seguirem essa carreira executiva;
  • e.Ajuda a reduzir a disparidade salarial entre homens e mulheres.

As mulheres trazem experiências e uma visão diferenciada às empresas, alterando a forma como conselhos de administração e gestores tomam decisão. Elas requerem mais explicações e precisam entender a decisão que estão tomando.

O problema, especialmente no Brasil, é que elas estão menos presentes na alta administração das empresas, em comparação com a Europa, possivelmente por desconhecimento dos acionistas locais sobre os benefícios que trazem. De fato, a B3 constatou que apenas 6% das empresas listadas têm três ou mais mulheres ocupando cadeiras no conselho de administração. Esse número é até menor excluindo-se conselheiras de subsidiárias europeias ou indicação familiar. Em contraste, esse número sobe para 28% na União Europeia.

Os estudo empíricos têm mostrado que as mulheres são mais assíduas às reuniões e, com isso, incentivam uma maior assiduidade de homens também. Isso resulta em melhoria de monitoramento de ações e transparência na companhia, com reflexos positivos em seus resultados. Com efeito, há estudos que mostram que as relações entre lucros e ativos e lucros venda melhoram com a maior diversidade de gênero no conselho e nas diretorias executivas das empresas. Esse resultado acontece também no Brasil, felizmente. Ademais, essa participação maior das mulheres reflete-se em cumprimento e aderência maiores de valores éticos e sociais das companhias, representando um canal indireto para a geração de valor aos acionistas.

Os benefícios não param por aí. É possível mostrar que as mulheres nos conselhos de administração trazem mais diversidade internacional e conhecimentos, por terem estudado mais em MBAs. Além disso, a constatação de mais mulheres em cargos de decisão funciona como fonte de inspiração a outras mulheres, que passam a acreditar que podem chegar lá também.

Talvez o mais importante, contudo, é o efeito das mulheres em cargos de decisão sobre a diferença de salários entre homens e mulheres dentro das companhias. O fato é que essa diferença diminui. Com efeito, as mulheres percebem renda mais altas em empresas lideradas por mulheres. Contudo, as razões para essas evidências precisam ser melhor apuradas.

Talvez os acionistas não saibam disso ainda, mas as mulheres são benéficas às empresas e geram mais valor.

Essas diferenças citadas acima (ver referências abaixo) evidenciam a necessidade de uma gestão com diversidade de gênero, pois é claro que homens e mulheres conduzem o negócio de forma diferente.

Estudos futuros vão mostrar como essa interação maior entre homens e mulheres na alta administração trará benefícios. Estudos mostrando o desempenho de uma companhia liderada só por mulheres precisam ser contrastados com companhias lideradas só por homens. Conjecturamos que a diversidade de gênero deve trazer mais benefícios às companhias em termos de valor.

Outros estudos precisam ser empreendidos para evidenciar os custos da escolha da mulher e do homem entre a profissão e família. O equilíbrio é fundamental, mas, aparentemente, a mulher alcança as posições mais importantes dentro da companhia em detrimento da família.

Veja abaixo algumas indicações bibliográficas de estudos sobre o impacto das mulheres na alta administração das empresas.

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Rodrigo De Losso é PhD pela Universidade de Chicago e professor titular da FEA-USP
Joelson Sampaio é PhD pela Universidade de São Paulo e pela FGV, Professor da EESP-FGV
Priscilla Tavares é PhD pela Fundação Getulio Vargas - FGV, Professora da EESP-FGV

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