Blog - Naiara com Elas

Por Naiara Bertão, Valor Investe — São Paulo


Algo tem me chamado a atenção ultimamente: a quantidade de mulheres protagonistas em seriados, filmes e novelas aumentou bastante. Alguns que eu assisti recentemente: O Gambito da Rainha, The Crown, Enola Holmes, Away, The Boys, Perdidos no Espaço ... e têm vários outros na fila com mulheres no papel principal, de diversos gêneros e enredos.

O aumento da representatividade da mulher na ficção é algo incrível e extremamente válido para que todas, em especial, as mais novas, possam se identificar e entender que elas são também protagonistas do mundo e podem ocupar os espaços que bem entenderem.

Mas algo me ocorreu: estamos vendo cada vez mais mulheres reais nas telas, interpretando também situações reais. Uma série emblemática disso para mim é Big Little Lies, minissérie da HBO com as talentosíssimas Nicole Kidman, Reese Whiterspoon, Shailene Woodley e Laura Dern. São quatro protagonistas que vivem dramas reais: violência contra a mulher, a vida de uma mãe solo, relacionamento abusivo, dificuldade em lidar com os filhos e o marido e até um assassinato.

Claro que a maioria delas não tem nem problemas em pagar os boletos no fim do mês - o que por si só já é um problemaço para a maioria das brasileiras. Mas a história navega bem por problemas reais de mulheres reais, imperfeitas e humanas. E nem todas precisamos nos identificar com seus contextos. Mas só o fato de estarmos retratando a vida como ela é, me parece extremamente importante. Vou explicar porque acho isso.

heroína — Foto: GettyImages
heroína — Foto: GettyImages

Descontruindo a mulher forte

Cresci rodeada por mulheres fortes: minha mãe, minhas tinhas, minhas primas. Eu sempre quis saber mais sobre outras mulheres fortes: artistas, escritoras, empreendedoras, políticas, cientistas. E tenho acompanhado diversas discussões sobre empoderamento feminino que mostram como a mulher é forte. Mas levei mais de 30 anos para entender que não deveríamos nos vangloriar por sermos muito fortes. Não que isso seja necessariamente ruim, mas porque isso nos gera auto pressão, autocrítica e ansiedade em nível maior do que aguentamos.

Eu sempre procurei ser a filha estudiosa, que queria ser independente, que fez de tudo para passar numa faculdade pública, que começou a trabalhar cedo para ter o próprio dinheiro, que lia todos os livros indicados por CEOs ou personalidades que eu admirava, que se meteu em tudo quanto é curso de autoconhecimento, soft skills, coaching e por aí vai. Para quê? Para um dia, ser “alguém importante”.

É claro que a personalidade ajuda, mas algo me orientou a pensar que esse era o sinônimo de sucesso. E aí vem a pergunta mais difícil com a qual eu me deparei: o que é sucesso para você? Eu não sei responder, mas, para muitos que me conhecem, eu sou uma pessoa bem-sucedida, apesar de internamente eu não achar isso. Será que um dia eu realmente vou achar que atingi o sucesso? Mesmo não sabendo nem o que é o tal do sucesso para mim?

Cresci lendo revistas de negócios e carreiras - acredite, eu realmente sempre gostei do tema. Os filmes que eu assisti na infância e adolescência retratavam a mulher bem-sucedida como alguém bonita, magra, corpo mignon ressaltado na saia lápis e uma mala na mão (afinal, a mulher executiva sempre viaja para reuniões importantes).

Por anos eu simbolizei que, quando eu entrasse em um emprego que eu realmente me sentisse bem-sucedida, eu iria comprar uma mala bem chique. No fim, nunca tive essa sensação e comprei uma mala boa pra viajar porque precisava.

Hoje eu claramente percebo como essas influências me passaram uma imagem de mulher bem-sucedida que nada tem a ver comigo. Eu sou zero fashion, não tenho nem chapinha de cabelo, não faço a unha toda semana e nunca usei uma saia lápis na vida. Salão, só para eventos especiais. Viagens, só nas férias e quando eu sempre prefiro meu conjunto de tênis All-Star e moletom Adidas pelo conforto. Dormir 5 horas por noite é a morte para mim. Tenho dias bons, dias produtivos, mas também dias que estou sem disposição para levantar da cama e sem paciência para lidar com os problemas. Ser assim, real, não vai me levar a ser bem-sucedida?

Vulnerabilidade

Faz pouco tempo que o conceito de vulnerabilidade entrou na roda de discussão mainstream de carreira. Eu sempre achei que mostrar que tenho defeitos, que não consigo segurar todos os pratinhos, que não sou uma super heroína fosse ruim. E como eu, garanto, tem milhões de mulheres por aí ainda achando isso.

Vendo esse monte de filmes, séries e novelas com gente como a gente e ouvindo em diversos bate-papos sobre empoderamento feminino o nome de Brené Brown [uma mulher que fala abertamente sobre o poder da vulnerabilidade e porque é OK sermos imperfeitas] eu respirei fundo. Estamos desconstruindo finalmente a figura do herói, ou no caso, da heroína.

A Mulher Maravilha foi extremamente importante para uma fase da nossa vida, mas ela já não serve mais. Gal Gadot Varsano que me desculpe, mas eu não me identifico com ela. Ela é alta, magérrima, com super poderes, um cabelo que não se abala nem no meio da guerra, um semblante calmo e consciente e um ar glamuroso que eu nunca terei. E tudo bem.

Uma pesquisa de 2018 feita pela BBC America e o Women’s Media Center com 2.431 participantes de 5 a 19 anos, meninos e meninas, mostrou que a maioria não se sentia totalmente representada pelos personagens de ficção.

O estudo, chamado de “Superpowering Girls: Female Representation in the Sci-Fi/Superhero Genre” [Garotas superpoderosas: representação feminina no gênero de ficção científica e super-heróis, na tradução livre] revelou que sim, ter mulheres é importante, mas o que temos não é suficiente para mudar o jogo.

Por um lado, a pesquisa mostrou que as personagens mulheres ajudam a construir a autoconfiança das garotas, fazendo-as se sentir mais fortes, bravas, confiantes, inspiradas, otimistas e motivadas.

“A mídia nos fala quais são nossas referências na sociedade. Nos diz quem nós somos e o que podemos ser. Molda, interpreta e amplifica políticas e regras. Nos diz quem tem poder e o que importa”, destaco do relatório da pesquisa.

Porém, dois terços das meninas concordam que é insuficiente o que temos nos filmes e na TV em termos de referências/modelos femininas, da representação da força da mulher e de sua capacidade de identificação.

“Personagens de ficção científica e super-heróis habitam um mundo cheio de imaginação, oportunidade e possibilidade. Na vida real, as oportunidades e os modelos de comportamento para mulheres e meninas, especialmente mulheres e meninas negras, são limitados”, diz outro trecho.

A boa notícia é que, ao que parece, a era das super-heroínas está ficando para trás. Quando dizemos que uma mulher é multitarefa (característica feminina mais valorizada no mercado) e que ela dá conta de muitas coisas ao mesmo tempo, estamos só nos prejudicando. No Instagram, no Facebook e no LinkedIn é fácil ser super-heroína. Nos bastidores das cenas, porém, somos todas vulneráveis, sempre deixamos algum prato cair, temos momentos de medo, de vergonha, de preocupação, de incerteza e de vácuo interior. Isso porque homens e mulheres deixam pratos cair no dia a dia. Ninguém é perfeito e tá aí a beleza do ser humano.

Quando falamos que uma mulher é forte, passamos a impressão de que ela aguenta tudo e mais um pouco. E isso não é verdade. Acima de tudo, somos seres humanos, com limitações e vulnerabilidades. Nos colocar como mulheres fortes, verdadeiras heroínas, é um erro porque coloca a nossa barra lá em cima e para alcançá-la possivelmente abriremos mão de muitas coisas que são importantes para a gente.

Eu faço mea-culpa: sou a primeira que precisa passar por um processo de "dessuper-heroização" [acabei de inventar essa palavra, como podem perceber], ou seja, passar por um detox da pressão social para ser uma super-heroína.

Percebi isso claramente quando parei para pensar por que não estava conseguindo terminar um livro que comecei esse ano. Bastava só reparar na capa: todos de autoconhecimento, autoajuda, coach, etc. Não leio um livro de ficção há mais de um ano. E precisei que alguém me desse esse toque para eu perceber o que estava acontecendo.

Queria finalizar com um convite para assistirem ao TED da Brené Brown, e uma sugestão aos editores dos dicionários do mundo. Essa tradução, extraída do Michaelis, só reforça que a vulnerabilidade é algo ruim, quando ela não deveria ser taxada, na minha opinião, nem de ruim, nem de bom. É simplesmente algo inerente ao ser humano, é o que é, faz parte de nosso ser e temos que aprender a lidar com ela.

Vulnerabilidade

  • vul·ne·ra·bi·li·da·de
  • sf
  • 1 Qualidade ou estado do que é vulnerável.
  • 2 Suscetibilidade de ser ferido ou atingido por uma doença; fragilidade.
  • 3 Característica de algo que é sujeito a críticas por apresentar falhas ou incoerências; fragilidade.
  • Fonte: Michaelis

Brene Brown - O poder da vulnerabilidade

Brene Brown estuda a conexão humana, nossa habilidade de sentir empatia, pertencer, amar. Em uma palestra comovente e divertida no TEDxHouston, ela compartilha uma percepção profunda de sua pesquisa, que a levou a uma busca pessoal para conhecer a si mesma e entender a humanidade. Uma palestra para compartilhar.

Mais recente Próxima Vocês sabem o que é ‘telhado de vidro’ e por que ele dificulta o crescimento de mulheres?
Mais do Valor Investe

Após abrir no campo positivo, índice recua embalado pelas perdas de ações com peso relevante na composição da carteira teórica. No pano de fundo, investidores analisam os dados de trabalho nos EUA e seguem atentos em Brasília

Ibovespa cai sob pressão de Vale e bancos

Com isso, a decisão de aprovação se tornará definitiva no prazo de 15 dias corridos a partir de sua publicação no Diário Oficial, não havendo recurso de terceiros ou avocação pelo tribunal da autarquia

Superintendência-Geral do Cade aprova união de Enauta e 3R sem restrições

A Prio registrou uma produção média de 88,2 mil barris de óleo equivalente por dia (boed) em junho, queda de 0,5% ante o resultado de maio

Produção média diária da Prio tem leve queda; veja o que dizem analistas

Em junho foram criadas 206 mil vagas de trabalho no país, número que representa uma desaceleração em relação aos 218 mil postos criados em maio. Analistas esperavam que fossem criadas 190 mil

Payroll: criação de empregos nos EUA desacelera menos do que o esperado. E daí?

Entrada líquida foi de R$ 12,7 bilhões, segundo o Banco Central

Poupança tem mais entrada do que saques em junho

Estados Unidos criaram 206 mil vagas de empregos em junho, resultado que representa uma desaceleração em relação ao mês anterior, mas que ficou acima das expectativas, diz o ‘payroll’

Dólar volta a subir firme e encosta em R$ 5,53 após dados de emprego nos EUA

O mercado reage a vitória do Partido Trabalhista nas eleições gerais do Reino Unido, que aconteceram ontem.

Bolsas da Europa sobem após eleições gerais do Reino Unido

O primeiro passo no órgão é verificar se a situação trata realmente de uma questão concorrencial

Meta, dona do Facebook, tem 15 dias para responder investigação do Cade

A empresa teve ADR listadas na bolsa americana por 20 anos, mas suspendeu durante sua reestruturação

Latam avança com processo de relistagem na Bolsa de Nova York

Shell fará baixa de US$ 2 bi; Sequoia divulga resultado

Shell; Sequoia (SEQL3); Prio (PRIO3): veja os destaques das empresas