O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visita Teresina nesta sexta-feira (21) de olho nas eleições municipais de outubro. A cidade entrou pela primeira vez na estratégia nacional do PT e pode, ao fechar das urnas, tornar-se a única capital governada pelo partido do presidente da República.
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O PT jamais governou a capital do Piauí, tradicional reduto do PSDB e do MDB. Mas, desta vez, a legenda tem um candidato competitivo que, segundo fontes locais, tem boas chances de vencer a eleição: o deputado estadual Fábio Novo. O atual prefeito, Doutor Pessoa (PRD), é rejeitado por mais de 80% da população e tem chances nulas de se reeleger.
A tendência atual é que Teresina seja palco de uma disputa entre o PT e o grupo político de um forte aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro da Casa Civil e senador Ciro Nogueira (PP). O parlamentar aposta suas fichas no ex-prefeito Silvio Mendes (União Brasil), em uma eleição que pode ser crucial para o seu futuro político.
Na visita desta sexta-feira, Lula fará o anúncio de cessões de terrenos da Secretaria de Patrimônio da União (SPU). E encerrará a Caravana Federativa - uma ação do Planalto que visa facilitar a adesão das prefeituras aos programas ofertados pelo governo federal. Ex-governador do Estado, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social) também estará presente.
Durante sua estada, segundo interlocutores, Lula deverá gravar vídeos, tirar fotos e produzir material de campanha em apoio a Fábio Novo. O deputado estadual, que foi secretário da Cultura na gestão de Wellington Dias, entra na disputa ancorado na alta popularidade do governador Rafael Fonteles (PT), cuja aprovação no Estado e na capital é hoje maior do que a do próprio Lula. Novo também conseguiu unir em torno de si um amplo arco de partidos: PT, PSD, MDB, PCdoB, PV, PDT, Podemos, PSB, Agir e Solidariedade.
Presidente deverá produzir material de campanha em apoio ao candidato petista
O otimismo do PT deve-se ao desempenho de Novo nas pesquisas de intenção de voto. Antes relativamente desconhecido, o petista está em empate técnico com Silvio Mendes em alguns levantamentos e já chegou a aparecer numericamente à frente.
Entretanto, observadores da cena política piauiense preveem uma eleição acirrada, uma vez que Silvio Mendes tem um bom “recall” de votos na cidade. Ele foi prefeito entre 2004 e 2010.
Mendes também disputou o governo do Estado em 2022, derrotando Fonteles na capital, com 50,95% a 45,68% dos votos, embora o petista tenha sido eleito em primeiro turno no Estado.
O Piauí deu a Lula a maior margem de vitória contra o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022 (76,86% a 23,14%). A margem na capital foi menor (66,44% contra 33,56%).
A eleição municipal deste ano no Estado mais petista da federação é crucial para os planos do senador Ciro Nogueira.
O mandato do presidente nacional do PP expira em 2026, e ele tem uma situação complicada para se reeleger. Isso porque o PT se movimenta em conjunto com o senador Marcelo Castro (MDB) para formar uma chapa dupla para concorrer ao Senado.
Com uma eleição ao governo também considerada inviável, ante a popularidade de Fonteles, Nogueira tem dito abertamente que seu sonho é ser vice em uma chapa bolsonarista à Presidência nas próximas eleições nacionais - possivelmente encabeçada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Quando era chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro, em 2020, Nogueira conseguiu transformar o PP no partido com mais prefeituras no Piauí: 83. Mas, com as defecções após a vitória de Lula em 2022, esse número caiu para cerca de 65. Já o PT teve um crescimento depois da retomada do Planalto de 23 para cerca de 50.
Segundo analistas, PT, PP, MDB e PSD disputarão este ano quem controlará o maior número de municípios no Estado. Em algumas cidades, há movimentos, motivados por fatores locais, que levam a alianças curiosas entre o PP de Nogueira, ácido crítico do atual governo, e o PT de Lula.
É o caso de São Raimundo Nonato, cidade famosa pelo sítio arqueológico da Serra da Capivara e berço político de outro peso-pesado da política piauiense, o senador Marcelo Castro (MDB).
O município é governado por Carmelita Castro, ex-integrante do PP que migrou para o PT em setembro do ano passado com o marido, o deputado estadual Hélio Isaías. Sua irmã, a deputada federal Margarete Coelho, segue filiada ao partido do senador Ciro Nogueira.
Carmelita lançou um sobrinho, Isaías Neto (PT), como candidato à sua sucessão, em uma coalizão que inclui o PP. Deixou na estrada o vice-prefeito Rogério Castro (MDB), primo do senador Marcelo Castro (MDB), um aliado de Lula na esfera federal.
Como reação, o senador emedebista trocou no mês passado seu domicílio eleitoral de Teresina para São Raimundo Nonato, levando consigo os dois filhos: o deputado federal Castro Neto e Marcelo Filho, superintendente da Codevasf no Piauí.
O clã emedebista desembarca em São Raimundo Nonato para apoiar Rogério Castro em um embate contra o PT de Lula e o PP de Nogueira. A interlocutores, Marcelo Castro tem dito que é “questão de honra” derrotar o candidato de Carmelita. Detalhe: o senador e a prefeita são primos distantes.
A visita de Lula ao Piauí faz parte de uma viagem mais ampla ao Nordeste. Nessa quinta-feira, o presidente da República desembarcou no Ceará, Estado do ministro da Educação, Camilo Santana. Em Fortaleza, anunciou investimentos para instituições federais da área e entregou unidades habitacionais. Nesta sexta-feira, o petista também irá ao Maranhão anunciar investimentos.