Esquema envolvia artifícios para ludibriar auditores

Estratégia dos executivos incluía planilhas com informações falsas e dados maquiados

Por — De São Paulo


Para ocultar dos auditores externos irregularidades contábeis praticadas na Americanas, executivos da companhia recorriam a um repertório de artifícios que incluía desde telas com informações falsas até planilhas com o maior número possível de linhas, além de dados maquiados com o intuito de “direcionar” o trabalho de análise dos números. É o que mostra o pedido de busca e apreensão que resultou na operação da Polícia Federal deflagrada ontem contra ex-diretores da Americanas acusados de fraudes contábeis.

Assinada pelo juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), a decisão cita especificamente subterfúgios que - segundo informaram as autoridades policiais - teriam sido empregados para “dificultar os testes da auditoria” em 2019. Na época, a PwC era a auditoria externa responsável por analisar os números da Americanas.

Parte da estratégia, conforme indica a decisão do TRF2, consistia em sobrecarregar os auditores, aumentando o número de linhas no sistema. “Quanto mais fossem as linhas, mais difícil seria auditá-las”, explica o magistrado em sua decisão. Em vez de gerar um relatório único com os números do ano inteiro a serem auditados, a companhia gerava arquivos referentes a cada mês. Com isso, os auditores precisavam primeiramente unificar os arquivos enviados para depois analisá-los.

A maquiagem dos dados também da fraude contábil bilionária incluía a “geração de lançamentos fraudulentos em valores menores para direcionar a seleção dos valores ‘reais’”, conforme indicam as investigações. Como o processo de auditoria é realizado por amostra, a tendência era de que os auditores concentrassem seu trabalho nos lançamentos mais expressivos. Isso porque, quanto maior o percentual do saldo inspecionado, mais efetivo é considerado o teste de auditoria.

A decisão de Carvalho menciona ainda, como expedientes utilizados para encobrir a fraude, a “confecção de telas fictícias do sistema Oracle” (ainda quando a EY era a auditoria da Americanas) e a negativa de autorização para rodar a ferramenta de testes automáticos certificados pela Oracle e SAP. Nesse último caso, o argumento para vetar os testes era de que estes não haviam sido autorizados pelo comitê de segurança sistêmica, instância que não existia.

Para não despertar a desconfiança dos auditores, os arquivos com o histórico de lançamentos financeiros eram “trabalhados”, de forma a alterar descrições de lançamentos que pudessem chamar a atenção.

A decisão menciona ainda participação direta que - segundo o Ministério Público Federal - o ex-diretor José Timotheo de Barros teria tido na solução de um “problema” ocorrido em 2016 durante auditoria realizada pela PwC na Lojas Americanas e na B2W.

Na ocasião, a auditoria teria buscado informações diretamente com as instituições bancárias. Os executivos da Americanas acusados de fraude teriam sido surpreendidos com as respostas de Santander, HSBC e Itaú quanto à existência das dívidas decorrentes de operações de “risco sacado”.

A mensagem eletrônica com a existência de operações que, em tese, não estariam sendo contabilizadas teria deflagrado uma reação por parte de Timotheo, que com a colaboração de outros investigados, “teria entrado em contato com as instituições financeiras, a fim de que as informações com as operações de ‘risco sacado’ fossem retificadas”, narra o magistrado em sua decisão, citando o Ministério Público Federal como fonte das informações.

A intenção era que um documento complementar fosse emitido pelos bancos, onde se fizesse constar que tais operações seriam solicitadas pelos fornecedores. Na verdade, a informação de que as operações de “risco sacado” eram demandadas pelos fornecedores seria falsa, segundo apurou o MPF, uma vez que estas operações seriam empréstimos pedidos pela Americanas às instituições financeiras.

Procurada por intermédio de sua assessoria de imprensa, a PwC ressaltou em nota que “não comenta temas de clientes por questões de confidencialidade e regras de sigilo profissional.

Mais recente Próxima PF detalha esquema bilionário de fraude na Americanas

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!