Varejo de moda ainda crê em chegada do inverno para acelerar demanda

As temperaturas acima da média para o período foram destaque nas conversas entre investidores, analistas e empresas nas apresentações dos balanços do primeiro trimestre

Por , Valor — São Paulo


Sol, calor, mudanças climáticas Elisa Stone/Unsplash

O varejo de moda vem tentando manter uma visão otimista para a venda de produtos de outono e inverno, apesar de o calor não ter dado trégua.

Analistas que estiveram com o comando das companhias nas últimas semanas afirmaram que a demanda por itens de vestuário melhorou em maio, puxado pelo Dia das Mães, e elas acreditam que ainda é possível compensar o efeito do clima quente com a venda de produtos de meia estação até o fim do inverno.

O outono está em sua fase final, já que a estação termina na sexta-feira (21), com temperaturas acima da média para o período, e a questão já foi destaque nas conversas entre investidores, analistas e a empresa, no balanço do primeiro trimestre de 2024.

Em encontro, dias atrás, entre a equipe de análise do Goldman Sachs e a linha de frente da C&A, a empresa disse que as vendas no varejo haviam acelerado no final de maio, e que a companhia tem, pelo menos, até agosto para desovar as mercadorias de outono e inverno.

Há um risco se a varejista “virar” os próximos meses estocada, e, nesses casos, as lojas retiram a coleção dos pontos de venda, e guardam em armazéns para o próximo outono/inverno.

Em sua maioria, são coleções sem “prazo de validade”, como se costuma dizer nesse mercado. Mas mesmo assim, a mudança do clima de forma acentuada tem sido foco de atenção da empresa neste ano.

“O produto de inverno é vendido no período de abril a agosto, o que significa que um importante período de vendas ainda está à frente deles”, disse a equipe de análise do banco, ao comentar as declarações da C&A.

Outra companhia que pode driblar esse efeito nocivo das altas temperaturas, na visão do Citi, é a Renner.

A empresa disse a investidores, em maio, que o clima de abril e maio não ajudou a coleção de outono-inverno e analistas do Citi disseram, em recente relatório, que as enchentes no Rio Grande do Sul também devem ter impacto significativo para a varejista nos números do segundo trimestre. Mas o Citi acredita que a melhora mais ampla no ciclo de crédito na companhia é suficiente para dar tração à retomada da varejista neste ano.

Varejo alimentar: físico x digital

Os bens de consumo no segmento de não duráveis estão ganhando participação nas vendas do comércio eletrônico, mesmo passada a pandemia, quando essa demanda havia crescido.

O tema foi destaque de apresentação da NielsenIQ, empresa de pesquisas, e de relatório de analistas de bancos.

Ocorre que, durante a covid-19, essa demanda acelerou, como era de se prever, e havia uma expectativa de um arrefecimento passada a pandemia. Até ocorreu uma desaceleração na venda passada a crise sanitária, mas isso foi leve, porque o brasileiro se acostumou a comprar, pela internet, mercadorias de menor valor, como alimentos e bebidas.

O forte apoio às ações de venda por parte dos fabricantes também tem peso nesse desempenho, além do esforço de venda das redes varejistas.

“O comércio eletrônico continua ganhando penetração no Brasil, via produtos eletrônicos e de outras categorias”, escreveu em relatório, na semana passada, a equipe de analistas do BTG Pactual, liderada por Luiz Guanais.

“Isso [tem ocorrido] também por meio de bens de consumo rápido (comida e bebidas, cosméticos e perfumes, moda e acessórios, saúde, casa e decoração)”.

Guanais cita um estudo da NielsenIQ, publicado na semana passada, que mostra que 35% das famílias compraram em algum aplicativo, como iFood, Carrefour, Mercado Livre e Pão de Açúcar , pelo menos uma vez no ano passado.

Shoppings em ano aquecido

Operações de emissão de dívida e compra de ativos no mercado de shopping centers estão aquecidas, e a razão para isso está no fato de este ser um setor resiliente às instabilidades econômicas.

A perspectiva é que novas operações de grandes grupos de capital aberto continuem a ser anunciadas, dizem especialistas.

Por exemplo, em maio, a Multiplan, uma das maiores empresas do setor para classe de média renda, anunciou uma emissão de R$ 300 milhões em Certificados de Recebíveis Imobiliários lastreados em debêntures simples, não conversíveis em ações, da 13ª emissão.

O dinheiro obtido com a operação será utilizado na construção, aquisição de direitos, expansão, desenvolvimento e reforma de imóveis e empreendimentos imobiliários.

A companhia encerrou o primeiro trimestre com lucro líquido consolidado de R$ 267 milhões, 28,9% acima do verificado no mesmo período do ano passado.

Também em maio, o fundo imobiliário XP Malls concluiu uma emissão de cotas, em captação recorde para o veículo, no valor de R$ 1,8 bilhão. Parte do valor deve ser aplicado na aquisição de shopping centers em São Paulo e numa participação na compra do RioSul.

No caso de São Paulo, a transação envolve seis shoppings que pertenciam à Syn, antiga Cyrela Commercial Properties — entre eles o shopping Cidade São Paulo, na Avenida Paulista, e o Grand Plaza.

Mais recente Próxima Energisa vê espaço para entrar no mercado de transporte de gás carbônico, afirma presidente

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!