Simpar muda e vai buscar geração de valor

Holding diz que fase de investimentos pesados acabou e foco é ampliar retorno aos acionistas

Por — De São Paulo


Simões, presidente da holding: “Vamos buscar extrair mais de todos os negócios” — Foto: Divulgação

Com os R$ 7 bilhões investidos em 2023, a Simpar encerrou o ciclo de grandes aportes voltados à estruturação de seus negócios e agora deve buscar maior retorno aos acionistas. O objetivo nesta nova fase é captar os ganhos de eficiência das suas oito controladas, aproveitando a estrutura que foi construída, principalmente, nos últimos cinco anos. A expectativa é que a mudança resulte no pagamento de dividendos maiores, nos médio e longo prazos, e melhore a avaliação das suas ações na bolsa.

Controlador de três empresas com papéis na B3 - JSL, Movida e Vamos - e de mais cinco de capital fechado (Automob, CSBrasil, CSInfra, Ciclus Ambiental e BBC), o grupo investiu, nos últimos três anos, perto de R$ 30 bilhões, principalmente para estruturar os negócios das companhias abertas e da Automob. Cerca de 98% desses recursos foram para compra de carros, caminhões e equipamentos. Além das 26 aquisições realizadas desde o segundo semestre de 2020 pela JSL, Movida, Vamos e Automob.

Essa estratégia de crescimento levou a companhia a uma alavancagem no fim de dezembro de 3,7 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês). Esse índice era de 3,5 vezes no fim de 2022, ano que o grupo investiu o recorde de R$ 13 bilhões.

Fernando Simões, presidente da holding, afirma que o processo de estruturação mais acelerado do grupo, iniciada em 2020 com a criação da Simpar, terminou. Os investimentos em ativos devem ser menores e a busca por aquisições, também, mas não significa que a Simpar vai deixar de procurar oportunidades, principalmente nos segmentos de transportes (JSL) e concessionárias de automóveis (Automob).

“Os últimos anos foram de construção da base. Agora vamos buscar extrair mais de todos os negócios. Parte do investimento realizado no ano passado, por exemplo, só vai gerar valor em 2024”, afirmou Simões. “Acredito num capex [investimento] menor daqui para a frente, mas não significa que o grupo não continuará crescendo.”

A Simpar fechou 2023 com receita líquida de R$ 35,5 bilhões, alta de 34% sobre o ano anterior. O Ebitda subiu 20% na comparação anual, para R$ 8,2 bilhões, e a receita líquida de serviços atingiu R$ 25,6 bilhões, crescimento de 36%. Mas o grupo reverteu o lucro líquido de 2022, de R$ 836 milhões, em prejuízo de R$ 280 milhões ao fim do ano passado.

Após a publicação do balanço do 4º trimestre e o fechado de 2023 na semana passada, analistas de bancos destacaram que os números vieram dentro do esperado, mas com desempenho ainda fraco dos seminovos da Movida e maiores níveis de depreciação, além de vendas fracas de Vamos nas concessionárias em meio à desaceleração do mercado de caminhões e equipamentos. Os pontos positivos foram os desempenhos da Automob e da JSL.

“Olhando para o futuro, Vamos e Movida já indicaram melhoria nas performances operacionais no primeiro trimestre de 2024, o que deve beneficiar a Simpar no curto prazo. Além disso, a consolidação das atividades de gestão de resíduos não listadas do grupo, sob a recém-criada Ciclus Ambiental, também poderia abrir caminho para gerar valor nesta parte do negócio”, escreveu o analista Pedro Baptista, do Jefferies.

O crescimento e bom desempenho da Automob já a colocam como candidata a estrear na bolsa. Há tempos o mercado espera por essa oportunidade. A receita bruta do braço de concessionárias de automóveis da Simpar passou de R$ 700 milhões em 2020 para R$ 9,5 bilhões no ano passado. Mas, como é de seu perfil, Simões adota discurso conservador em relação ao futuro da controlada.

Desempenho fraco dos seminovos da Movida e vendas menores da Vamos impactaram o resultado da Simpar no 4º tri

“É uma opção sim [levar a Automob à bolsa]. Mas a listagem de uma companhia não pode ser o objetivo. Deve ser o resultado de uma trajetória. Nunca vamos abrir capital porque precisamos de recursos. Nem venda, nem IPO (abertura de capital), nem follow-on (oferta subsequente de ações) serão usados para reforçar capital. Temos de nos antecipar para não ter essa necessidade”, afirma. O caixa do grupo no fim de 2023 era de R$ 14,8 bilhões, incluindo linhas compromissadas não sacadas.

O esforço da Simpar em garantir maior retorno aos acionistas tem também o objetivo de valorizar suas ações. No ano, os papéis da holding caíam 26,79% até terça-feira (2), quando terminaram cotados a R$ 7,05. Nos últimos 12 meses acumulam queda de 5,49%.

Para Simões, o mercado ainda não entendeu que a Simpar é uma holding diferente. Ele defende que, ao contrário da maioria das holdings, com papel mais passivo nas suas controladas, a Simpar tem atuação mais próxima nas companhias.

“Cada empresa tem sua independência, seu presidente e sua estrutura. Tem suas metas para entregar. Mas o processo de aquisição, por exemplo, é definido pela holding. Isso evita que a direção das empresas se preocupe com isso, reduz o risco de vazamento e elimina o fator emoção”, diz.

Nos últimos relatórios, BTG Pactual, XP e Bradesco BBI recomendaram compra para as ações da Simpar, com preço-alvo entre R$ 17 e R$ 18,40. O Jefferies tem recomendação neutra, com preço-alvo a R$ 11.

Para 2024, Simões acredita que a trajetória de queda da taxa de juros vai continuar. “A redução das taxas torna vários projetos viáveis, deixa as pessoas mais dispostas a assumir financiamento e os bancos passam a oferecer mais crédito.” (Colaboraram Felipe Laurence, Cristiana Euclydes e Victor Meneses)

Mais recente Próxima Alunos da UFG ganham R$ 1,5 milhão com IA

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!