O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que nunca teve conversa com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sobre ser ministro “de nada”. “Eu nunca falei isso, nem o Tarcísio, em nenhum momento”.
Campos Neto: 'Não tenho pretensão de me candidatar a nada, nem ser político'
Segundo Campos Neto, ele não esclareceu este ponto antes por conta do período de silêncio do Comitê de Política Monetária (Copom). “Nunca tive nenhuma conversa com o governador Tarcísio sobre ser ministro de nada.”
Campos Neto disse que é muito amigo do governador desde o governo anterior e conversam sobre economia, como conversa com outros agentes, parlamentares e pessoas do governo. “As nossas famílias são próximas, então a gente tem uma amizade grande.”
O presidente do BC disse que com “o pouco que conversa sobre política” com o governador de São Paulo, “a minha percepção é que ele não é candidato agora”. Segundo Campos Neto, a mesma reportagem que veiculou isso também falou que ele tinha conversas com bancos “que eu nunca tive” e que iria montar algo de tecnologia.
“Obviamente, minhas áreas de atuação são tecnologia e finanças, então é bem razoável que em algum momento na minha vida no futuro eu queria fazer alguma coisa que junte tecnologia com finanças.”
Campos Neto disse que não tem pretensão de se candidatar a nada e nem ser político. Sobre o evento que participou em São Paulo, disse que teve três convites parecidos, um no Mato Grosso, do qual participou, e teve um convite pela prefeitura no Rio de Janeiro com estrutura parecida.
“Quando eu vou nesses eventos, entendo que minha presença é representando o Banco Central e que é um reconhecimento ao trabalho que o Banco Central fez nos últimos tempos.”
Lula
Durante a entrevista coletiva, Campos Neto também disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem direito de se manifestar sobre a atuação do órgão, mas afirmou também que debates políticos não são bons para o BC e que não cabe a ele entrar nessas discussões.
“O presidente da República tem todo o direito de se manifestar sobre o que está sendo feito no BC como em qualquer órgão", afirmou. “Não cabe a mim entrar em debates políticos.”
Ainda assim, Campos Neto disse que "entrar nesse debate político para o Banco Central não é bom". "Quando a gente olha o movimento e mercado em tempo real com os pronunciamentos [do Lula], o que se mostra é que você teve piora em preços de mercado", disse, sem mencionar o presidente, mas respondendo a uma pergunta que questionava falas recentes de Lula. "Quando você aumenta o prêmio de risco e a volatilidade, ele faz com que o trabalho do Banco Central fique mais difícil", afirmou.
Campos Neto disse que o BC "mostrou, tem mostrado e vai continuar mostrando" que toma decisões técnicas e reforçou que a última reunião do Copom teve grande "espírito de equipe, de coesão muito grande", diante da leitura de que isso seria importante para dirimir ruídos do lado da política monetária.
"Não cabe a mim ficar rebatendo temas políticos, cabe a nós fazer trabalho técnico", disse Campos Neto. "O tempo vai mostrar que o trabalho do BC foi técnico", afirmou, acrescentando que a meta do BC é "entregar inflação baixa, que é a melhor política social que podemos fazer".
Campos Neto também disse que não cabe ao BC "ficar falando se o fiscal melhorou ou piorou" e se referindo a medidas pontuais do governo. O que interessa, segundo ele, é como essas questões afetam variáveis macroeconômicas que são relevantes para o trabalho do BC e sua função de reação.
Campos Neto reforçou que houve um descasamento entre os números fiscais de curto prazo e as expectativas futuras por parte dos agentes. Além disso, observou, há desancoragem das expectativas de inflação.
"Essa dupla desancoragem fez com que o prêmio de risco tenha subido ao longo da curva", afirmou. "Obviamente tem ruído político que é inerente à fase que estamos passando", disse.
Mandato
Campos Neto disse ainda, durante a entrevista coletiva, que em nenhum momento falou que queria abreviar seu mandato, mas sim que era importante ter um tempo para o trâmite do novo indicado para a presidência da instituição. Ele ressaltou que é importante ficar até o último dia porque é o primeiro grande teste da autonomia.
“É importante que a autonomia tenha um valor institucional muito maior que o valor político e o valor do momento, o que significa que eu tenho como dever fazer uma transição suave independente de quem seja o sucessor e fazer isso de tal forma que fique claro que o Banco Central é um órgão técnico.”