Finanças
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Por , Valor — Manaus*


Cerca de 900 pessoas se deslocaram para Manaus, no Amazonas, neste início de semana para participar da Semana de Sostenibilidad, promovida pela unidade de investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o BID Invest. A escolha da cidade, segundo o CEO do BID Invest, James Scriven, foi levar o setor financeiro para o centro da pauta da Amazônia e do desenvolvimento sustentável.

Em entrevista ao Valor, Scriven explicou que há 20 anos o banco de desenvolvimento promove, a cada dois anos, a semana da sustentabilidade, com o objetivo de reunir especialistas, pesquisadores, ONGs, governos, setor financeiro e interessados nas pautas socioambientais dos países membros. Porém, a de 2024, diz, está com uma agenda particularmente importante: fazer uma chamada para potenciais parceiros de investimentos em projetos da região.

Em junho de 2023, o BID lançou a iniciativa Amazon Forever, um programa guarda-chuva para acelerar o direcionamento de recursos, em escala, para a região. “É uma plataforma para unir todos que querem ter um impacto positivo na região do Amazonas, tanto economicamente quanto ambientalmente”, conta Scriven. Ele destaca que o Brasil é o maior país, mas não o único, uma vez que a floresta se estende por mais lugares na América do Sul. A intenção da iniciativa é, por meio do diálogo entre vários atores, encontrar soluções criativas e viáveis para os problemas locais e, ao mesmo tempo, levar prosperidade econômica para as pessoas e ajudar as futuras gerações a se beneficiarem da Amazônia.

Para capitalizar os projetos da região, como parte do programa Amazon Forever, o BID Invest anunciou em conjunto com a International Finance Corporation (IFC, membro do Banco Mundial), na COP 28, em 2023, a Amazon Finance Network (AFN), rede que reúne instituições financeiras com o objetivo de aumentar os fluxos de investimento, mobilizar capital, promover a inclusão financeira, compartilhar conhecimento sobre soluções financeiras inovadoras e gerar sinergias com o setor público.

Scriven explica que, apesar de este não ser um projeto exclusivo do BID Invest, mas sim do grupo, ele faz parte de uma série de mudanças recentes na estratégia da instituição. Parte delas envolve o reforço financeiro para a área de dívida e equity para o setor privado, sob a alçada do Invest.

Na última conferência do organismo em março, em Punta Cana (República Dominicana), foi aprovado um aumento do capital disponível para o BID Invest da ordem de US$ 3,5 bilhões, acima até do que há hoje disponível (US$ 3,1 bilhões). “O BID sente e está convencido que o desenvolvimento não é apenas financiar governos, mas também financiar o setor privado. Quando setores público e privado se juntam, é quando o desenvolvimento realmente acontece no país”, diz.

Isso levou, segundo o executivo, a uma reinvenção do modelo de negócio, para um conceito que chamam de “originate to share”, que significa originar oportunidades de investimentos - em muitos casos absorvendo grande parte do risco -, para “compartilhá-las” posteriormente com outros investidores parceiros o financiamento da iniciativa, com o propósito de gerar maior impacto positivo.

A gestão de risco, então, começou a ser cada vez mais importante para o BID Invest. “A outra parte da equação é entender que tipos de risco devemos ser capazes de absorver ou tomar para que esses investidores possam entrar e o impacto seja maior”, diz Scriven.

O CEO do BID Invest, James Scriven — Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg
O CEO do BID Invest, James Scriven — Foto: Patricia Monteiro/Bloomberg

Um dos instrumentos financeiros que já estão no radar para minimizar os riscos de crédito, por exemplo, é o “blended finance”, que mistura capital não reembolsável (do BID Invest, por exemplo) com o que pode dar retorno financeiro a investidores. O instrumento já está sendo usado em alguns projetos, como os de infraestrutura. Em alguns casos, o banco aceita tomar o risco de construção e teste de tecnologia de grandes obras para, depois de prontas, os investidores entrarem no projeto.

O executivo tamb��m cita o hedge cambial anunciado pelo BID em parceria com o Banco Central e os ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente, no começo do ano, que visa diminuir o risco da volatilidade da moeda brasileira perante o dólar para facilitar a entrada de recursos no país.

“Nossa ideia é ser capaz de investir em todos os países que formam a base do Amazonas, mas, para isso, em lugares como Suriname e Guiana, precisamos ser capazes de assumir mais riscos”, comenta.

Scriven conta que, de setembro para cá, já estão no “pipeline” cerca de US$ 150 milhões em investimento sob o novo modelo de negócios, de coinvestimento.

Questionado sobre as ações do BID na recuperação econômica do Rio Grande do Sul, o CEO do BID Invest diz que o presidente do grupo, o brasileiro Ilan Goldfajn, esteve no país recentemente para lançar um pacote de recuperação de R$ 5,5 bilhões, sendo que, destes, R$ 1,5 bilhão já está sendo disponibilizado. Para que o dinheiro chegue ao setor privado, algumas formas são estudadas, como a capitalização de bancos locais que repassem empréstimos baratos a quem necessita se reconstruir ou sobreviver.

Scriven lembra ainda que, no caso do RS, o BID Invest deve ajudar na reconstrução da infraestrutura local. Ele lembra que, no mundo, há casos de desastres ou eventos extremos em que a organização postergou, por exemplo, por um período razoável, o pagamento dos juros e montante dos financiamentos, para que as empresas se concentrem em recuperar seus negócios.

O grupo também tem estudado ações como a troca de parte da dívida de países por preservação ambiental ou ações concretas na agenda socioambiental. Os dois grandes exemplos no mundo dos chamados “debt-for-climate swaps” ou “debt-for-nature swaps” são a ilha de Barbados e Equador.

Barbados fez, em 2022, um acordo para transformar US$ 150 milhões de dívida soberana em recursos para conversar os corais e o ambiente marinho local, protegendo da degradação promovida pelo turismo. Já o Equador, com apoio do BID e da americana Development Finance Corporation (DFC), aprovou a maior “conversão de dívida-por-natureza” no mundo, em 2023. A operação consiste em uma garantia de US$ 85 milhões do BID e um seguro de risco político de US$ 656 milhões da DFC ao Equador para compra da dívida pública existente em condições mais favoráveis, que diminui em US$ 1,13 bilhões o custo da dívida. Em troca, o governo equatoriano se comprometeu a preservar o arquipélago de Galápagos.

“Existem outras iniciativas que estão sendo discutidas com outros países. Nosso interesse específico é nos problemas climáticos e nos problemas sociais. Acreditamos que veremos muitos exemplos de ‘debt-for-nature swap’ e outros exemplos liderados pelo BID”, diz.

Scrivan comenta que a maioria das atividades do BID Invest hoje puxa para a área de dívida, mas ele acredita que o investimento com compra de participação acionária de empresas deve crescer com a nova estratégia da instituição. “É mais sobre o futuro do que sobre o passado do BID”, diz. O capital disponível para equity deve aumentar de US$ 50 milhões para US$ 300 milhões por ano com o novo aporte financeiro na divisão. “Quando você decide se você vai fazer dívida ou equity? É realmente uma conversa com o cliente sobre suas necessidades. Para muitos projetos, a necessidade é apenas o débito.”

*A jornalista viajou a convite do BID Invest

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