Os juros futuros encerraram a segunda-feira (3) em ligeira queda ao longo de toda a estrutura a termo da curva, impulsionados pelo recuo expressivo observado nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano (Treasuries). O ambiente externo, assim, acabou se sobrepondo ao pessimismo que segue predominando no mercado local, diante de uma nova rodada de piora nas projeções de inflação do Focus.
No fim da sessão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 passou de 10,395% do ajuste anterior para 10,38%; a do DI para janeiro de 2026 oscilou de 10,79% para 10,785%; a do DI para janeiro de 2027 recuou de 11,145% para 11,13% e a do DI para janeiro de 2029 caiu de 11,625% para 11,595%.
Perto do horário de fechamento local, o rendimento da T-note de 10 anos exibia recuo firme e caía de 4,502% para 4,395%, após dados abaixo do consenso do índice de gerentes de compras (PMI) do setor industrial do país.
O início do pregão, no entanto, foi de estresse para os ativos do mercado de juros e as taxas dos DIs chegaram a avançar 10 pontos-base na primeira hora de negócios. A dinâmica ocorreu diante da nova rodada de piora nas expectativas de inflação de 2024, 2025 e 2026 no Relatório Focus.
O documento semanal do BC mostrou que a mediana da estimativa do IPCA para este ano subiu de 3,86% para 3,88%, enquanto a projeção para 2025 saiu de 3,75% para 3,77% e a de 2026 foi de 3,58% para 3,60%. Além das projeções de inflação, houve mudança nas estimativas de Selic para o fim deste ano, que saíram de 10% e foi para 10,25%. De acordo com essa leitura, o Comitê de Política Monetária (Copom) teria espaço apenas para mais um corte na taxa, no patamar de 0,25 ponto percentual.
O movimento, inclusive, voltou a ser pauta da reunião entre o Banco Central e economistas realizada na manhã desta segunda. Segundo relatos de participantes ao Valor, que falaram em condição de anonimato, o consenso é de que o espaço para novos cortes de juros pelo Copom já terminou e a Selic deve encerrar o ano aos 10,50%.
No entanto, é provável que o ciclo de cortes de juros seja retomado por volta do segundo trimestre do ano que vem, impulsionado por uma melhora do ambiente externo. “Foi bem consensual a visão de que o ambiente externo no ano que vem vai permitir a retomada dos cortes na Selic. Mas que, no curto prazo, a desancoragem das expectativas está atrapalhando muito o Banco Central e deve dificultar a convergência da inflação para a meta”, apontou um dos profissionais presentes no evento.
Em meio à recente piora dos mercados locais de juros, o J.P. Morgan reiterou a manutenção de posições construtivas em ativos brasileiros, diante da avaliação que há um pessimismo exagerado já embutido nos preços locais.
“Atribuímos o desempenho ruim principalmente a uma deterioração no sentimento dos investidores locais. Uma combinação de fatores, incluindo uma revisão da meta de saldo primário de 2025, a disputa sobre os dividendos da Petrobras e a decisão de política monetária dividida do BCB em maio, em que houve uma clara divisão entre os membros do conselho nomeados pela administração atual e pela anterior, contribuíram para a piora do sentimento”, afirmam.
Nesse contexto, o J.P. Morgan manteve recomendação de exposição acima da média de mercado em juros do Brasil em moeda local e também reiterou sua posição aplicada — que ganha com a queda das taxas — no DI para janeiro de 2026, com entrada em 10,72%, alvo aos 9,25% e revisão aos 11,25%
“A precificação pelo mercado de altas de juros para este ano e para o próximo parece excessiva, dada a situação real da inflação, ao mesmo tempo em que o posicionamento mais limpo, tanto por parte dos locais quanto dos estrangeiros, reforça nossa visão sobre as apostas aplicadas na parte curta da curva”, afirmam.
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