A CBMM, fabricante de produtos de nióbio controlada pela família Moreira Salles, e a Volkswagen Caminhões e Ônibus apresentaram, nesta quarta-feira (19), o protótipo do e-Bus, primeiro ônibus elétrico do mundo equipado com uma inovadora bateria de íons de lítio com nióbio, desenvolvida pela companhia brasileira em parceria com as japonesas Toshiba Corporation e Sojitz Corporation.
Participaram da cerimônia, no complexo industrial e de mineração da CBMM em Araxá, autoridades municipais, estaduais e federais, incluindo o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e executivos das companhias envolvidas no projeto.
Disponível no mercado em 2025
A principal vantagem do uso do óxido de nióbio em baterias (no polo negativo, ou ânodo) é o carregamento ultrarrápido, de10 minutos para veículos leves e 15 minutos para pesados, sem risco de superaquecimento e explosão.
A bateria à base de lítio deve estar disponível no mercado em 2025. Durante o evento, foi feita uma demonstração em tempo real de recarga do e-Bus, que foi concluída em 8 minutos e 37 segundos, abaixo dos 15 minutos estimados inicialmente e dos 10 minutos que vêm sendo obtidos nas operações mais recentes.
Esse é justamente um dos maiores desafios ao avanço da eletrificação na logística: o tempo de recarga estendido das baterias tradicionais, que levam grafite no polo negativo, o que significa deixar ônibus e caminhões sem rodar por períodos longos, elevando custos e exigindo frotas maiores. A recarga rápida, com essa tecnologia de nióbio, não compromete a vida útil das baterias. “A evolução desses materiais garante competitividade e qualidade às baterias”, disse o presidente da CBMM, Ricardo Lima.
Autonomia de 60 quilômetros
A companhia estuda desde 2014, com mais ênfase a partir de 2018, o desenvolvimento de materiais que elevem a performance de baterias. Em meados de 2018, fechou um contrato de pesquisa com a Toshiba, que culminou na tecnologia que equipa o ônibus elétrico montado pela Volkswagen. Com 10 mil quilômetros já percorridos, o e-Bus entra agora na fase de testes em operação real. A aposta das empresas é no uso desses ônibus para trajetos urbanos, dada sua autonomia de 60 quilômetros.
“O futuro é da mobilidade elétrica, em maior ou menor velocidade de acordo com as aplicações de nossos clientes e junto com outras tecnologias, como biocombustíveis”, disse o presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Roberto Cortes. “Mas eletromobilidade é o pilar principal para o futuro sustentável que planejamos promover.”
Entre outros investimentos, a parceria da CBMM com a Toshiba compreendeu a instalação de plantas-piloto de fabricação de células (no Japão) e do material ativo que vai na bateria (em Araxá), além de um laboratório na fábrica mineira voltado para materiais de baterias.
CBMM aposta em novas aplicações
Maior produtora de nióbio do mundo, a CBMM aposta no desenvolvimento de novas aplicações para o metal com vistas a ampliar seu mercado. Hoje, a maior parte do nióbio produzido pela empresa é aplicado na siderurgia, conferindo maior resistência ao aço. Mas seu uso em baterias, em meio aos esforços de eletrificação, e em nanomateriais também é crescente.
Para 2024, a companhia brasileira planeja investimentos de R$ 270 milhões em pesquisa e desenvolvimento, dos quais R$ 80 milhões direcionados para a divisão de baterias.
Brasil tem 90% da produção global e 95% das reservas
O Brasil ocupa posição de destaque no mercado global de nióbio, com cerca de 90% da produção global e 95% das reservas conhecidas do metal, segundo dados do Serviço Geológico Brasileiro (SGB).
A CBMM, por sua vez, pode produzir 150 mil toneladas por ano de ferro-nióbio, para um mercado que movimenta 124 mil toneladas anuais em todo o mundo — a companhia não comercializa o metal, mas sim produtos e tecnologias desenvolvidos a partir do nióbio.