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Por Marília de Camargo Cesar — De São Paulo


Sonali Patel: fundações estão atentas à justiça climática, intersecção entre clima e populações marginalizadas — Foto: Celso Doni/Valor
Sonali Patel: fundações estão atentas à justiça climática, intersecção entre clima e populações marginalizadas — Foto: Celso Doni/Valor

Conhecida por ajudar bilionários generosos como Bill Gates e Mackenzie Scott a escolher organizações idôneas para as quais fazer suas doações, a Bridgespan, uma consultoria americana de investimentos de impacto, está sondando o mercado brasileiro. “A filantropia do clima vai crescer significativamente nos próximos anos”, afirma Sonali Madia Patel, sócia do The Bridgespan Group em Nova York. “Vejo um interesse crescente por parte dos doadores e creio que esta é ‘a’ questão mais importante relativa à igualdade de nosso tempo”, disse ela, avaliando que o Brasil pode ser beneficiado por conta dessa agenda. “As pessoas menos responsáveis pela mudança climática são as mais afetadas por ela. Por isso o tema é cada vez mais importante para muitos filantropos.”

Organização sem fins lucrativos criada há mais de vinte anos em Boston, Massachusetts, pelo então diretor geral global da Bain & Company, Thomas J. Tierney, a Bridgespan chamou a atenção da mídia alguns meses atrás por ter assessorado e distribuído uma fatia considerável da fortuna da co-fundadora da Amazon e ex-mulher de Jeff Bezos, com patrimônio estimado em US$ 55 bilhões. Segundo a “Forbes”, Scott distribuiu US$ 9 bilhões desde 2020 para projetos sociais de boa reputação. No Brasil, por exemplo, Gerando Falcões, Instituto Sou da Paz, Brazil Foundation, Instituto Dara e Fundo Baobá foram algumas das instituições beneficiadas. Ao todo, nos últimos dois anos, a Bridgespan assessorou mais de US$ 10 bilhões em doações, que incluíram clientes como as fundações Bill&Melinda Gates, Rockfeller e Ford.

Patel esteve no Brasil este mês e foi uma das palestrantes do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, que aconteceu em São Paulo no dia 15, por iniciativa conjunta do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social e do Global Philanthropy Forum (GPF). Também veio para conhecer melhor o mercado de filantropia local, que cresceu expressivamente após a pandemia.

Especializada em desenvolvimento global, com ênfase em questões de equidade, e em mudanças climáticas, ela explica que a consultoria tem duas áreas principais de atuação: faz prospecção de potenciais donatários e traça estratégias de ação para os filantropos a fim de potencializar os efeitos das contribuições; e, do outro lado, capacita as ONGs para que tenham uma gestão mais profissional e eficiente, a fim de poderem também ser alvo das doações.

“Por não ter fins lucrativos e trabalhar apenas para cobrir seus custos, a Bridgespan pode prestar consultoria de forma mais econômica para as ONGs que não sabem como extrair o máximo das doações por não terem capacidade de recrutar e treinar pessoas para fazer a organização crescer”, afirma Stefano Bridelli, chairman da Bain & Company América do Sul. Segundo Bridelli, por terem laços históricos de parceira, a Bain está assessorando a Bridgespan nesta fase “exploratória” no Brasil.

A organização iniciou há sete anos um processo de expansão internacional ao entrar na Índia, África do Sul, quatro anos atrás, e em Cingapura, há dois anos. Agora, ao olhar para o resto do mundo no que Patel chama de “Sul global”, o Brasil entra no radar.

Segundo a sócia da Bridgespan, algumas fundações “estão olhando mais para a chamada justiça climática - a intersecção entre clima e as populações marginalizadas - e aí entram moradores em regiões como o Ártico, a Amazônia e a Oceania. Outros pensam mais em como frear o desmatamento, um doador com quem trabalho, por exemplo, doou recentemente para a SPDA (Sociedad Peruana de Derecho Ambiental) - que trabalha para impedir o desmatamento na parte peruana da Amazônia. Desmatamento é definitivamente um grande tema para os filantropos e creio que vamos ver um aumento das doações para essas causas.”

Patel não acredita que fatos negativos como o assassinato do jornalista inglês Don Phillips e do indigenista Bruno Pereira, em junho, na Amazônia, inibam o movimento de doações internacionais para a região. “Não creio que os filantropos vão parar de investir em soluções para a mudança climática por causa disso, mas creio que a notícia eleva a necessidade de proteção para as pessoas que trabalham nas linhas de frente.”

Para as organizações interessadas em ser foco da generosidade dos filantropos globais, Patel dá duas dicas. Primeiro, a necessidade de obter uma “equivalency determination”, que, em português poderia ser traduzida como uma “equivalência documental”. Trata-se de uma documentação que inclui, entre outros, relatórios detalhados de atividades e balanços financeiros para que o donatário esteja legalmente apto a receber doações de indivíduos ou instituições americanas. “Tecnicamente qualquer escritório de advocacia pode fazer esse levantamento e leva em média seis semanas”, diz.

Outra necessidade é ter o que Patel chama de “theory of change”, outra expressão bem americana que define a descrição abrangente por parte da ONG de seus objetivos de transformação social de longo prazo, os impactos esperados e como ela espera alcançá-los. “Sempre que mapeamos as ONGs em busca de oportunidades de investimento, o que nós olhamos é se elas têm um bom registro e rastreamento de suas atividades, se estão focadas em sua missão, em seu modelo de ação e no impacto promovido. Para muitas ainda é difícil ter como medir esses resultados, mas esse histórico é muito importante para os potenciais doadores.”

Stefano Bridelli observa que tamanho é importante para o doador. “Eles preferem colocar dinheiro em estruturas que tenham resiliência e capacidade de ir para frente. Muitas vezes o tamanho das nossas iniciativas é relativamente pequeno em relação ao que eles encontram em outros mercados”, afirma. Para o chairman da Bain, as instituições também devem ter em mente que para crescer e se profissionalizar é necessário investir em “gente mais qualificada, pessoas bem pagas e que enxerguem a filantropia como um caminho perene. Ninguém pode fazer filantropia sem ganhar nada. Se você não paga não consegue atrair gente de qualidade e que possa ficar. A Bridgespan tem esse olhar também.”

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