Entender uma empresa do ponto de vista de seus colaboradores é tendência que ganha cada vez mais espaço no mundo corporativo. Nesse cenário, o uso de dados tem sido um dos principais recursos para compreender e prever comportamentos, ajudando efetivamente gestores na tomada de decisões. É o que se chama de “people analytics”, recurso que avança como apoio com importância crescente para a gestão de pessoas.
Fernando Ladeira, diretor da unidade que concentra as soluções para gestão de pessoas na Falconi, elenca situações em que cada vez mais os dados são usados na relação entre empresa e colaboradores: seleção de profissionais, avaliação de desempenho e gestão de turnovers.
Contudo, pesquisas apontam que muitas organizações não os adotam por falta de uma cultura orientada a dados e pela dificuldade de integrar sistemas de coletas de dados, apontada como causa para o não crescimento dos recursos que facilitariam a utilização.
“O executivo de Recursos Humanos muitas vezes se depara com informações que não ‘conversam’ entre si. Tal situação pode levar alguns gestores a ‘errar a mão’ na gestão de talentos em busca de um alto desempenho. Ou seja, buscam performance, mas não estão gerando valor, porque as pessoas não estão felizes. Esse é um dos maiores desafios que várias empresas enfrentam hoje: o equilíbrio entre o que é bom para as pessoas e para os negócios”, diz.
Mudanças na área de RH
Nos últimos anos, o RH tem passado por uma profunda transformação digital. A pandemia acelerou a adesão crescente a tecnologias que permitem, por exemplo, o recrutamento à distância. Ajudam, também, a lidar com alguns dos principais pontos de atenção no mundo corporativo: como aumentar o engajamento de seus colaboradores e, sobretudo, como mantê-los na empresa. O uso de dados permite definir, com precisão, ajustes para evitar uma “fuga” de profissionais.
Um dos principais combustíveis para esse movimento veio de startups dedicadas à gestão de pessoas: as HR techs. O HR Tech Pocket Report 2022, relatório elaborado pela plataforma Distrito, revela que as HR techs vêm acelerando: até maio deste ano (mês de finalização da coleta de dados) foram contabilizadas 408 startups dedicadas a soluções para a área de Recursos Humanos no Brasil – mais da metade, nascida nos últimos sete anos.
O volume de investimentos também está em aceleração. Em 2021, foram US$ 241,3 milhões em aportes. Apenas nos primeiros cinco meses deste ano a cifra alcançada já é de US$ 219 milhões. É nesse cenário de mais tecnologia e consequentemente mais dados que surgem as soluções de people analytics. O que fazer com todos esses dados?
People analytics na prática
Quando um funcionário deixa a empresa, explica Ladeira, perde-se conhecimento e gera impacto na produtividade, nas vendas e na geração de negócios e valor. Como exemplo de integração e interpretação de dados por meio de ferramentas de people analytics, o especialista fala sobre um projeto para unidades de uma multinacional no setor de alimentos nos Estados Unidos e no Brasil. “O objetivo é analisar os dados e gerar insights para antecipar decisões sobre turnover – o que é algo de vanguarda até mesmo no mercado americano.”
Ladeira cita também o exemplo de uma empresa de call center com 60 mil posições: “Ao longo de 12 meses, o uso de people analytics permitiu o cruzamento de dados que possibilitou entender melhor a realidade dos colaboradores, o impacto de suas decisões e, por fim, fazer ajustes para reduzir problemas como o absenteísmo e o turnover. Como consequência, faltas diminuíram 30%, e o turnover teve baixa de 71% em nove meses”.
Bons resultados como consequência
A compreensão do que mostram os dados, se o processo for bem executado, pode revelar informações que até então passavam despercebidas pelos gestores. Pode, também, possibilitar uma nova leitura de informações, antes interpretadas de forma equivocada. É o caso, por exemplo, do tema da diversidade e inclusão. Os recursos de people analytics permitem saber quão diversa é, de fato, uma empresa e quais os resultados quando se valorizam times formados por diferentes perfis.
Ao conseguir consolidar uma cultura corporativa baseada em dados, empresas acabam por obter bons resultados nas mais diferentes frentes. “Análises preditivas, baseadas em grandes volumes de dados, permitem apontar informações relevantes quanto ao absenteísmo e ao turnover, por exemplo”, conclui Ladeira.