Divã Executivo
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Por Gilberto Guimarães

Gilberto Guimarães é professor e diretor da GG Consulting. Faz treinamentos sobre gestão de mudanças, desenvolvimento de talentos e liderança positiva.


>> Envie sua pergunta, acompanhada de seu cargo e sua idade, para: diva.executivo@valor.com.br

"Me formei em engenharia química há mais de dez anos, mas nunca trabalhei na área. Sempre atuei na área administrativa de empresas e, recentemente, comecei a me interessar novamente pela engenharia. Tenho vontade de começar uma carreira na área, mas não tenho contatos e nem experiência - apenas alguns conhecidos distantes da época da faculdade. O que é possível fazer?" Gerente de vendas, 35 anos

Essa busca por novas experiências profissionais tem se tornado cada vez mais frequente. Basicamente, as pessoas se percebem insatisfeitas com o que fazem e com o que estão vivendo. As pesquisas recentes têm mostrado que os indivíduos demonstram uma profunda infelicidade com seu trabalho e com sua vida. Mesmo aqueles que dizem gostar do que fazem, não encontram felicidade e “bem-estar” no trabalho.

No entanto, feliz ou infelizmente, a grande maioria das pessoas acaba se acostumando com as situações, por piores que sejam. O receio das mudanças, e uma certa dose de inércia, acabam prevalecendo e as pessoas são levadas a permanecer em empregos que já não despertam paixão ou que não as levarão a lugar algum.

De fato, pode ser arriscado sair de um emprego estável para tentar uma nova carreira. Em tempos difíceis, de crise, sempre vale o velho ditado popular que diz ser “melhor o certo de que o duvidoso”. Por outro lado, se você está, de fato, muito insatisfeito e não está vislumbrando boas perspectivas nem na empresa em que trabalha, nem no cargo que exerce, talvez seja mesmo a hora de mudar.

O momento e a sua idade facilitam pegar uma bifurcação na evolução da carreira. O risco de você enfrentar alguma dificuldade em encontrar uma oportunidade na nova área de atuação existe, mas não deve ser um fator impeditivo para a troca. Você deve trocar. O que importa é o prazer de poder fazer o que mais gosta e com quem mais gosta. Isso é fundamental não só para a produtividade, mas também para a própria felicidade.

Colunista afirma que a busca de um propósito e de um sentido na vida é uma necessidade humana universal, e que a coerência entre esse sentido e o significado do trabalho é fundamental para o indivíduo — Foto: Freepik
Colunista afirma que a busca de um propósito e de um sentido na vida é uma necessidade humana universal, e que a coerência entre esse sentido e o significado do trabalho é fundamental para o indivíduo — Foto: Freepik

É hora de dar um passo para trás para dar dois pulos para frente. Mas nada de sair feito um louco sem ter alguma oportunidade já acertada. Antes, é preciso tomar um pouco de distância do dia a dia, partir para a descoberta das suas motivações mais profundas e refletir sobre o que fazer para tentar reencontrar o prazer no trabalho.

O passo inicial é definir os seus objetivos de vida, seus propósitos, e o que significa o trabalho para você. A busca de um propósito, um sentido na vida, é uma necessidade humana universal e a coerência entre esse sentido e o significado do trabalho é fundamental. O trabalho nos fornece a possibilidade de construir uma ideia e um sentido para nossa existência. Uma razão de ser. A partir dessa definição, pode-se buscar um processo de reorientação para construir um projeto de vida e de carreira mais realista.

O processo de reorientação é basicamente um apoio à definição de um projeto de vida e de carreira que aproveite e amplifique as características e competências pessoais. Em outros países, como no Canadá, por exemplo, escolas e empresas disponibilizam para as pessoas a possibilidade de terem o apoio de profissionais - consultores em orientação de carreira - para fazerem um balanço de competências e elaborarem um projeto de vida e de carreira.

Desde as primeiras escolhas, nas escolas, as crianças, em conjunto com os pais, passam por processos de avaliação para determinação de áreas e formas de atuação profissional que serão mais adequadas de acordo com o seu perfil comportamental. Com isso, as pessoas, na maioria dos casos, acabam trabalhando naquilo que mais gostam de fazer. Esse processo é aplicado também ao longo de toda a vida profissional, permitindo que cada pessoa possa avaliar suas possibilidades de mudanças significativas em sua carreira, como é o seu caso.

No Brasil, também temos profissionais treinados e formados em orientação profissional. É muito importante ter esse apoio na construção de sua carreira. Não se deve fazer escolhas aleatórias, baseadas apenas em desejos ou em insatisfações.

Definir o futuro apenas por um nome de cargo ou profissão é muito limitante. Dizer que quer ser um advogado, um médico ou engenheiro, por si só não basta, porque não define o que, e o como, se vai atuar. Um advogado trabalhista atua de forma muito diferente do que um tributarista ou um criminalista. Um médico cirurgião tem um perfil totalmente diferente de um pediatra.

A construção de uma carreira é um processo profundo que envolve ao mesmo tempo conhecimento das necessidades e das tarefas das empresas e conhecimento das capacidades, competências e desejos dos indivíduos. A conciliação dessas duas esferas implica uma atitude crítica, reflexiva e real com relação àquilo que o mercado espera dos profissionais e àquilo que o próprio indivíduo espera de si mesmo.

Uma carreira profissional é construída a partir de um projeto estruturado sobre três diretrizes básicas: atendimento das necessidades das empresas (o que elas precisam); utilização das competências e habilidades (o que se sabe fazer), e satisfação das preferências pessoais de comportamento profissional (o que se gosta de fazer).

Já uma avaliação de adequação profissional se desenrola em três etapas: uma primeira, onde se faz um “balanço das competências”, uma seguinte, de avaliação das “preferências comportamentais”, em que se agrega uma avaliação das estratégias de comportamento e dos modos de atuação e, finalmente, uma estimativa da adequação entre os “comportamentos e conhecimentos” de cada pessoa e as necessidades de uma profissão, função, cargo, contexto, missão, equipe, etc.

Só após esta fase de avaliação e definição pode-se estabelecer um plano de ação para a evolução da atuação e da carreira, quer seja em um novo emprego, em um novo cargo, em uma atuação independente, ou mesmo na criação de negócio próprio. Finalmente, a partir de um projeto de vida e carreira estabelecido pode-se passar à fase de prospecção e busca de oportunidades.

O trabalho deverá ser organizado em função do projeto conforme as escolhas definidas. Para cada profissional, a solução e o caminho a percorrer são específicos. Não existe uma solução única, e é por isso que é importante realizar a busca sem critérios pré-estabelecidos. É pela exposição a todo um leque amplo de alternativas e possibilidades que nasce a construção realista de um plano de ação.

No seu caso, em que se busca uma troca de área e forma de atuação, é importante iniciar por um programa de adequação para a nova carreira. Acesse profissionais da área através das redes sociais. Se informe sobre a carreira deles, como entraram para esse mercado, como atuam, o que fazem, quais são as possibilidades e oportunidades.

Após isso, durante o processo de busca, é fundamental você fazer uma forte prospecção diária e sistemática de empresas e oportunidades nos setores considerados no seu projeto, não apenas pelo uso da internet, acessando sites especializados, redes de relacionamento e comunidades específicas, que são fatores importantes na busca de profissionais e de empregos, mas também buscando pessoalmente, atuando em sua rede de contatos e participando de eventos, palestras e treinamentos em sua nova área de atuação pretendida.

Participe de eventos, feiras e palestras ligadas à nova profissão. Nesse novo mundo, as redes sociais facilitam tudo. É importante usar o tempo disponível nesses eventos em busca de informações e atualização. Mantenha-se informado e visível.

Além disso, é essencial aprender a desenvolver a capacidade de superar as dificuldades comportamentais, a pouca “disponibilidade”, a baixa estimulação, os medos e sentimento de perda e fracasso. Achar novas oportunidades de trabalho exige persistência e otimismo. Divulgue seu projeto e seus objetivos. Conte para todo mundo o que você está buscando. Peça ajuda e conselho. Esteja disponível e proativo.

Mais cedo ou mais tarde uma chance vai aparecer. Agarre-a com unhas e dentes. Pode até ser que ainda não seja a oportunidade tão sonhada. Não importa. A partir desse primeiro degrau, você vai conseguir subir a escada inteira. Não tenha medo de fracassar. Errar faz parte do aprendizado. Todos aqueles profissionais que têm carreiras de sucesso, em algum momento, de alguma forma, passaram por situações difíceis em que as coisas não deram certo. O que eles fizeram foi tentar de novo, continuar. Portanto, se não der certo da primeira vez, insista, persista, continue tentando até dar certo.

Mas, preste atenção, pois existem duas armadilhas a serem evitadas: a de se autoflagelar afundando-se em culpas ou a de jogar toda a responsabilidade nos ombros dos outros ou da situação política e econômica.

É importante que você descubra a causa do fracasso e consiga se preparar para evitá-la nas próximas oportunidades. Seguir esse processo vai permitir que cada pessoa, que, como você, está buscando uma mudança profissional, possa encontrar sucesso em uma nova carreira que esteja efetivamente alinhada às suas preferências e à forma como pode e pretende atuar e se realizar como ser humano.

Finalmente, vale ressaltar que para ter sucesso na carreira as competências técnicas já não são suficientes. Agora, é preciso saber controlar as emoções, desenvolver empatia, compreender os outros, saber convencer, passar mensagens, e antecipar.

Claro, é também necessário saber construir uma rede de contatos. Vá em frente. Atuando em várias frentes, abrindo portas, se expondo nas redes sociais e sites especializados, fazendo e participando de palestras, usando todas as mídias, enfim, aproveitando todas as alternativas que esses novos tempos permitem, cedo ou tarde você vai achar seu novo caminho.

Gilberto Guimarães é diretor da GG Consulting e professor

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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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