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Por — O Globo, do Rio


Prefeitura de São Paulo quer 20% da frota de ônibus da cidade rodando com energia limpa até o fim de 2024 — Foto: Divulgação
Prefeitura de São Paulo quer 20% da frota de ônibus da cidade rodando com energia limpa até o fim de 2024 — Foto: Divulgação

O cumprimento das metas de descarbonização dos países passa também pelo esforço das cidades, algumas delas com metas próprias de redução de emissões. Faz parte desses esforços a busca de uma mobilidade urbana mais verde, o que inclui iniciativas de eletrificação da frota. Em algumas capitais do Brasil, a ambição inclui uma frota 100% sustentável já em 2050, embora ainda sejam poucos os municípios com planos concretos de descarbonização. Agora, o segmento se prepara para uma nova fase de estímulo com o programa Mover, que, embora ainda dependa do aval do Congresso, pretende estimular a produção de veículos movidos à eletricidade.

O primeiro passo ocorreu recentemente com o anúncio do BNDES de que financiará, com recursos do Fundo Clima e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), a renovação da frota de ônibus em municípios brasileiros. Ao todo, serão investidos R$ 4,5 bilhões para aquisição de 1.034 ônibus elétricos e 1.149 ônibus Euro 6, tecnologia que permite menor volume de emissão. Até agora, já foram selecionados projetos em oito municípios de cinco Estados.

Segundo Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, as cidades têm se esforçado para adotar ônibus elétricos em sua matriz, mas lembra que há uma série de desafios. “Os ônibus elétricos são 3,5 vezes mais caros que os movidos a diesel. Há ausência do valor de revenda, além de requisitos envolvendo a governança e a saúde financeira para operadores e municípios”, diz Luciana.

Entre as cidades, começam a emergir projetos em diferentes frentes. No Rio, onde o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) já é 100% elétrico, mais da metade dos novos ônibus adquiridos recentemente para o BRT contam baixa redução de emissão de gases poluentes. Em abril, a prefeitura lançou um edital para transporte aquaviário 100% elétrico entre os aeroportos do Galeão e Santos Dumont. As ações fazem parte do Plano de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática da Cidade do Rio para se adequar as metas do Acordo de Paris.

Outras cidades também vem acelerando seus projetos verdes. São Paulo já obteve um total de R$ 6 bilhões para viabilizar a aquisição de ônibus elétricos. A meta de substituição da frota de ônibus da cidade por modelos movidos a energia limpa é de 20% até o fim de 2024. Hoje, dos 12.019 veículos em operação na maior capital do país, 380 veículos são elétricos. “Os ônibus estão sendo entregues de acordo com a capacidade produtiva dos fabricantes envolvidos na construção de um ônibus elétrico, que envolve chassis, carroceria, baterias e outros elementos”, disse a prefeitura em nota.

Já em Curitiba os primeiros ônibus elétricos começam a circular até agosto deste ano. Nessa primeira aquisição serão 54 veículos, que fazem parte do projeto de eletromobilidade do transporte público da cidade e contam com R$ 380 milhões em investimentos. Será criada uma rede de recarga em pontos estratégicos da cidade numa segunda etapa. “A compra dos primeiros ônibus elétricos está alinhada ao compromisso de Curitiba em se tornar neutra em emissões e resiliente aos riscos climáticos até 2050”, Ogeny Pedro Maia Neto, presidente da Urbanização de Curitiba (Urbs).

Na outra ponta, a busca pela redução de emissões tem feito montadoras, distribuidoras de combustíveis e empresas de energia acelerarem investimentos na eletrificação de veículos com o desenvolvimento de novos motores e redes especiais de recarga. Hoje, a frota de veículos elétricos e híbridos no país soma menos de 1% do total e está bem distante de países da Europa e dos Estados Unidos, onde os modelos já totalizam entre 8% e 12% do mercado.

A chinesa BYD, por exemplo, está investindo R$ 5 bilhões na Bahia para produzir veículos 100% elétricos e versões híbridas a partir do primeiro semestre de 2025. Alexandre Baldy, conselheiro especial da BYD, lembra que a companhia chinesa olha o Brasil como a maior aposta depois da China, onde os veículos elétricos já somam 40% do total. Em paralelo, a empresa anunciou parceria com a Raízen para construir 600 eletropostos em oito cidades. “As políticas públicas são essenciais em todas as esferas para reduzir as emissões, elevar os investimentos e aumentar a competitividade”, afirma Baldy.

Roberto Cortes, CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, ressalta que a companhia lançou, em 2021, seu primeiro caminhão elétrico e que agora trabalha em um novo modelo, assim como iniciou o desenvolvimento de um ônibus, com início de produção no segundo semestre deste ano. “Também estamos com um estudo inédito no mundo para o desenvolvimento de baterias automotivas de nióbio. O importante em nossa estratégia é criar um ecossistema de apoio à essa transição tecnológica. Nele, não oferecemos apenas o caminhão, mas toda a infraestrutura necessária à sua operação.”

Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), destaca a importância da ampliação dos postos de recarga, cuja estimativa é sair dos atuais 4, 6 mil postos para 10 mil até 2025. “A infraestrutura de recarga ainda é pequena e concentrada na região Sudeste, mas isso pode ser superado com o avanço da tecnologia, a pressão regulatória e a competitividade do setor”, observa Bastos.

A Vibra, líder no setor de distribuição de combustíveis e energia, chegou ao fim do ano passado com 15 eletropostos nas rodovias, entre Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais. Clarissa Sadock, vice-presidente de energia renovável e ESG da empresa, diz que a meta é ampliar a rede de recarga para o resto do Brasil. “Nossa meta no curto prazo é conectar a região Sul e Sudeste do país, além de Estados no Nordeste e Distrito Federal. Queremos disponibilizar ainda o serviço de recarga de veículos elétricos em 25% da nossa rede de postos até 2030”, diz.

Segundo Sadock, as vendas dos veículos elétricos tendem a seguir em alta nos próximos anos. Isso porque, explica ela, as curvas de paridade de preço de veículos eletrificados e de combustão interna estão se aproximando, tornando a aquisição dos carros movidos à energia elétrica cada vez mais acessíveis. Porém, Sadock, prevê um cenário no Brasil de coexistência dos dois modelos, já que o país já está na frente globalmente na oferta de combustíveis menos poluentes, como a gasolina misturada com etanol e o diesel, acrescido de biodiesel. “O que vamos ver nos próximos 10 a 15 anos são os combustíveis líquidos ainda sendo muito demandados. O andamento da eletrificação do país é determinado, principalmente, pela indústria automotiva com base em suas estratégias de portfólio”, afirma.

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