Financiar a adaptação de cidades, governos, empresas e pessoas às mudanças climáticas é uma das prioridades do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na América Latina e Caribe. Segundo o presidente da instituição financeira, o brasileiro Ilan Goldfajn, não dá mais para esperar a redução de emissões de gases de efeito estufa, ação necessária para frear o aquecimento global, conforme dita o Acordo de Paris.
“Temos que trabalhar a resiliência à mudança climática”, destaca Goldfajn. “Estamos vendo os incêndios no Chile, as inundações no Brasil, no Rio Grande do Sul, a seca no Uruguai e na Argentina, os furacões na América Central e Caribe, em Acapulco. Temos um desastre natural por um mês, pelo menos, na região. O impacto é grande e não podemos mais ignorar”, comenta a jornalistas nesta quarta-feira (12) em Manaus.
Goldfajn está na capital amazonense para visitar projetos investidos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e participar da Semana de Sustentabilidade organizada pelo BID Invest e que conta com a participação de mais de 800 autoridades públicas, executivos, pesquisadores, especialistas e representantes de organizações não governamentais.
Segundo ele, há duas formas de trabalhar a resiliência climática. Uma delas é promover o uso de energia renovável, para diminuir as emissões de dióxido de carbono (CO2). A outra é preservar a floresta em pé, cujo papel é fundamental na absorção de CO2 da atmosfera.
“Não há como trabalhar a mudança do clima no mundo sem a América Latina e Caribe. E não há como trabalhar sem a Amazônia e isto está cada vez mais claro para todo o mundo”, diz. Goldfajn lembra que o BID criou ano passado o programa chamado “Amazon Forever” (“Amazônia para Sempre”, na tradução livre) justamente para jogar luz nas necessidades da região, entre elas de criação de emprego e renda.
Questionado pelo Prática ESG sobre o que significa promover desenvolvimento econômico e sustentável na Amazônia, gerando empregos sem ferir o meio ambiente, Goldfajn explica que ser sustentável não é focar “unicamente” no desmatamento.
“Focar unicamente no desmatamento e não incorporar as comunidades, as pessoas, não prover uma economia alternativa, não nos vai levar a uma forma sustentável. A sustentabilidade ambiental está associada com a sustentabilidade social e a sustentabilidade econômica, elas se combinam. Se as pessoas não tiverem o seu ganha-pão, o seu sustento, vai ser muito mais difícil preservar a natureza”, diz.
Ele acredita que a chave está no desenvolvimento de ações nas cidades amazônicas que aumentem a qualidade de vida da população, como investimento em infraestrutura, saneamento básico e geração de emprego.
Cita como exemplo dois projetos que visitou na própria quarta-feira (12): o trabalho de instalação de coleta de esgoto e oferta de água potável promovido pela Aegea, concessionária da cidade, em palafitas da comunidade Beco do Nonato, localizada em um igarapé dentro da cidade de Manaus; e o Prosamim, projeto administrado pelo governo do Estado do Amazonas de melhoria de moradia e reassentamento de populações vulneráveis que também vivem em igarapés da cidade.
“Eles aumentam a qualidade de vida das pessoas e, portanto, permite que a gente trabalhe também a floresta”, comenta Goldfajn.
O presidente do BID também visitou nesta quarta a fabricante de baterias UCB Power, na Zona Franca de Manaus, que está nas últimas tratativas para receber um financiamento da instituição e foi conhecer a sede do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e lançar oficialmente o início dos trabalhos da Rede Amazônica para Pesquisa e Inovação em Biodiversidade, composta por oito institutos. A organização recém-lançada receberá US$ 2 milhões do banco para desenvolver projetos de conservação e no desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia no Brasil e em outros países que abrigam a floresta.