Foi anunciado na terça-feira (18) o maior acordo envolvendo a compra de créditos de carbono estabelecido neste mercado até agora. O Timber Investment Group (TIG), braço do banco BTG Pactual para projetos de restauração florestal e comercialização de madeira, terá como cliente a Microsoft, que contratou um projeto de remoção de 8 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera até 2043, sendo cada crédito equivalente a uma tonelada. O valor do negócio não foi revelado.
Com o acordo, a Microsoft se consolida como impulsionadora do mercado de crédito de carbono no Brasil, tendo estabelecido projetos com outras empresas brasileiras, Mombak e re.green. No total, são 12,5 milhões de créditos contratados no país, que vão financiar projetos de restauração florestal em três biomas, Amazônia, Mata Atlântica, e agora com o TIG, Cerrado.
“A estratégia se concentra na conservação, restauração e plantio de propriedades desmatadas e degradadas em regiões selecionadas da América Latina, incluindo o bioma Cerrado no Brasil, um dos ecossistemas sazonalmente secos com maior biodiversidade do mundo. Aproximadamente metade do Cerrado já foi convertida para outros usos, e o bioma continua a enfrentar altas taxas de desmatamento impulsionado por commodities”, aponta o comunicado emitido pelo grupo.
Pela primeira vez nas últimas décadas, o Cerrado teve, em 2023, uma área desmatada superior à da Amazônia. Segundo o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), as atividades humanas no bioma emitem hoje entre 400 milhões e 500 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera por ano.
A Conservação Internacional auxilia o TIG no cumprimento de metas de biodiversidade e impacto social nos projetos, que incluem pesquisa no desenvolvimentos de florestas e também a capacitação de comunidades para o trabalho de coleta de sementes e plantio, entre outros serviços. A ONG faz essa assessoria também junto à Mombak.
O planejamento divide o negócio em duas frentes, uma exclusiva de restauração (135 mil hectares), e outra, em fazendas comerciais de madeira do TIG (mais 135 mil hectares). Em ambos os casos, as terras trabalhadas serão áreas degradadas. A transação foi estruturada de modo que 60% do total dos créditos de remoção de carbono sejam relativos ao sequestro de carbono em florestas nativas recentemente restauradas e 40% absorvido em fazendas comerciais, de cultivo de eucalipto.
Até o momento, o TIG investiu em 37 mil hectares, já plantou mais de 7 milhões de mudas e iniciou a restauração de aproximadamente 2,6 mil hectares de floresta natural. A estratégia do grupo é chegar a US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões) em restauração e reflorestamento na América Latina.
“Empresas como a Microsoft mostram como é a liderança climática corporativa. Em vez de recuar, eles permaneceram firmes em seu compromisso não apenas de identificar e apoiar projetos que possam gerar créditos de carbono de alta integridade, mas também de apoiar o crescimento do mercado de carbono de alta integridade no Brasil e em outros países da região., o que pode ter um grande impacto no clima”, afirma Mark Wishnie, diretor de sustentabilidade da TIG e chefe da estratégia de reflorestamento da empresa.
O apetite da Microsoft neste mercado está relacionado à meta de ser negativa em carbono até 2030 e, até 2050, de remover do ambiente todas as emissões operacionais históricas desde a fundação da empresa em 1975.
O TIG é um dos maiores gestores de áreas florestais do mundo, com US$ 7,1 bilhões (R$ 38,7 bilhões) em ativos e contratos, e quase 1,2 milhões de hectares sob gestão nos Estados Unidos e na América Latina.