Cultura, Design e Moda
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Por Nathália Geraldo, da Marie Claire

Um olhar atencioso para a natureza, para a própria cultura e para a indústria têxtil impulsionou a economista indonésia Denica Riadini-Flesch, de 33 anos, a migrar de trabalhos no Banco Mundial e no Fórum Econômico Mundial para um setor que até então desconhecia: a moda. A ideia parecia pouco provável, mas, há sete anos, ela está à frente da SukkhaCitta, marca que produz roupas na área rural de seu país, para, justamente, inovar no mercado fashion.

No centro do projeto estão mulheres de vilas em localidades como Java, Bali e ilha de Kalimantan. Para Riadini-Flesch, essas artesãs que trabalham para a marca são “as guardiãs da herança” de cada povoado. “O poder da marca não é ajudá-las, mas dar acesso à educação para que elas mudem as próprias vidas”, assinalou a empreendedora em uma coletiva virtual com jornalistas, na qual Marie Claire foi o único veículo brasileiro presente. “Em última instância, é assim que funciona nossa cultura, elas são guardiãs de uma herança que sustenta a Indonésia. Infelizmente, em todo o mundo as comunidades indígenas estão sendo forçadas a abandonar suas culturas, por causa do nosso sistema econômico. Mas, para mim, [o trabalho da SukkhaCitta] não é sobre nostalgia ou tentar preservar essa cultura, já que reconheço que ela é dinâmica. Mas dar a certeza de que essas mulheres podem ser ou não artesãs – e escolher isso não porque precisam competir com o fast fashion.”

No centro do projeto estão mulheres de vilas em localidades como Java, Bali e ilha de Kalimantan, elas são “as guardiãs da herança” de cada povoado — Foto: Divulgação/Rolex
No centro do projeto estão mulheres de vilas em localidades como Java, Bali e ilha de Kalimantan, elas são “as guardiãs da herança” de cada povoado — Foto: Divulgação/Rolex

Consumo descartável, exploração de recursos naturais e falta de gerenciamento sobre os efeitos dessas práticas no meio ambiente ainda marcam a indústria da moda. Segundo a Global Fashion Agenda, são gerados cerca de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano no mundo. A segunda maior indústria poluidora, atrás da petrolífera, diz a organização. Por isso, o projeto de Riadini-Flesch é mais do que uma exceção; é um exemplo.

A economista fala com orgulho sobre como traçou uma cadeia de vestuário dentro de uma economia “regenerativa”; ela não só pensa no impacto ambiental da produção -- que usa técnicas agrícolas tradicionais que já recuperaram mais de 30 hectares de terras degradadas, tingimento com corantes 100% naturais e algodão cru com rastreabilidade de produção –, como se preocupa com a qualidade de vida das artesãs, gerando autonomia financeira para elas. São, até agora, 400 pessoas impactadas pelo projeto, entre agricultores, tintureiros, artesãos, tecelões e costureiras, que tem escolas de técnicas têxteis.

A produção usa técnicas agrícolas tradicionais que já recuperaram mais de 30 hectares de terras degradadas, tingimento com corantes 100% naturais e algodão cru com rastreabilidade de produção — Foto: Divulgação/Rolex
A produção usa técnicas agrícolas tradicionais que já recuperaram mais de 30 hectares de terras degradadas, tingimento com corantes 100% naturais e algodão cru com rastreabilidade de produção — Foto: Divulgação/Rolex

Por conta dessa atuação, a SukkhaCitta integra o grupo dos cinco laureados pelo Prêmio Rolex de Empreendedorismo 2023, que financia projetos inovadores em áreas como ciência e saúde, meio ambiente e tecnologia aplicada.

A economista faz um alerta: se distancia da lógica da moda sustentável que, vez ou outra, é capturada pelo “discurso verde” que só se cumpre até a página dois, o famoso greenwashing. Para ela, até mesmo o termo “sustentabilidade” tem limites dentro do contexto socioambiental em que vivemos. “Pessoalmente, não acredito que exista algo como ‘moda sustentável’. Tudo o que produzimos causa impacto, seja no rastro material ou no rastro de carbono”, avalia.

“O que precisamos normalizar é, em vez disso, a moda responsável. É entender exatamente o que está por trás de algo: como foi feito, quem o fez e, o mais importante, em que condições? E realmente assumir a responsabilidade pelos impactos que criamos. Caso contrário, corremos o risco de isso ser apenas uma tendência de marketing.”

A expectativa para a SukkhaCitta é aumentar o trabalho: até 2030, chegar a 10 mil pessoas envolvidas e regenerar 1.000 hectares de terra — Foto: Divulgação/Rolex
A expectativa para a SukkhaCitta é aumentar o trabalho: até 2030, chegar a 10 mil pessoas envolvidas e regenerar 1.000 hectares de terra — Foto: Divulgação/Rolex

A prerrogativa de se perguntar “quem fez minhas roupas?”, disseminada por movimentos que repensam a moda, como o Fashion Revolution, é um dos diferenciais da SukkhaCitta, aponta a empreendedora. Isso porque, assim, as mulheres que costuram deixam de se sentir invisíveis. “Na Indonésia, quando você é mulher, se casa e tem filhos, é bom que consiga ter seu trabalho na vila, para cuidar de tudo. Uma das maravilhas é que elas têm o próprio lucro. Outra maravilha é que, no começo, os homens desencorajavam as esposas; agora, fazem parte do programa, as ajudam, porque viram como uma atividade econômica para as famílias.”

Com o apoio financeiro de 200 mil francos suíços (pouco mais de R$ 1 milhão) e de visibilidade global dado pela Rolex por meio da Iniciativa Perpetual Planet para a marca, a expectativa é aumentar o trabalho: até 2030, chegar a 10 mil pessoas envolvidas e regenerar 1.000 hectares de terra.

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