O livro mais famoso de Vladimir Nabokov, ao criar a palavra ninfeta, tocou num nervo sensível da sexualidade e deu ensejo ao diálogo com diversas outras artes. Dois filmes (um de Stanley Kubrick, magnífico porque concentrado na história, outro de Adrian Lyne, com um foco no erotismo que o torna raso como um pires), influência em diversas outras obras literárias como Presença de Anita, que virou série da Globo, e um punhado de canções, como Don’t stand so close to me, do The Police. Em tempos de pedofilia e de sexualização precoce da infância, o tema permanece mais atual do que nunca.
Aqui, duas leituras musicais opostas: Prince, bem no seu estilo, aposta na sensualidade, assumindo postura próxima do narrador da história, Humbert Humbert:
Lolita, you’re sweeter
but you’ll never make a cheater out of me
Prince ainda aproveita o fato de Lolita ser a corruptela do nome espanhol Dolores, e inclui diálogos em espanhol:
Aye, aye, aye, Papi, deja de hablar locuras
No es mi culpa que la mujer esta celosa
Ah, no, entonces deja el stress y comprame un trago
Lolita – Prince
(infelizmente, o vídeo foi apagado pelo YouTube por denúncia de violação de direitos autorais)
Já Suzanne Vega vai pelo lado radicalmente oposto. Assume uma postura quase maternal, e dá conselhos à menina:
Hey girl, Don’t be a dog all your life
Don’t beg for some little crumb of affection
Don’t try To be somebody’s wife
So young, you need a word of protection
Se Prince trata Lolita como adulta, Suzanne Vega a reconhece como criança:
Lolita, almost grown
Lolita, go on home
Lolita – Suzanne Vega
O arranjo de Prince é “quente”, e muito dançante. O de Suzanne Vega é “frio”, todo eletrônico. Talvez nenhuma das duas visões seja completa, talvez sejam complementares. Em seu segundo álbum, Madonna cantava, em um lado do LP, Material Girl; do outro, Like a Virgin. A duplicidade da ninfeta continua perigosamente fascinante. E tanto a arte quanto o marketing sabem aproveitar muito bem o tema. Ou se aproveitar do tema. Depende.