Folha de S. Paulo


Rec�m-al�ada a patrim�nio, regi�o de Champanhe vai al�m da bebida

Hautvillers � uma cidade de menos de 800 habitantes, onde h� um bar (o Au 36), um restaurante e uma via principal com n�o mais que cinco quil�metros de extens�o.

Ainda assim, 200 mil turistas aparecem por ali todos os anos. Por qu�? Bem, a resposta se v� do alto da cidadela, nas frestas abertas pelas vielas que cortam a rua central, e em mirantes estrat�gicos para o vale do rio Marne.

Para qualquer lado que se olhe h� vinhedos. Hautvillers, pequena que s�, sedia 30 produtores de champanhe, entre marcas pr�prias e cooperativas. E seus maiores s�mbolos est�o hoje ligados �s vin�colas: basta dizer que talvez o maior deles, a abadia de Saint-Pierre, � parte da estrutura da Mo�t & Chandon.

No lugar est� enterrado o monge Dom P�rignon, "pai" da bebida –ele chegou � cidade nos anos 1660 e morreu ali. A hist�ria de que foi ele a desenvolver o m�todo de fermenta��o que d� bolhas � bebida � mais uma lenda do que verdade comprovada, mas � certo que Dom P�rignon ajudou a aperfei�oar as t�cnicas de vinifica��o dos beneditinos.

Na prefeitura se contratam tours a p� para conhecer, em duas horas, essas hist�rias e o lugar, por � 7 (ou R$ 28, incluindo uma fl�te). Caminhando pela cidade, de ares romanos e um ou outro toque g�tico, fica-se sabendo, por exemplo, o significado das figuras nas l�minas de ferro expostas em muitas das portas.

As imagens (de mensageiros, escritores, funcion�rios colhendo uvas) serviam, s�culos atr�s, para indicar a um povo de maioria analfabeta o que se fazia em cada im�vel.

O champanhe, riqueza maior de Hautvillers, ganhou reconhecimento ainda mais not�rio em julho do ano passado, quando a Unesco indicou, entre os patrim�nios mundiais, a bebida e a cultura de sua fabrica��o.

AL�M DA FL�TE

Mesmo a prov�ncia de Champanhe-Ardennes sendo o cora��o da produ��o da bebida nacional francesa, � poss�vel passear por ela sem nem ouvir falar em ta�as, uvas, bolhas e fermenta��o.

Nas sub-regi�es de Marne e Haute-Marne, castelos, igrejas, museus e cidades medievais rivalizam com uma produ��o relativamente pequena de espumante, que d� lugar � de outras iguarias.

S�o famosas, por exemplo, as trufas de Haute-Marne –que chegam a custar � 300 (R$ 1.191) o quilo e podem ser "ca�adas" at� por visitantes, em tours (tourisme-hautemarne.com ), a partir de setembro.

Uma das atra��es mais visitadas � Langres, cidade cujo centro hist�rico � cercado por um muro de 3,5 quil�metros de extens�o (na verdade, 7, mas parte dele est� danificada, ent�o a conta considera s� o centro "de facto").

O circuito intramuros pode incluir paradas no museu dedicado ao enciclopedista Denis Diderot, nascido aqui, e na catedral de Saint-Mamm�s, erguida em 1150 (a fachada, reconstru�da em estilo neocl�ssico, data de 1768).

Tamb�m � praxe provar, nas "brasseries" e restaurantes, o queijo t�pico da cidade –h�, nos campos, 25 fazendeiros e tr�s grandes produtores. De sabor forte e consist�ncia cremosa, quase pastosa, ele tem cor alaranjada (usa-se �leo de urucum na produ��o).

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Lembran�as b�licas

Apesar de buc�licas, as cidades da prov�ncia de Champanhe-Ardennes guardam lembran�as de tempos b�licos. Dois dos principais museus locais t�m como tem�tica a Segunda Guerra.

Em Reims, um dos centros mais populosos da regi�o, entre dezenas de lojas e a imensa catedral de Notre-Dame, fica o pequenino museu da Rendi��o –est� l�, preservada, a sala onde foi assinado o acordo com os alem�es que p�s fim aos combates.

A duas horas dali, em Colombey-les-Deux-�glises, um memorial lembra um dos principais personagens do per�odo, o general Charles de Gaulle (que adotou a cidadezinha at� morrer, em 1970).

O acervo, amplo, rememora a vida e as batalhas do antigo primeiro-ministro. Vizinha ao pr�dio, uma gigantesca (44 metros) e de colora��o rosada cruz de Lorena, com duas barras horizontais, um dos s�mbolos de De Gaulle, marca a paisagem.

Na vila de 600 habitantes –fica o registro, � raro topar com um deles quando a noite cai–, de atra��o mesmo quase s� h� o restaurante do hotel La Montagne, com uma estrela "Michelin" (menu-degusta��o a partir de � 56, R$ 222), e a vista para a "Boisserrie" (corruptela de "bois" e "brasserie", bosque e cervejaria, j� que as duas coisas existiram ali), onde De Gaulle viveu.

Turistas tamb�m podem visitar, na regi�o, a cidade de Cirey-sur-Blaise, onde fica o castelo da marquesa de Ch�telet. Ali ela abrigou por 15 anos o amigo –e, provavelmente, amante– Voltaire, quando ele quase foi preso ap�s publicar "Cartas Filos�ficas" (o lugar chegou a estampar notas de franco ao lado da ef�gie do intelectual).

Na visita, pontos altos s�o os jardins, a ampla cozinha no subsolo e um miniteatro particular bem preservado, comum � �poca, raridade hoje.

O jornalista viajou a convite da Ag�ncia de Desenvolvimento Tur�stico da Fran�a


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