Folha de S. Paulo


Arquitetos e ag�ncias de publicidade explicam a influ�ncia (ou n�o) do ambiente na cria��o

Escrit�rios das grandes ag�ncias de publicidade s�o planejados para que a arquitetura e a decora��o mostrem o potencial criativo da empresa. Mas ser� que o ambiente influencia de fato na criatividade dos funcion�rios?

O arquiteto holand�s Rem Koolhaas, professor da Universidade Harvard e autor do projeto da nova sede da TV estatal de Pequim, na China, diz que n�o. E falou isso na frente de todo o mercado publicit�rio mundial, no �ltimo Cannes Lions.

Segundo ele, a decora��o e a arquitetura jovem de ag�ncias de publicidade e de empresas como Google e Facebook n�o t�m efeito comprovado como fertilizante de criatividade. E ainda mostrou fotos de seu pr�prio ambiente de trabalho, com mesas sem gra�a e bitucas de cigarro no ch�o.

As ag�ncias que foram ouvidas pela reportagem dizem que n�o se trata de passar uma imagem para o cliente, mas sim de reunir elementos estimulantes para a equipe. A ver: enquanto a Neogama revestiu sua fachada, em S�o Paulo, com fotos dos profissionais, a JWT, perto da av. Paulista, possui esp�cies da mata atl�ntica em um jardim de 500 m� projetado pelos irm�os
Fernando e Humberto Cam�pana.

Outro arquiteto holand�s, Theo van der Voordt, autor do livro "Arquitetura Sob o Olhar do Usu�rio", afirma que uma pessoa naturalmente criativa e motivada pode criar em qualquer lugar, mas pondera: "Ambientes planejados para a troca de ideias podem ajudar, sem contar que lugares visualmente enfadonhos n�o s�o boas alavancas para a criatividade".

Alexandre Gama, CEO da Neogama/BBH e executivo-chefe da cria��o global da rede inglesa BBH, tinha grandes pretens�es antes de instalar sua ag�ncia em um galp�o. "A ideia era que os arquitetos constru�ssem um lugar que inspirasse a pessoa a desempenhar seu trabalho de uma maneira diferente e melhor do que em qualquer outro lugar onde ela tenha trabalhado."

Para chegar l�, os arquitetos Andr� Vainer e Guilherme Paoliello transformaram o galp�o da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armaz�ns Gerais de S�o Paulo) em um megaescrit�rio de 5.000 m�, com apenas tr�s salas fechadas.

Por mais diferentes que esses pr�dios sejam, h� elementos recorrentes –um tipo de indicador de ambientes descolados. Quase todas as ag�ncias usam, por exemplo, cores fortes, seja nas paredes ou nos acess�rios.

"As ag�ncias de publicidade usam muito vermelho, amarelo e azul", diz a arquiteta Cristine Stuermer Coli, coordenadora do curso de design de interiores do Instituto Europeu de Design.

Recentemente, come�aram a surgir dentro das empresas espa�os chamados de descompress�o (esp�cie de ambiente para relaxar). "Na verdade, todos esses recursos n�o ajudam a ser mais ou menos criativos, e sim mais produtivos", diz a arquiteta Heloisa Dabus, especializada na elabora��o de ambientes corporativos.

Segundo ela, as ag�ncias est�o se adaptando a um novo estilo de funcion�rio. "Os jovens das gera��es X e Y n�o suportam ambientes s�rios e opressores. Por isso, as mesas perdem posi��o nas empresas para locais mais confort�veis. At� o ch�o do jardim est� valendo."

Ningu�m mais precisa trabalhar em um computador de mesa por horas a fio sentado na mesma cadeira.

Os escrit�rios est�o flex�veis. "Muitas vezes levo meu laptop para a mesa de piquenique do jardim da ag�ncia", diz Fernanda Fajardo, 35, diretora de cria��o da JWT. "Aqui sinto o cheiro da chuva, consigo ter contato com a natureza. Para mim isso d� felicidade e ajuda na minha produtividade", diz.

Al�m de aliviar a press�o, a flexibilidade do posto de trabalho aumenta a integra��o entre departamentos. "A �rea de caf�, que antes era considerada um local onde os empregados estariam jogando conversa fora, agora � valorizada", diz o arquiteto Guto Requena, autor do projeto do escrit�rio do Google no Brasil.

Quanto melhor for o conforto e o isolamento ac�stico, melhor ser� o desempenho da equipe. Al�m de mobili�rio adequado e de boa qualidade, os arquitetos procuram inserir elementos que fa�am lembrar o aconchego do lar.

"Cheguei a fazer uma forra��o do piso de uma empresa com uma estampa que parece toalha de piquenique, coloquei cadeiras de balan�o e at� redes foram espalhadas nos ambientes", afirma Requena.

Para ter a cara aconchegante de lar, a ag�ncia de publicidade Casa preferiu se instalar em um antigo sobrado, no Para�so, em S�o Paulo, que foi reformado para receber a empresa. O projeto enfatizou ainda mais essas caracter�sticas caseiras, conservando a cozinha original. Tem at� cachorro. Margot, uma golden retriever, � a mascote da casa.

"Sempre falo para os meus alunos que criatividade n�o cai do c�u. N�o adianta deitar numa rede e ficar esperando", diz Cristine Stuermer Coli. Mas, segundo ela, relaxar e "entrar numa certa descompress�o" ajuda a colocar as ideias no lugar e produzir com mais facilidade.


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