Folha de S. Paulo


Ap�s deixar cadeia, Garotinho diz que n�o � igual a Cabral

Z� Guimar�es/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 22-12-2017, Entrevista com os ex governador Antonhy Garotinho, solto na ultima quinta feira. Casa do politico, Flamengo, Rio de Janeiro. (Foto: Zo Guimaraes/Folhapress, FSP-PODER) ***EXCLUSIVO FOLHA****
O ex-governador Anthony Garotinho durante entrevista em sua casa

Depois de um m�s na cadeia, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR) afirma que n�o � igual ao ex-aliado S�rgio Cabral (PMDB), que continua preso.

Ele atribui a condena��o por crime eleitoral a uma vingan�a por ter acusado o sucessor de corrup��o.

"As diferen�as entre n�s s�o absurdas. Nele voc� encontra sinais contundentes de riqueza: barras de ouro, joias, mans�es, iates. Em mim, n�o", diz.

Apesar de rejeitar a compara��o, Garotinho repete argumentos usados pelo desafeto em depoimentos � Justi�a: diz que foi alvo de dela��es falsas e reconhece que � amigo de empreiteiros, mas nega ter pedido doa��es ilegais.

Ele tamb�m diz ter se inspirado em Nelson Mandela (1918-2013) na cadeia. No in�cio do m�s, Cabral se deixou fotografar com uma biografia do l�der sul-africano antes de um interrogat�rio.

O ex-governador recebeu a Folha de bermuda e chinelos em seu apartamento no Flamengo, zona sul do Rio. A sala estava decorada com bal�es vermelhos e a inscri��o "Bem-vindo, Garotinho. Te amamos" em letras de cartolina.

Sua mulher, a ex-governadora Rosinha Garotinho, fazia artesanato na varanda. Ela foi presa com o marido e libertada depois de uma semana, com tornozeleira eletr�nica.

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O senhor foi preso tr�s vezes em um ano. Por que acreditar que tudo � uma persegui��o?
Os fatos mostram isso. A primeira pris�o ocorre logo ap�s minha den�ncia na Procuradoria-Geral da Rep�blica. A segunda � no dia seguinte da audi�ncia de concilia��o com o desembargador Luiz Zveiter [ex-presidente do TJ-RJ], onde eu me recuso a me retratar das coisas que havia dito. A terceira logo ap�s eu protocolar e ter um encontro pessoal com a presidente do CNJ para entregar documentos que o comprometeriam. N�o tem como n�o ser isso.

N�o � uma estrat�gia de vitimiza��o? O senhor j� foi condenado.
A Opera��o Chequinho faz parte do mesmo enredo de prote��o.

Nesse caso a sua pris�o foi mantida por unanimidade no TRE.
O tribunal aqui � todo vendido. Est� todo aqui [na den�ncia].

Por que um empres�rio de Campos [Andr� Luiz Rodrigues, delator] faria parte dessa persegui��o?
Ele � o cidad�o que mais recebe da Prefeitura de Campos, comandada hoje por meu advers�rio. Ele foi perguntado se tinha alguma prova, disse que n�o se recordava de quanto tinha me dado. Isso n�o � dela��o.

Ele apresentou e-mail, notas fiscais, contratos supostamente fict�cios com a JBS.
O contrato n�o est� assinado [por representante da JBS].

Mas h� e-mails que comprovam a negocia��o.
Eu desconhe�o. Pressionaram ele, colocaram na frente de um delegado.

H� tamb�m den�ncia de um "bra�o armado" para intimidar empres�rios. O senhor conhece o policial civil aposentado preso?
Claro. Toninho � uma pessoa conhecida em Campos. Ele provavelmente contratou Toninho para sacar algum dinheiro alto dele. Normalmente empres�rio faz isso.

Por que ele faria uma dela��o premiada assumindo crimes para relatar amea�a?
Ele j� estava respondendo por sonega��o fiscal. � oferecido a ele a dela��o para que as investiga��es cessassem.

H� ainda o relato da atua��o de um empres�rio na organiza��o do caixa dois. O senhor conhece Ney Flores?
Ele � um empres�rio de Campos meu amigo, assim como v�rios outros s�o meus amigos. N�o tem nada.

Mas o senhor criticou muito Cabral pela amizade com o Fernando Cavendish. Qual � esse n�vel de amizade?
Qual o n�vel? A filha dele era quem respondia algumas coisas no meu Facebook. Nunca frequentei a casa dele, nunca sa� para jantar com ele. Mas vou dizer que n�o conhe�o o cara, com a filha dele trabalhando comigo? Creio fielmente que as duas a��es ser�o trancadas.

H� relato tamb�m de uma reuni�o em que o senhor teria pressionado empres�rios para doar R$ 5 milh�es.
Nenhum dos participantes dessa reuni�o confirma isso, a n�o ser [o deputado] Geraldo Pudim, que � meu advers�rio hoje e ligado ao [deputado afastado Jorge] Picciani, e o delator. V� se � cr�vel, se eu vou fazer um pedido de colabora��o numa mesa com um monte de gente. "Gente, eu preciso de R$ 5 milh�es". D� para acreditar? Houve essa reuni�o, mas o assunto n�o era esse.

O senhor est� lembrando o Cabral questionando os relatos de propina. Ele diz [ao juiz Marcelo Bretas]: "O senhor me imagina pedindo propina para um empres�rio"?
Ele [Cabral] diz para um empres�rio. O que eu digo � que n�o � cr�vel colocar cinco empres�rios numa mesa para pedir R$ 5 milh�es. E o delator � capaz de relatar palavras exatas tr�s anos depois da reuni�o.

Na Opera��o Chequinho, h� acusa��o de aumento no n�mero de beneficiados pelo Cheque Cidad�o em Campos.
Ele foi reduzido com a crise do petr�leo. Em mar�o, conseguimos recursos. Assim retomamos as obras e os programas sociais. Ent�o h� uma reinclus�o.

O senhor afirma ter sido agredido na pris�o. Por que, na sua avalia��o, esse caso n�o foi conclu�do?
O retrato falado estava 99% feito, s� faltava botar o nariz. A� d� pane no sistema, e nunca mais voltei l�. Cad� a per�cia das c�meras?
O pavimento onde fiquei tem tr�s galerias. A, onde eu fiquei inicialmente. A galeria B, desativada, e a C, onde est�o os presos da Lava Jato. No segundo dia de manh�, me avisam que eu vou para a galeria B. Fui para uma cela com apenas um colch�o, na parte de um beliche. De madrugada, sou acordado por uma pessoa que me chamou: "Psiu, psiu". Levantei e olhei. Ele disse: "Desce da�. Voc� gosta de falar muito, n�?". Ele deu uma paulada aqui [no joelho] muito forte. Depois apontou uma pistola dizendo: "Voc� n�o vai morrer hoje para n�o sujar para o lado do pessoal ali", apontando para a galeria do pessoal da Lava Jato. "Mas vou deixar uma lembrancinha para voc�". Ele vai e pisa no meu p�.

A delegacia e o governo dizem que o senhor se autolesionou.
A Seap [Secretaria de Administra��o Penitenci�ria] est� caindo em contradi��o porque instaurou um inqu�rito h� um m�s e a primeira pessoa a ser ouvida fui eu, ontem, antes de sair. Ela diz isso com base em qu�?

A sua pris�o, a da Rosinha, Cabral, Picciani, foram interpretadas como um s�mbolo da fal�ncia do Estado, sobre como o crime contaminou a c�pula do Rio.
Minha leitura � diferente. � o que ocorre h� dez anos no Estado. Finalmente os denunciados conseguiram a vingan�a contra o denunciante.

N�o � uma vitimiza��o?
Os fatos falam por si mesmo. As diferen�as s�o absurdas. Voc� encontra de maneira contundente sinais exteriores de riqueza em todas essas pessoas. Bois, fazendas, mineradoras do Picciani. Barras de ouro, joias, mans�es, iates do Cabral. De mim n�o encontra nada disso.

Caixa dois � um crime menor?
N�o, caixa dois � crime. Eles � que t�m de provar. Eu estou provando que n�o fiz. O �nus da prova cabe ao acusador. Diferente de muitos, sou a favor de dela��o premiada. Mas sou a favor como meio de obten��o de prova. Mas pegar a palavra de um cara sem nada, se torna instrumento de vingan�a.
Por que algu�m deve acreditar que o Garotinho est� falando a verdade? H� muito tempo eu disse que estava instalado no Estado o maior esquema de corrup��o do pa�s. � mentira ou verdade? Hoje est� tudo provado. Mere�o cr�dito ou desconfian�a?

O senhor que viveu no Pal�cio Laranjeiras, como se sentiu no Complexo de Gericin�?
Quem melhor definiu o que � estar na pris�o foi Nelson Mandela. Ele disse que, quando se est� na pris�o, deve pensar o seguinte: "Por que eu estou aqui"?


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