Folha de S. Paulo


Delator na Lava Jato diz que pagou propina de US$ 5 mi a Eduardo Cunha

Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente da C�mara, deputado Eduardo Cunha, d� entrevista em que nega as acusa��es de J�lio Camargo
O presidente da C�mara, Eduardo Cunha, d� entrevista em que nega as acusa��es de J�lio Camargo

O consultor da Toyo Setal e delator na Opera��o Lava Jato, J�lio Camargo, disse ao juiz Sergio Moro nesta quinta-feira (16) que o presidente da C�mara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pediu a ele propina de US$ 5 milh�es em um contrato de navios-sonda da Petrobras.

No depoimento, prestado em Curitiba, Camargo disse que o pedido de propina teria ocorrido pessoalmente, em uma reuni�o no Rio. O valor, afirmou, foi pago por meio de Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB em contratos com a Petrobras.

� a primeira vez que Camargo, cujo acordo de dela��o premiada foi homologado em dezembro do ano passado, cita Eduardo Cunha como destinat�rio da propina.

Veja v�deo

A informa��o foi antecipada pelo jornal "O Globo" na tarde desta quinta-feira (15).

Em nota, presidente da C�mara disse ser ''muito estranho'' o delator ter mudado a vers�o na v�spera de seu pronunciamento em rede nacional e acusa o procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, de ter articulado o depoimento (leia mais abaixo).

O nome do parlamentar surgiu quando o delator respondia a Moro se ele vinha sendo pressionado a pagar propina por Baiano. Camargo contou que procurou o operador para intermediar um encontro com Cunha por causa de requerimentos apresentados na C�mara dos Deputados contra ele, Camargo, e contra a empresa Mitsui.

Pelo relato de Camargo, o peemedebista cobrou o valor para si quando afirmou haver um d�bito "entre voc� [Camargo] e o Fernando Baiano".

"Tivemos um encontro o deputado Eduardo Cunha, Fernando Soares e eu. Eu fui bastante apreensivo. O deputado Eduardo Cunha � conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso dizendo que ele n�o tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um d�bito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de US$ 5 milh�es", relatou Camargo.

"E que isso [o d�bito com o operador da propina] estava atrapalhando, porque estava em v�spera de campanha –se n�o me engano, era uma campanha municipal–, que ele tinha uma s�rie de compromissos, que eu vinha alongando esse pagamento h� bastante tempo e que ele n�o tinha mais condi��o de aguardar", continuou.

Neste momento, o delator foi subitamente interrompido pelo juiz Moro, dizendo que o tema j� era objeto de investiga��o na Procuradoria-Geral da Rep�blica e que n�o deviam detalhar o assunto para n�o prejudicar a apura��o em curso em Bras�lia.

YOUSSEF

Camargo ent�o contou que procurou o doleiro Alberto Youssef para tentar contornar o problema criado com o deputado peemedebista.

"O Youssef era sempre uma pessoa presente nas minhas opera��es. Mas foi nesse caso foi a� que o chamei porque at� ent�o o Fernando Soares indicava as contas nas quais eu devia fazer os dep�sitos, e eu fazia esses dep�sitos a pedido dele", disse.

"Quando veio essa emerg�ncia, chamei Alberto, uma pessoa com quem eu tinha um relacionamento de dia a dia e confian�a –se n�o me engano, at� pedi ao Alberto se ele conhecia o deputado", relatou.

A "emerg�ncia", segundo o delator, era que Cunha n�o aceitou que apenas ele recebesse.

"Me organizei porque o deputado Eduardo Cunha n�o aceitou que eu pagasse somente a parte dele. Ele me disse: 'Olha, J�lio, n�o aceito que pague s� a minha parte. Pode at� pagar o Fernando [com prazo] mais dilatado, mas o meu eu preciso rapidamente. Mas fa�o quest�o de voc� incluir no acordo ainda aquilo que voc� falta pagar ao Fernando', e a� chegou entre US$ 8 a 10 milh�es", disse Camargo.

OPERA��O ILEGAL

Uma parte do pagamento da propina ao peemedebista, ainda de acordo com o depoimento de Camargo, foi feita atrav�s do d�lar-cabo, uma opera��o clandestina e ilegal de c�mbio e de remessas de recursos.

Segundo Camargo, foram feitos dep�sitos em uma conta do doleiro no exterior. De l�, afirmou, a empresa GFD Investimentos –de Youssef– transferiu o montante, em reais, ao Brasil

A opera��o ajudou Camargo, que estava com problemas de liquidez no pa�s, a levantar rapidamente dinheiro vivo para pagar o suborno.

"Eu paguei atrav�s de dep�sitos ao Alberto no exterior, paguei atrav�s de opera��es com a GFD. Parte daqueles recursos foram utilizados para dar liquidez em reais a serem feitos pagos esses pagamentos. Fiz pagamentos diretos �s empresas de seu Fernando Soares", contou.

OUTRO LADO

Em nota, Cunha voltou a atacar o Procurador-Geral da Rep�blica, respons�vel pelo pedido de investiga��o contra o deputado na Lava Jato.

O presidente da C�mara disse ser ''muito estranho'' o delator ter mudado a vers�o na v�spera de seu pronunciamento em rede nacional e acusa Rodrigo Janot de ter articulado o depoimento.

''Que as amea�as ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador-Geral da Rep�blica, ou seja, obrigar o delator a mentir'', disse.

Ap�s a divulga��o da nota, Cunha falou na C�mara que n�o se deixar� ser "constrangido" e "fragilizado" pelo depoimento do delator. "Eu estou absolutamente tranquilo", disse.

O peemedebista afirmou ainda que n�o ir� alterar a grava��o j� feita para o seu pronunciamento em cadeia nacional de r�dio e televis�o que far� na noite desta sexta-feira (17).

"N�o vou fazer isso porque eu estou me pronunciando como presidente da C�mara sobre as atividades da C�mara. N�o estou me pronunciando para fazer alus�o ou defesa de fatos pessoais. Na medida em que eu for exercer a rede nacional para falar de fatos pessoais, eu estou aqui, perante voc�s. E aqui � o foro para eu poder me defender", disse.

Questionado se poderia fazer uma acarea��o com J�lio Camargo para falar "olho no olho", Cunha afirmou que "fala com quem quer que for".

"Eu n�o tenho dificuldade nenhuma de rebater quem quer que seja. Ele est� mentindo e o delator tem que provar sua mentira. O �nus da prova � de quem acusa", disse.

A Mitsui afirmou que J�lio Camargo "nunca foi representante ou consultor em nenhum dos projetos da empresa".

"Em 2011, respondendo a um requerimento apresentado � Comiss�o de Inspe��o e Controle da C�mara dos Deputados, o Tribunal de Contas da Uni�o (TCU) n�o identificou nenhuma irregularidade relacionada aos contratos da Mitsui & Co. com a Petrobras", afirmou.

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Confira, na �ntegra, a nota de Cunha.

Com rela��o � suposta nova vers�o atribu�da ao delator J�lio Camargo, tenho a esclarecer o que se segue:

1- O delator j� fez v�rios depoimentos, onde n�o havia confirmado qualquer fato referente a mim, sendo certo ao menos quatro depoimentos.

2- Ap�s amea�as publicadas em �rg�os da imprensa, atribu�das ao Procurador-Geral da Rep�blica, de anular a sua dela��o caso n�o mudasse a vers�o sobre mim, meus advogados protocolaram peti��o no STF alertando sobre isso.

3- Desminto com veem�ncia as mentiras do delator e o desafio a prov�-las.

4- � muito estranho, �s v�speras da elei��o do Procurador Geral da Rep�blica e �s v�speras de pronunciamento meu em rede nacional, que as amea�as ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador Geral da Rep�blica, ou seja, obrigar o delator a mentir.

O que h� contra Cunha - Editoria de Arte/Folhapress


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