Folha de S. Paulo


Aliada de Cunha fez requerimento a pedido de corretor ligado ao deputado

Suspeita de ter ajudado o presidente da C�mara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a pressionar empresas envolvidas no esquema de corrup��o na Petrobras, a ex-deputada federal Solange Almeida (PMDB-RJ) apresentou em 2009 requerimento relacionado a interesses do corretor de valores Lucio Bolonha Funaro. Em 2005, Funaro respondeu a suspeitas de ter bancado despesas pessoais de Cunha —na �poca, ambos negaram irregularidades.

Solange solicitou � C�mara, em 2009, que o presidente da Schahin Engenharia, Milton Schahin, fosse ouvido em uma das comiss�es da Casa sobre o rompimento de uma barragem de uma hidrel�trica que provocou a inunda��o de parte de um munic�pio em Rond�nia.

O jornal "O Globo" divulgou nesta quinta-feira (18) reportagem sobre a apresenta��o do requerimento feito pela aliada de Cunha.

O requerimento para ouvir o executivo da Schahin Engenharia foi feito ap�s um pedido de Lucio Bolonha Funaro.

O corretor confirmou � Folha, por meio e-mail enviado pela sua advogada Beatriz Catta Preta, que por volta de 2009 esteve com Solange e sua assessoria em um almo�o, num restaurante em Bras�lia, quando relatou a necessidade de a C�mara apurar um assunto que colocaria contra a parede a Schahin.

Na �poca, um grupo empresarial representado por Funaro, a Cebel (Centrais El�tricas Bel�m), e a Schahin travavam uma disputa avaliada em R$ 150 milh�es na Justi�a do Rio em torno de preju�zos gerados pelo rompimento da barragem, durante a constru��o de uma central hidrel�trica em Vilhena (RO).

Ed Ferreira/Folhapress
O presidente da C�mara, Eduardo Cunha, investigado pela Lava Jato, comanda sess�o no plen�rio da Casa
O presidente da C�mara, Eduardo Cunha —investigado pela Lava Jato—, comanda sess�o no plen�rio

O requerimento apresentado por Solange, em novembro de 2009 na Comiss�o de Seguridade Social e Fam�lia, atendia aos interesses da Cebel e de sua controladora, a Gallway —sediada no exterior e representada por Funaro, na disputa com a Schahin.

Solange, atualmente prefeita de Rio Bonito (RJ), queria, com seu requerimento, promover uma audi�ncia p�blica para ouvir o executivo da fam�lia Schahin e representantes de fundos de pens�o, entre outras pessoas, "a fim de prestarem esclarecimentos sobre os preju�zos causados pela interrup��o do empreendimento da barragem". A audi�ncia n�o chegou a ser realizada.

Funaro afirmou � reportagem que na conversa com Solange "explicou a gravidade" do problema em Rond�nia, na �poca "o maior acidente ecol�gico da Amaz�nia Legal". Segundo ele, o acidente "afetou milhares de pensionistas de fundos de pens�es estatais, uma vez que suas patrocinadoras tinham investido dinheiro na compra de c�dulas de cr�dito banc�rio que financiaram a obra".

Funaro disse ter explicado a Solange que as empresas do cons�rcio construtor (Schahin e Eit) n�o tomaram nenhuma provid�ncia quanto ao acidente e que a Cebel foi multada em R$ 100 milh�es por �rg�os ambientalistas.

O corretor disse que o evento "provocou danos financeiros seri�ssimos aos fundos de pens�o" de funcion�rios da Petrobras (Petros), da companhia de �gua e esgoto do Rio (Prece) e das centrais el�tricas de Santa Catarina (Celos), "o que afeta sua rentabilidade e, consequentemente, a equa��o de pagamento da seguridade social de seus patrocinados".

O requerimento de Solange foi localizado pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), membro da CPI da Petrobras, que pediu em plen�rio uma apura��o sobre o assunto. Ao ser indagado pelo deputado, no �ltimo dia 27, em sess�o na comiss�o parlamentar de inqu�rito, sobre o requerimento de Solange que citava seu nome, Milton Schahin disse que ainda n�o era o momento de se manifestar sobre o assunto —ele se recusou a responder todas as perguntas naquele dia.

APARTAMENTO

Em 2005, a imprensa revelou que Cunha morava em um apartamento em um hotel em Bras�lia de propriedade de Funaro. Cunha afirmou na Justi�a que foi apenas "sublocat�rio" do im�vel anteriormente sublocado a Funaro "em raz�o de contrato efetivado por sua chefe de gabinete e jamais teve qualquer tipo de relacionamento" com o corretor.

Outra liga��o foi relatada no passado entre Cunha e Funaro —investigado no esc�ndalo do mensal�o por liga��es com a Garanhuns, que fazia pagamentos ao Partido Liberal, hoje PR. Um aliado do deputado, Lutero Cardoso, nomeado nos anos 90 para a presid�ncia da companhia de �gua e esgoto do Rio a partir de uma indica��o de Cunha, foi consultor da empresa da qual Funaro � representante, a Gallway.

Cunha � alvo de inqu�rito no STF (Supremo Tribunal Federal) em desdobramento da Opera��o Lava Jato, que investiga o pagamento de propinas na Petrobras. O doleiro Alberto Youssef disse, em sua dela��o premiada, que Cunha se beneficiava do esquema de corrup��o e que, por meio de aliados, apresentou requerimento para pressionar uma das empresas a retomar o pagamento de propina.

A Folha revelou que Cunha aparece como autor dos arquivos digitais de dois requerimentos justamente da ex-deputada Solange Almeida contra a empresa Mitsui, fornecedora da Petrobras.

OUTRO LADO

Cunha afirmou � Folha, na quinta passada (11), que n�o mant�m neg�cios com o corretor Lucio Bolonha Funaro: "Eu n�o o vejo h� muito tempo. Conhe�o, sei quem �, j� estive com ele algumas vezes, mas n�o tenho relacionamento cotidiano com ele, n�o. N�o � pessoa que fa�a parte das minhas rela��es cotidianas".

Sobre o im�vel ocupado por ele em 2005, o deputado disse que n�o teve suas despesas bancadas pelo corretor.

"Ele [Funaro] alugava um apartamento no hotel e eu processei quem publicou aquela mat�ria", afirmou o presidente da C�mara. "Se voc� chega para alugar um apartamento em um hotel, n�o significa que voc� tenha que saber de quem �", disse Cunha.

O deputado afirmou ainda que n�o pode responder pelo "fato de eventualmente conhecer ou ter conhecido qualquer pessoa que por ventura um outro [deputado] se fa�a um requerimento".

Sobre o requerimento de Solange, Cunha disse que a pergunta deveria ser dirigida � ex-deputada. "Eu n�o conversava com a deputada Solange sobre os atos dela no mandato dela. [...] Ela � respons�vel pelos atos do mandato dela, n�o eu", disse o deputado. A respeito das d�vidas sobre o requerimento, Cunha disse que "a CPI � sobre a Petrobras, n�o de outra coisa".

Funaro disse � Folha que "nunca pagou qualquer conta" de Cunha, "sendo certo que as mat�rias vinculadas a esse respeito foram alvo de processos judiciais". Ele tamb�m "negou veementemente ter tratado de assuntos ligados a quaisquer requerimentos" com Cunha.

Segundo a advogada Beatriz, Funaro � "representante dos fundos controladores da Gallway desde 2003, mas n�o exerce atividade executiva no grupo".

"Meu cliente ressalta que se a Petrobras e as autoridades competentes tivessem ao menos analisado as den�ncias formalizadas pela Cebel e suas coligadas desde 2009, alguns bilh�es de d�lares n�o teriam sido desviados dos cofres p�blicos brasileiros", afirmou a advogada.

Procurada desde a semana passada por meio da assessoria de imprensa da prefeitura de Rio Bonito (RJ), Solange Almeida n�o havia se manifestado at� a publica��o deste texto.


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