Folha de S. Paulo


Conhe�a as cidades que deram as maiores vota��es para Dilma e A�cio

Em Bel�gua (MA), cidade em que Dilma teve maior vota��o nos dois turnos, Bolsa Fam�lia beneficia 65% da popula��o; j� Alto Boa Vista (MT), munic�pio mais aecista do pa�s no 1� turno, pol�mica agr�ria-ind�gena provoca �dio contra petista

BEL�GUA (MA)

Bel�gua, no interior do Maranh�o, cabe em todos os clich�s: � uma das cidades mais pobres do Brasil, num dos mais atrasados Estados nordestinos, com mais da metade de sua popula��o dependente do Bolsa Fam�lia.

O munic�pio do semi�rido maranhense, pela segunda elei��o consecutiva, foi o que proporcionalmente deu mais votos para Dilma Rousseff (PT). Ontem, a presidente reeleita recebeu quase 94% dos votos v�lidos –o tucano A�cio Neves ficou com 6%. No primeiro turno, a petista obteve 92%, mesmo �ndice alcan�ado na elei��o de 2010.

Editoria de arte/Folhapress

A 280 km da capital S�o Lu�s, Bel�gua tem 7.191 habitantes e o quarto pior IDH (�ndice de desenvolvimento humano) do Estado, mas saiu, nos �ltimos anos, do patamar mais baixo de classifica��o social (pobreza extrema) para, agora, ser considerada uma cidade na linha da pobreza.

A leve melhora se deve �s pol�ticas sociais e de distribui��o de renda implementadas nos �ltimos 12 anos pelos governos do PT, pilares da quase unanimidade de "dona Dilma", como os moradores de Bel�gua se referem a ela.

O Bolsa Fam�lia beneficia 65% da popula��o e � a segunda fonte de receita ao lado de uma cota repassada pelo FPM (Fundo de Participa��o dos Munic�pios). N�o h� empresas: ou se trabalha na ro�a ou para a prefeitura.

As casas de barro e a vida prec�ria com escassez de servi�os como �gua e sa�de ainda s�o as mesmas do Estado retratado por Glauber Rocha no document�rio "Maranh�o 66", que o cineasta filmou quando o ent�o deputado Jos� Sarney tornou-se governador, naquele ano, prometendo um novo futuro.

A velha pol�tica sobrevive: o prefeito do PT providenciou neste domingo (26) de sol transporte para centenas de eleitores dos povoados do munic�pio irem votar.

"Faltar, aqui falta muita coisa, n�o sei nem por onde come�ar a falar", dizia o aposentado Acelino de Ara�jo, 84, que saiu da ro�a para votar na "dona Dilma".

Somente 3% da popula��o tem saneamento b�sico, segundo a prefeitura. Al�m da escassez de �gua, o acesso ao munic�pio � ruim, o que compromete ainda mais o atendimento m�dico � popula��o.

PROGRAMAS SOCIAIS

No povoado de Pequizeiro, o casal Patr�cio, 70, e Na�ldes dos Santos (que diz n�o lembrar a idade) recorre como a maioria dos moradores ao rio da cidade para abastecer reservat�rios e tomar banhos.

O casal vive numa casa de tijolos de barro, constru�da por ele h� dez anos. "Voto na dona Dilma porque agora tenho cr�dito, posso comprar comida fiada", afirma Na�ldes, que produz no quintal carv�o e farinha. H� outros motivos: a eletricidade chegou ao povoado com o programa Luz para Todos e ela tem na fam�lia (filha e netos) benefici�rios do Bolsa Fam�lia.

Novas ruas tamb�m surgiram em Bel�gua por causa do Minha Casa, Minha Vida, outra bandeira eleitoral de Dilma. "A casa foi entregue, s� que sem �gua", se resigna o pedreiro Ivanaldo Silva, 35, morador de uma delas.

Um dos reflexos do Bolsa Fam�lia na cidade foi reativar a produ��o artesanal de farinha de mandioca, importante para a subsist�ncia local.

Neste domingo, com urnas ainda abertas, Na�ldes dos Santos comentava sobre o futuro de Bel�gua, que segundo ela n�o sobreviveria sem o assistencialismo federal.

"Surgiram hist�rias de que se ele [A�cio] ganhar, os programas iriam acabar. Mas � mentira, ele mesmo disse na televis�o que era mentira. Se cortarem toda a ajuda, Bel�gua acaba".

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ALTO DA BOA VISTA (MT)

Um Cristo Redentor de 12 metros de altura, entre escombros de alvenaria e madeira � beira da estrada, � o s�mbolo do ressentimento que levou Alto Boa Vista, no nordeste do Mato Grosso, a se tornar o munic�pio mais aecista do Brasil.

Editoria de arte/Folhapress

"Agora vai ser mais votos para o A�cio", apostava o prefeito da cidade, Leuzipe Gon�alves (PMDB), antes da vota��o deste domingo. No primeiro turno, o tucano teve 83% ou 1,851 dos 2.110 votos v�lidos, recorde nacional. A�cio teve agora 1.758 votos.

Como v�rios outros moradores da cidade, Gon�alves tinha terras nas proximidades da est�tua do Cristo, distrito conhecido como Posto da Mata, criado dentro da terra xavante Mar�iwats�d�, de 165 mil habitantes, homologada em 1998.

Por ordem da Justi�a, os n�o �ndios foram retirados em 2012, em opera��o coordenada por for�as federais, da� o ressentimento contra Dilma. Fazendas imensas, de gado e de soja, mas tamb�m pequenas propriedades, duas escolas e pequenos com�rcios foram destru�dos para evitar reocupa��o.

S� os pequenos posseiros tiveram direito a se candidatar a ressarcimento –os grandes, disse a decis�o, ocuparam de m�-f� a �rea para inviabilizar a demarca��o.

Do Posto da Mata sobraram apenas o Cristo e uma f�brica beneficiadora de gr�os.

"Quero minha terra, o que plantei, botei cerca. N�o quero indeniza��o", dizia Jos� In�cio, 75, que ao lado da mulher, Divina, 72, ao explicar porque participou, em plena v�spera eleitoral, de reuni�o para discutir como reaver na Justi�a os 100 hectares da fam�lia na terra ind�gena.

Quem coordenava o encontro era o advogado Luis Alfredo Abreu, irm�o da senadora reeleita K�tia Abreu (PMDB), aliada de Dilma. Luis Alfredo, que indicava, sem citar nomes, que Aecio Neves seria o melhor para o interesse dos posseiros, festejava decis�o do Supremo Tribunal Federal que reverteu a demarca��o de uma terra ind�gena no Mato Grosso do Sul. O aplicado l� –os �ndios n�o estavam na �rea em 88, data da Constitui��o– valeria para os xavantes, retirados de Mar�iwats�d� durante a ditadura (1964-1985).

"� muito dif�cil que a gente perca no Supremo. A jurisprud�ncia est� virando a nosso favor", disse Luis Alfredo, num indicativo de que o novo mandato de Dilma provavelmente ter� de lidar com recrudescimento de conflitos agr�rios-ind�genas, especialmente nesta zona, considerada a grande aposta soja no Mato Grosso.

DO MESMO LADO

Neste domingo, a chuva que caiu de manh�zinha formou barro avermelhado nas ruas de terra da cidade e na entrada da casa de madeira onde vivem Osmar e Lurdes e quatro de seus cinco filhos.

Ali tamb�m o conflito da terra xavante, onde vivem cerca de 1.000 ind�genas, se fazia sentir. "Foi uma covardia grande", se queixava Osmar, 48, sobre a retirada da terra xavante. Recebedor do Bolsa Fam�lia (R$ 317 por m�s) e eleitor de Lula e Dilma no passado, votou em A�cio.

Na noite de domingo, a frustra��o de Osmar e Lurdes era a mesma do vereador conhecido como "Nivaldo do Posto da Mata". "Apostei R$ 10 mil no A�cio. Mas n�o � s� isso que eu perco. Com ela, eu perco a vida", disse ele.

O vereador � um dos implicados no inqu�rito do Minist�rio P�blico que acusa pol�ticos e produtores de tentar sabotar a desocupa��o da terra xavante, o que ele nega.

A den�ncia formal sobre o caso deve ocorrer nas pr�ximas semanas.


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