Folha de S. Paulo


At� v�spera de chegada � Casa Branca, Trump mant�m tom de campanha

Nada de muito empolgante costumava acontecer nas 11 semanas que separam a elei��o e a posse de um novo presidente americano. Ent�o veio Donald Trump.

Sob a l�gica "o show tem que continuar", o ex-apresentador de TV, que estreia nesta sexta (20) na Casa Branca, conduziu a transi��o tal qual um reality show.

Se n�o gosta de algo, tu�ta. Xingou e foi xingado. A lista de desafetos inclui ag�ncias de intelig�ncia, manifestantes, l�deres mundiais, meia m�dia, Hollywood. Para rebat�-los, tem predile��o por duas express�es: "triste!" e "errado!".

Jim Watson - 17.jan.2017/AFP
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, participa do Chairman's Global Dinner, em Washington
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, participa do Chairman's Global Dinner, em Washington

O republicano lotou o gabinete com nomes que povoam os piores pesadelos dos democratas, a come�ar pelo estrategista-chefe. Stephen Bannon pilotava o site-coqueluche da extrema-direita, o Breitbart News, perito em manchetes como: "Voc� prefere que sua filha contraia feminismo ou c�ncer?".

Para a pasta da Justi�a, chamou Jeff Sessions, um cr�tico da imigra��o (legal ou ilegal) que no passado achou engra�ado brincar que membros do KKK seriam "OK" se "n�o fumassem maconha".

Sua titular na Educa��o, Betsy DeVos, sugeriu que armas nas escolas s�o aceit�veis, pois servem de defesa contra ataques de ursos.

No Trabalho, um empres�rio que se op�e ao aumento do sal�rio m�nimo e, como Trump, zela pelo politicamente incorreto. Assim Andrew Puzder defendeu an�ncios de sua rede de fast-food: "Gosto de lindas mulheres comendo hamb�rguer, acho que � muito americano".

Por vezes Trump deu sinais amb�guos. Na semana em que recebeu Bill Gates e Kanye West, reuniu-se com Al Gore, �cone da causa verde. Depois, indicou � Ag�ncia de Prote��o Ambiental o pr�-petr�leo Scott Pruitt, que j� viu exagero nas "regula��es desnecess�rias".

A guinada gerou nas redes a campanha #TrumpNarraOPlaneta –tu�tes que emulam Trump ("Uma lua. Triste! J�piter tem 67. Quando eu for presidente da Terra, teremos cem luas").

VAI TER BOLO

No dia do pleito, 8/11, nem sua equipe mostrava confian�a numa vit�ria sobre Hillary Clinton. Um bolo simbolizava o clima inicial no hotel Hilton de Nova York, onde aliados acompanhavam a apura��o: a confeteira esculpiu o rosto de Trump na massa, mas a express�o era triste.

A "arte" virou piada na internet. "Este bolo � o menino louro de 'Karate Kid', j� crescido, prestes a fazer striptease numa despedida de solteira por US$ 25", zombou a revista "Esquire".

Quando Trump ganhou, choveram previs�es de que sua vingan�a contra inimigos seria doce. Mas aquele come�o foi paz e amor. "Agora � a hora da Am�rica cicatrizar as feridas da divis�o", disse no discurso de vit�ria.

Mais momentos graciosos viriam. Nos dias seguintes, exaltou a "�tima qu�mica" com Obama, ap�s conhecer na Casa Branca o homem que j� definiu como "talvez o pior dos presidentes".

A tr�gua teve vida curta, como prova um tu�te de 31/12: "Feliz Ano Novo a todos, inclusive aos meus muitos inimigos e �queles que perderam feio. [...] Amor!".

A "imprensa mentirosa" teria promovido "uma ca�a �s bruxas pol�tica" por evocar temas espinhosos, como o potencial conflito de interesses entre sua Presid�ncia e seu imp�rio empresarial.

Meryl Streep o criticou no Globo de Ouro, e ele revidou : "� uma das atrizes mais superestimadas de Hollywood". Trump ainda � o produtor-executivo do reality que apresentou de 2004 a 2015, "O Aprendiz". Nem por isso poupou seu substituto, Arnold Schwarzenegger, republicano que apoiou Hillary.

"Uau! Arnold 'atolou' se comparado com a m�quina de audi�ncia Trump", tuitou ap�s a reestreia da atra��o.

Mais palat�vel foi "Objectified", programa no qual o fundador do site de fofocas TMZ, Harvey Levin, elenca perguntas d�ceis –como sua paix�o por esportes, "microcosmo da vida" no qual "voc� tem um perdedor e um vencedor". Trump oferece um tour por seu tr�plex. No caminho, a miniatura de uma Mercedes pilotada pelo ca�ula dos cinco filhos, Barron, 10.

"Trump continua o mesmo", diz � Folha seu bi�grafo Michael D'Antonio. "Extremamente emocional e reativo, desinteressado em quem discorda dele. Isso preocupa os que esperam que ele seja um presidente para todos."


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