Folha de S. Paulo


Estilo de vida festeiro pode ser rea��o � fam�lia repressora, disse fundador da 'Playboy'

"Eu nunca vou crescer", disse Hugh Hefner, o fundador da "Playboy", em entrevista � CNN, quando tinha 82 anos. "Permanecer jovem � tudo para mim. Manter vivo meu lado menino, e muito tempo atr�s decidi que a idade n�o importa, e contanto que as mulheres... se sintam da mesma maneira, est� �timo para mim."

Hefner, uma vez chamado de "profeta do hedonismo pop" pela revista "Time", morreu aos 91 anos de forma pac�fica em sua casa nesta quarta (27).

O fundador da Playboy ajudou a abrir caminho para a revolu��o sexual da d�cada de 1960 com sua pioneira revista masculina e construiu um imp�rio de neg�cios ao redor de seu estilo de vida libertino.

O Playboy Original
Hugh Hefner morre aos 91 anos

Hefner era �s vezes caracterizado como um muito sexualizado Peter Pan, uma vez que mantinha um har�m de jovens loiras, totalizando at� sete mulheres, em sua lend�ria mans�o da Playboy. Isso foi retratado no reality show "The Girls Next Door", transmitido de 2005 at� 2010.

Hefner sossegou um pouco em 2012, aos 86 anos de idade, quando se casou com Crystal Harris, que era 60 anos mais jovem, em seu terceiro casamento.

Ele disse que seu estilo de vida festeiro pode ter sido uma rea��o � cria��o em uma fam�lia repressora na qual as demonstra��es de afeto eram raras.

Sua assim chamada inf�ncia atrofiada levou � cria��o de um empreendimento multimilion�rio centrado em mulheres nuas, mas tamb�m deu ensejo � "filosofia Playboy" de Hefner, baseada em romance, estilo e a recusa de ditames morais.

Essa filosofia ganhou vida nas festas lend�rias em suas mans�es —primeiro em sua nativa Chicago e depois na vizinhan�a privilegiada de Holmby Hills, em Los Angeles—, onde legi�es de celebridades masculinas se aglomeravam para se misturar a mulheres jovens e lindas.

Em 1963, muito antes de a Internet tornar a nudez onipresente, Hefner foi processado por publicar e circular fotos de celebridades e aspirantes a estrelas despidas, mas foi absolvido.

Hefner fez da Playboy a primeira revista masculina chamativa e elegante, que al�m dos p�steres centrais de nus tinha apelo intelectual para homens que gostavam de dizer que n�o a compravam s� pelas fotos gra�as � presen�a de escritores de destaque como Kurt Vonnegut, Joyce Carol Oates, Vladimir Nabokov, James Baldwin e Alex Haley.

ENTREVISTA OU REVISTA DE SEXO?

Entrevistas aprofundadas com figuras hist�ricas como Fidel Castro, Martin Luther King Jr., Malcolm X e John Lennon tamb�m eram um atrativo frequente.

"Nunca pensei na Playboy, com muita franqueza, como uma revista de sexo", disse Hefner � CNN em 2002. "Sempre pensei nela como uma revista de estilo de vida na qual o sexo era um ingrediente importante."

Hefner se revelou um g�nio no posicionamento da marca. A silhueta de coelho da publica��o se tornou um dos logotipos mais conhecidos do mundo, e as gar�onetes "coelhinhas" de seus clubes noturnos eram inconfund�veis com seus uniformes decotados semelhantes a mai�s, gravatas borboleta, rabos de algod�o e orelhas de coelho.

Hef, como ele come�ou a chamar a si mesmo na escola secund�ria, tamb�m era um logotipo ambulante da "Playboy", presidindo seu reinado em pijamas de seda e palet� de smoking e soltando baforadas com um cachimbo.

"O que eu criei veio de meus sonhos de fantasias de adolescente", contou ele � CNN. "Estava tentando redefinir o que significava ser um homem jovem, urbano e sem compromisso."

Depois de ser copista da revista "Esquire", Hefner se casou e trabalhou no departamento de circula��o da revista "Children's Activities", quando come�ou a imaginar o que viria a ser a revista "Playboy".

A primeira edi��o saiu em dezembro de 1953, com fotos da atriz Marilyn Monroe nua, e foi um sucesso. � medida que decolava, a publica��o se tornou alvo da direita por causa da nudez e da esquerda devido �s feministas que diziam que a "Playboy" reduzia as mulheres a objetos sexuais.

Hefner declarou certa vez que o sexo � "o principal fator motivacional no decurso da hist�ria humana" e, usando esse princ�pio como um modelo de neg�cios, a "Playboy" floresceu durante a revolu��o sexual, chegando a uma circula��o de 7 milh�es de exemplares nos anos 1970.

Na d�cada seguinte ele teve problemas com as concorrentes "Penthouse" e "Hustler" —revistas que tinham fotos muito mais expl�citas—, e no s�culo 21 o impacto social da "Playboy" j� havia diminu�do consideravelmente. Os Clubes Playboy fecharam em 1991, mas seriam parcialmente ressuscitados.

SOB NOVA DIRE��O

Depois de sofrer um pequeno derrame em 1985, Hefner fez de sua filha, Christie, a diretora-executiva da Playboy Enterprises, e ela reformulou o neg�cio at� deixar o cargo, em 2009. O filho de Hefner, Cooper, que era quase 40 anos mais jovem que Christie, assumiu um papel de destaque na empresa em 2014.

"Meu pai viveu uma vida excepcional e impactante como pioneiro da m�dia e da cultura e como uma das principais vozes por tr�s de alguns dos movimentos sociais e culturais mais significativos de nosso tempo, defendendo a liberdade de express�o, os direitos civis e a liberdade sexual", disse Cooper em um comunicado, de acordo com postagens em redes sociais.

A partir de mar�o de 2016 a "Playboy" deixou de publicar nus frontais totais, uma reformula��o da marca que seria inimagin�vel no auge da revista.

Ela retomou os nus um ano depois, quando Cooper anunciou uma nova filosofia para a companhia.

Em agosto de 2016, um dos vizinhos de Hefner, um investidor de private equity, comunicou ter comprado a mans�o Playboy por US$ 100 milh�es com a condi��o de que Hefner poderia continuar morando no local at� sua morte.

Antes da "Playboy", Hefner se casou com Millie Williams em 1949 e se divorciou em 1959, iniciando um per�odo durante o qual se tornou a encarna��o do solteir�o. As muitas mulheres que dividiram sua cama redonda, motorizada e vibrat�ria inclu�ram modelos que posaram para sua revista, e em 1989 ele se casou com uma delas, a Playmate do Ano Kimberly Conrad.

Eles tiveram dois filhos, mas o experimento de Hefner com um estilo de vida mais dom�stico terminou em div�rcio 10 anos depois. Kimberly se mudou para uma casa ao lado da do ex-marido para poder ficar perto dos filhos.

Em 2008, depois que uma de suas namoradas, Holly Madison, terminou o relacionamento, Hefner disse que tinha esperan�a de passar o resto da vida ao seu lado. Pouco depois ele acrescentou g�meas de 19 anos a seu s�quito, mas mais tarde voltou a optar pelo casamento com Crystal Harris.


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