Folha de S. Paulo


Cr�tica de cinema deve tomar cuidado com imediatismo e press�o na internet

A cr�tica de cinema na internet tem como vantagem permitir o uso de diferentes formatos e aproximar o cr�tico do leitor, mas deve tomar cuidado para n�o ser superficial ou imediatista e nem sucumbir a press�es de usu�rios.

Essas foram algumas das conclus�es a que chegaram cr�ticos de cinema que debateram o papel da profiss�o na era virtual, em evento na tarde desta quarta-feira (25). A media��o do debate foi feita pelo cr�tico de arte da Ilustrada, F�bio Cypriano.

O evento � parte do 1� F�rum Mostra-Folha, organizado pela Folha em parceria com a 41� Mostra Internacional de Cinema de S�o Paulo.

O cr�tico do site Omelete, Marcelo Hessel, colocou em d�vida a capacidade da cr�tica na internet de alimentar discuss�es duradouras. Segundo ele, espectadores acabam criando grupos restritos dentro de sites e f�runs que muitas vezes geram mais debates do que o texto de um jornalista.

Ele tamb�m afirmou que a cr�tica brasileira possui um car�ter imediatista e superficial. "Na internet, tudo se consome muito r�pido. A cr�tica brasileira tem uma orienta��o de consumo muito forte, herdada dos Estados Unidos, que se baseia na distribui��o de cota��es positivas e negativas. Na verdade, ela precisa se distanciar do filme, pensar mais, contextualizar."

Hessel classificou a cr�tica atual entre dois grupos: os impressionistas, que buscam relatar uma experi�ncia pessoal com o filme, repleta de adjetivos e relatos individuais, e os legistas, que procuram dissecar grande parte dos aspectos t�cnicos e narrativos de um filme. "Esses dois caminhos n�o t�m sido suficientes", disse.

Para a rep�rter da revista "Continente", Luciana Veras, a cr�tica n�o pode se ater apenas ao filme e deve construir pontes com outros temas, como o contexto social contempor�neo e a obra passada do diretor.

Segundo ela, o trabalho do cr�tico, em qualquer plataforma, � oferecer um determinado vi�s sobre uma obra, que deve ter uma boa base argumentativa, mas que tamb�m demonstre muito da viv�ncia do profissional.

"A pessoa deve colocar um pouco de tudo que leu e viu em sua trajet�ria nas cr�ticas que escreve. N�o � s� o que a obra lhe provoca, mas tamb�m o que ela significa no contexto de hoje", afirmou.

J� a cr�tica independente Andrea Ormond refor�ou a caracter�stica pluralista da internet. De acordo com ela, o acesso mais f�cil aos filmes e a locais de debate fez com que nichos e n�cleos espec�ficos se formassem naturalmente, aproximando as pessoas do cinema sem a necessidade de um orientador.

Ela tamb�m apontou para o fato de que cr�ticos que come�aram em blogs e sites sofreram um forte processo de deslegitimiza��o de seu trabalho, mas que com o tempo assumiram posi��o de credibilidade pr�xima � de cr�ticos consagrados de ve�culos impressos.

O cr�tico da Ilustrada In�cio Ara�jo falou sobre o excesso de informa��es dispon�veis atualmente na internet. Segundo ele, se, por um lado, existe a possibilidade de ter � m�o arquivos que antes n�o se tinha, por outro, h� dificuldade para escolher entre tanta informa��o.

Ara�jo apontou tamb�m para o problema que h� para se armazenar tanta informa��o. "Eu mesmo sou uma besta tecnol�gica. Salvei um livro que escrevi no meu notebook e em um drive externo. Em um certo dia acabei deixando os dois juntos, e ambos foram roubados", contou.

O cr�tico, que mant�m um blog sobre cinema, disse ainda que a internet traz a possibilidade de uma escrita mais informal, "como se estivesse falando com um amigo", diferente da solenidade de um artigo de jornal.

HATERS

Os participantes da mesa tamb�m comentaram o momento de polariza��o no pa�s em rela��o � arte, no qual t�m surgido casos de fechamento de exposi��es e censura de obras por suposto conte�do inapropriado. Eles relataram ter sofrido tamb�m com a intoler�ncia a respeito de suas opini�es sobre determinadas obras.

In�cio Ara�jo relembrou o caso de uma cr�tica negativa que escreveu falando de um document�rio sobre o Corinthians. "Logo apareceram 15 mil coment�rios me detonando e falando 'n�o se mete com o Tim�o'".

Segundo Hessel, o problema da internet � ser um espa�o no qual as pessoas se preocupam menos em debater e mais em ratificar a pr�pria opini�o. Para ele, o trabalho da cr�tica nesse contexto deveria ser alimentar nas pessoas a vontade de discutir.

Para Andrea, independentemente da postura agressiva de alguns leitores, � preciso que os cr�ticos demonstrem amar o cinema e ter a vontade de que os filmes sejam bons. "Faz parte da cr�tica ser uma tomada de consci�ncia, uma posi��o pessoal, � um fen�meno intr�nseco � arte. Mas uma cr�tica persecut�ria n�o � cr�tica, � uma degenera��o", afirmou.

Os debates do F�rum Mostra-Folha acontecem at� sexta-feira (27), no Ita� Cultural (av. Paulista, 149), e t�m entrada gratuita, sem necessidade de inscri��es. Veja aqui a programa��o completa.


Endere�o da p�gina:

Links no texto: