N�o h� paz para quem tem curiosidade.
E a prova disso � como Leila Guerriero, 50, observa e esquadrinha tudo ao seu redor. Com os olhos penetrantes e bem abertos, a jornalista encontrou-se com a reportagem da Folha para uma conversa num caf� da avenida Corrientes, em Buenos Aires. Guerriero � uma das principais convidadas deste ano da Flip.
"Se voc� � jornalista, voc� � um curioso serial", define-se a jornalista, famosa por suas cr�nicas de n�o fic��o de f�lego que saem publicadas no "El Pa�s", no "El Mercurio", na revista "Gatopardo" e em outras, quando n�o viram livros-reportagem.
Em sua colet�nea de ensaios sobre jornalismo, "Zona de Obras" (Anagrama, importado), Guerriero tenta explicar quais sintomas definem a voca��o para a profiss�o: "p�nico de faltar com a verdade, pudor de se autoplagiar e at� �dio na hora de escrever".
| Bruno Santos/Folhapress | ||
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| A jornalista Leila Guerriero posa para fotografia em Paraty |
Mas o pior vem depois: � que ao terminar um trabalho longo e exaustivo "voc�s se sentir�o vazios como quem nunca mais conseguir� escrever mais nada". At� que, de repente, "numa noite, num bar, escutar�o uma hist�ria extraordin�ria" ou "ao tomar caf�, ler�o num jornal uma hist�ria extraordin�ria" e "sentir�o um sobressalto. E estar�o perdidos. E estar perdidos ser� sua salva��o."
Guerriero ri. "Sim, eu vivo assim. Do lado da minha cama tem uma pilha de recortes de jornais com not�cias ou pequenas notas que li e que sei que dariam uma grande reportagem."
Pergunto se gosta de se comparar a Truman Capote (1924-1984), que de uma not�cia pequena no "New York Times" construiu seu "A Sangue Frio", sobre uma fam�lia assassinada no interior do Kansas. Mas Guerriero � tamb�m uma defensora apaixonada da cr�nica jornal�stica latino-americana, e prefere mencionar como influ�ncias Rodolfo Walsh (1927-1977) e Roberto Arlt (1900-1942), "que fizeram muito antes o que fez Capote, e o faziam com as coisas que ocorriam em Buenos Aires, desde o ambiente da pol�tica ao do submundo do crime".
No Brasil, Guerriero apresentar� seu �nico livro por ora editado em portugu�s, "Uma Hist�ria Simples", em que acompanha um dan�arino de malambo, um g�nero do interior do pa�s, que participa de um famoso festival folcl�rico na Argentina.
OSSOS
"Me sinto como uma narradora daqui. Prefiro escrever sobre temas argentinos. E minha ambi��o n�o � pequena quando fa�o uma reportagem. Se me meto de verdade, anseio para que aquele texto se torne a refer�ncia sobre o assunto. N�o creio que seja uma m� ambi��o", diz.
Aconteceu isso com "La Voz de los Huesos", publicado pelo jornal "El Pa�s" e que lhe rendeu pr�mios, sobre a Equipe de Antropologia Forense, grupo de peritos argentinos de excel�ncia cuja especialidade � fazer o reconhecimento de restos mortais.
| Uma Hist�ria Simples |
| Leila Guerriero |
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Na Argentina, trabalharam para identificar v�timas da ditadura (1976-1983), mas hoje, pela expertise acumulada, s�o chamados para colaborar em outros pa�ses.
"Quando o regime terminou, eu tinha 16 anos, e ent�o passei a ler e a conhecer o que tinha acontecido. Mas encontrar os esqueletos armados nas mesinhas do laborat�rio me causou um impacto diferente e mais real do que foi a m�quina de matar da repress�o. Aquilo tudo me arranhava o corpo. Mas aprendi com os t�cnicos a me conter. O impacto teria de surgir no texto, mas n�o a emo��o, essa eu tinha que guardar para mim."
Guerriero nasceu e cresceu no interior, em Junin, onde os acontecimentos pol�ticos chegavam como um eco do que ocorria nos grandes centros. "Tenho recorda��es que hoje me gelam os ossos, de ter de estudar moral e c�vica e de cantar o hino nacional na escola, enquanto meu pai ia at� uma outra cidade para trazer um livro proibido."
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UMA HIST�RIA SIMPLES
AUTORA Leila Guerriero
TRADU��O Raquel Guti�rrez
EDITORA Bertrand Brasil
QUANTO R$ 37,90 (100 p�gs.)
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MESA 15 - TR�TSKI E OS TR�PICOS + FRUTO ESTRANHO DA OBRA
ESCRITORES Andr� Vallias, Leila Guerriero e Patrick Deville
QUANDO 19h15, Audit�rio da Matriz; transmiss�o em www.flip.org