"O Pereio � o patriarca". � assim que M�rio Bortolotto, diretor de "Crian�a Enterrada", responde por que convidou Paulo C�sar Pereio para fazer Dodge, o fazendeiro decadente, bebendo at� a morte diante da TV. Pulitzer em 1979, � a pe�a que fez o nome do americano Sam Shepard.
Pereio � o patriarca "outsider" do teatro, cinema e TV.
Ao ouvir a descri��o do diretor, o ator divaga: "�, tr�s dias atr�s fui ao m�dico e, no dia seguinte, n�o consegui ensaiar direito. Ficou p�ssimo, porque comecei a me identificar com esse 'caracter'. Porque ele morre em cena. Eu estou com 76 anos, j� fiz tudo para... Eu fiz muita for�a para morrer, n�?".
| Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
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| Paulo C�sar Pereio (esq). com M�rio Bortolotto, que o dirige em 'Crian�a Enterrada' |
Diferente de Bortolotto, 54, que n�o consegue dormir direito e recusa os conselhos para parar de beber e outros, Pereio conta que est� de dieta e hoje dorme bem.
Como no caso da morte, ele n�o evita assuntos dif�ceis ou "caracteres", como chama seus personagens. Junto com a pe�a, acaba de entrar no ar a nova temporada de "Magn�fica 70", s�rie da HBO sobre a ditadura em que faz um militar monstruoso.
"A gente sempre tem um general daqueles na gente", diz. "A gente, que � de 'esquerrrda', tem que brigar com os generais que est�o dentro. J� me comportei de maneira muito escrota com namoradas, com amigos, mas pretendo ser um bom animal, ent�o vou me corrigindo."
Sobre o "caracter": "Aquele general, ele s� faz merda. Ele come a filha, porra".
PILHA
Pereio come�ou a atuar aos 16, em Porto Alegre, num grupo que reunia outros jovens como Paulo Jos� e Lilian Lemmertz e que se engajou em a��es do governador Leonel Brizola, � �poca. O pr�prio ator comp�s, por exemplo, o "Hino da Legalidade".
No fim dos anos 1960, j� em S�o Paulo, ficou uma semana preso na Oban, Opera��o Bandeirante, sem que lhe fosse informado por qu�.
No cinema, s�o mais de 60 filmes, come�ando por "Os Fuzis", de Ruy Guerra, e "Terra em Transe", de Glauber Rocha, e "Toda Nudez Ser� Castigada", de Arnaldo Jabor. E pe�as sem conta, como "Roda Viva", de Chico Buarque, sob dire��o de Z� Celso.
Foi casado tr�s vezes e tem quatro filhos. Por n�o pagar a pens�o de dois deles, com a atriz Cissa Guimar�es, chegou a ser preso.
Hoje morador do Bixiga, em S�o Paulo, rodeado de teatros, ele acorda cedo, almo�a �s 11h. Ao longo da �ltima d�cada, parou de fumar, beber e tomar drogas e colocou um marca-passo.
Ao come�ar a entrevista, foi preciso trocar seu microfone, com bateria fraca, e ele brincou: "�, n�o estou precisando de pilha, n�o".
SISTEMA
Apesar da const�ncia em teatro e cinema, nunca passou de alguns poucos cap�tulos em TV. "Eu n�o entro no sistema, � uma incapacidade, s� consigo me colocar como 'outsider'", diz.
Ele relata que, numa passagem pela Globo, "irritava" os produtores pela falta de pontualidade. "O Lima Duarte, que eu gosto pra burro, dizia, 'os caras marcam de manh�, voc� chega � tarde, marcam de tarde, voc� chega de manh�. Voc� n�o quer fazer'".
No caso da HBO, afirma que "� um monstro do sistema americano, mas do sistema brasileiro, n�o". Na sua vis�o, a produtora e programadora "est� entrando", ainda que "com aquelas s�ries que est�o desbancando" a TV e o pr�prio cinema.
Entre as mudan�as que sa�da est� o fato de n�o haver mais os limites de tempo dos filmes. Conta que assistiu � primeira temporada de "House of Cards" de uma vez. Outra novidade bem-vinda � a troca de guarda no comando da cria��o, priorizando roteiros. Na s�rie, "quem escreve � o Cl�udio Torres, com outros. Ele � o 'showrunner'".
Diz Torres: "Eu nunca tinha trabalhado com o Pereio. Ele foi um doce, o contr�rio do que a gente espera, pela lenda. Ele foi amado pela equipe, que o idolatrava".
"Agora, como ator, ele � explosivo. Isso imprime muita verdade no que faz. � muito culto. Convidamos para fazer um general. Isso divertiu a cabe�a do Pereio. A gente costuma dizer que a �nica coisa pornogr�fica do 'Magn�fica 70' � o Pereio vestido de general."