Folha de S. Paulo


Transpar�ncias e 'mamilos livres' marcam semana de moda de Paris

Transpar�ncias e uso de roupas �ntimas como adornos marcam temporada de ver�o do evento franc�s, inspirado pelo movimento feminista que pede 'liberdade aos mamilos'

"Free the nipple". A �ltima moda em Paris � uma resposta literal ao movimento ("liberte o mamilo", em portugu�s), iniciado no ano passado na internet com hashtag hom�nima ao filme da ativista Lina Esco, de 2014 –cr�nica sobre a hipocrisia do discurso anti-topless nos EUA.

Na semana de moda parisiense, que terminou na quarta-feira (5), estilistas e celebridades fizeram a vers�o fashion da queima dos suti�s do concurso Miss Am�rica 1968, marco simb�lico da luta feminista por igualdade.

Bertrand Guay/AFP
Model Constance Jablonski presents a creation for Balmain during the 2017 Spring/Summer ready-to-wear collection fashion show, on September 29, 2016 in Paris. / AFP PHOTO / BERTRAND GUAY
A modelo Constance Jablonski durante o desfile da Balmain em Paris

J� no primeiro dia da temporada de ver�o 2017, a grife Saint Laurent colocou as modelos de peito aberto para os flashes em robes amarrados na gola. O estilista belga Anthony Vaccarello tamb�m investiu no fetiche, com couro e rendas, numa rever�ncia roqueira e er�tica aos anos 1980.

Na sequ�ncia, a Balmain revelou peda�os da pele em robes transparentes. Mais andr�gina, ainda que na mesma linha de pensamento, a nova diretora criativa da Lanvin, Bouchra Jarrar, tamb�m seguiu pelo caminho das transpar�ncias, numa �bvia lua de mel com o despudoramento corretinho da esta��o.

� que, quando se trata de grifes tradicionais como as do calend�rio de Paris, h� um tom de recato nesse bojo.

Em sua estreia na Dior, a italiana Maria Grazia Chiuri transformou o feminismo num espet�culo de bal�, com v�rias propostas de saias e vestidos de tule bordados com imagens pueris de cora��es, estrelas e s�mbolos do tar�.

H� outras maneiras, controversas, de usar a roupa �ntima sem jog�-la no lixo. O suti�, pe�a-chave da tend�ncia, apareceu como adorno, sem o vi�s utilit�rio, nos desfiles do estilista Giambattista Valli e das grifes Kenzo e C�line.

A modelo e celebridade das redes sociais Kendall Jenner, do cl� das irm�s Kardashian, aderiu � novidade. Por sua vez, a mais famosa da fam�lia, Kim, n�o atraiu o notici�rio apenas pelo assalto milion�rio que sofreu na madrugada da segunda (3) em seu hotel.

Bertrand Guay/AFP
A model presents a creation for Kenzo during the 2017 Spring/Summer ready-to-wear collection fashion show, on October 4, 2016 in Paris. / AFP PHOTO / BERTRAND GUAY
Modelo desfila cole��o ver�o 20174 da Kenzo

Poucas horas antes do roubo, fato mais comentado da semana, foi fotografada no desfile da Givenchy com um vestido rendado coberto por um robe de cetim. O truque de estilo � aposta da temporada.

Na grife Alexander McQueen, por exemplo, a estilista Sarah Burton mostrou a pe�a de cima da lingerie sobreposta a um palet� bordado.

EVOLU��O REBELDE

A ideia por tr�s desse ato de vestir para despir � abolir tra�os do aprisionamento do corpo que o suti� representa no guarda-roupa feminino.

Mesmo criado no in�cio do s�culo 20 e patenteado em 1914 pela ativista americana Mary Phelps Jacob (1891-1970)como uma esp�cie de "evolu��o rebelde" do espartilho, o suti� ainda faz refer�ncia ao tempo em que mulheres quebravam costelas e perfuravam pulm�es para mostrar corpos de s�lfide para os homens.

Com o passar dos anos, ele adquiriu contornos er�ticos e, paulatinamente, virou acess�rio de moda combinado � calcinha, � cinta-liga, � camisola e ao robe. Por isso, n�o dever� sair t�o cedo do corpo.

Do ponto de vista mercadol�gico, a sacada da lingerie aparente � uma mina de ouro para as grifes, atentas ao sucesso comercial de marcas como a americana Victoria's Secret e a italiana Intimissimi no ramo do pr�t-�-porter.

Os desfiles dessas etiquetas, sempre midi�ticos, atraem pelas produ��es extravagantes e pelas possibilidades de uso da roupa �ntima.

A "ousadia" dos desfiles em Paris, ent�o, vai al�m dos ideais de liberdade feminina. Para os empres�rios do luxo, que hoje t�m receita concentrada na venda de fragr�ncias e acess�rios, a roupa de baixo pode surgir como o "novo perfume", uma fatia do neg�cio mais barata, sensorial e sexy que a das roupas de fora.


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