Folha de S. Paulo


Maternidade na zona leste de SP � fechada ap�s morte de duas mulheres

A maternidade do Hospital Municipal da Cidade Tiradentes (zona leste), da gest�o Jo�o Doria (PSDB), est� fechada desde sexta-feira (17) por causa de uma suspeita de infec��o. Na semana passada, duas mulheres morreram no local sete dias ap�s darem � luz e, por isso, o local passa por investiga��o.

Os ind�cios s�o que os dois �bitos ocorreram por infec��o puerperal (leia abaixo). Uma das v�timas deu � luz � 0h58 do dia 6 e a outra, � 1h46 do dia 7. Ambas passaram por parto normal e foram liberadas dois dias depois do procedimento. Elas retornaram ao hospital dias depois, queixando-se de febre e dores na barriga, e morreram exatos sete dias depois do parto.

Rivaldo Gomes/Folhapress
Fachada do Hospital Municipal da Cidade Tiradentes, que teve a maternidade fechada ap�s morte de duas mulheres
Fachada de hospital da Cidade Tiradentes, que teve a maternidade fechada ap�s morte de duas mulheres

"At� um ano e meio atr�s, n�o t�nhamos mortes no per�odo p�s-parto, e nunca tivemos registro de infec��o puerperal. A evolu��o dos casos delas aponta essa infec��o, mas o quadro n�o era esse. A infec��o puerperal aparece no caso de cesarianas ou em partos prolongados, e elas tiveram parto normal e chegaram com os filhos quase nascendo", disse Rodrigo Cerqueira de Souza, coordenador do hospital.

"Isolamos todos os locais pelos quais passaram essas mulheres e estamos recolhendo amostras desde segunda. A investiga��o para causa dos �bitos dura de sete a dez dias. At� ela ser conclu�da, a maternidade fica fechada por precau��o."

O hospital n�o est� atendendo gestantes e indica como op��o locais a at� 11 km de dist�ncia (veja abaixo). Apenas em casos de emerg�ncia uma ambul�ncia transporta as gr�vidas. Ontem, nenhum dos atendentes falou sobre a suspeita de infec��o. Ao serem questionados, citaram "manuten��o geral" para justificar o fechamento da maternidade.

As m�es que estavam internadas no momento em que a maternidade fechou seguem por l� at� receberem alta. "Elas n�o correm nenhum risco porque nem elas nem os funcion�rios que as atendem passam pelos locais das mulheres que morreram, e estamos fazendo higieniza��o com �lcool gel e �gua corrente", diz Souza.

Apesar de a evolu��o dos casos apontar infec��o puerperal como causa das mortes das duas mulheres, o caso surpreende. De acordo com especialistas, a infec��o atinge todos os locais pelos quais passa o beb�, como vagina e �tero, e o risco aumenta � medida que demora o trabalho de parto –como quando a bolsa estoura muito antes de o beb� nascer, por exemplo. Cesarianas, por conta disso, representam maior perigo.

Segundo Souza, nenhuma das mulheres que morreram apresentaram qualquer risco para a infec��o nem sintomas t�picos da doen�a, como febre, �tero muito grande ou cheiro forte na regi�o. "Tamb�m n�o foram encontrados qualquer ind�cio de que a infec��o foi contra�da durante o pr�-natal", disse. Ele garante que nenhum dos filhos dessas mulheres corre risco de pegar a infec��o. "N�o passa por aleitamento materno."

"Essa infec��o pode demorar at� dez dias para se manifestar, pode ser que elas tenham vindo antes disso", afirma. Souza diz que sempre h� quatro cirurgi�es de plant�o no hospital e que, em rela��o a Adriana Anhaia, encontrou apenas um registro de retorno ap�s ela dar � luz. "O diagn�stico ficou mais confuso porque ela tinha pedra na ves�cula, o que poderia explicar as dores."

Adriana Anhaia, 33, morreu na manh� do �ltimo dia 14. Ela teve sua primeira filha e era casada havia cinco anos com o pai do beb�, Douglas Borges, 25 anos, que tem defici�ncia visual e, por isso, recebe como renda apenas o Loas, benef�cio social pago pelo INSS. "Ele nem consegue entrar na casa deles, procura outro lugar para alugar. Est� muito abalado", disse a auxiliar de expedi��o Rosangela Soares da Silva, 48, tia de Adriana.

Ela acompanhou todo o sofrimento da sobrinha nos dias que se seguiram ao parto e acusa o hospital de tentar esconder a infec��o. "Eles me ligaram �s 9h43 para ir ao hospital e ficaram me enrolando uma hora at� dizer que ela faleceu. Quando perguntei a hora do �bito, disseram 10h30. Falei que me ligaram antes disso e uma m�dica me puxou para dizer: 'vai estar registrado que foi por parada cardiorrespirat�rio, mas foi sujeira do parto'", relatou.

Rosangela diz que a sobrinha recebeu alta dois dias depois do parto, mesmo estando com febre, e que foi tr�s vezes ao hospital queixando-se, tamb�m, de dores na barriga. "No s�bado, deram rem�dio para gases. No domingo, fizeram ultrassom e disseram que estava normal. Na segunda, passamos o dia esperando sermos atendidas por um cirurgi�o e a internaram � noite. Na ter�a de manh�, ela faleceu."


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