Ele j� usou drogas, traficou, cometeu pequenos crimes e costumava andar com uma arma no carro em Miami, onde vivia. Sobreviveu e escapou de ir preso, como aconteceu com amigos de inf�ncia.
Aos 47 anos, o americano Carl Hart, professor de neuroci�ncia da Universidade Columbia (EUA), defende a descriminaliza��o das drogas e que pessoas sejam educadas para us�-las, reduzindo riscos.
Sob o ponto de vista neurocient�fico, defende que drogas n�o viciam na propor��o que se imagina -apenas 11% dos consumidores podem ser considerados viciados-, n�o prejudicam o desempenho de uma pessoa, nem causam danos cerebrais irrevers�veis.
"Nossos tr�s �ltimos presidentes [Bill Clinton, George Bush e Barack Obama] disseram ter usado. N�o falo isso como dem�rito, mas para mostrar que se pode usar drogas e ser produtivo", disse.
Em viagem ao Brasil para divulgar seu livro "Um Pre�o Muito Alto" (ed.Zahar), Carl Hart falou � Folha. Leia abaixo trechos da entrevista.
| Daniel Marenco/Folhapress | ||
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| O americano Carl Hart durante sua passagem pelo Brasil |
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Folha - H� alguns meses o governo do Rio decidiu internar compulsoriamente dependentes de crack. � eficaz?
Carl Hart - N�o importa se � legal ou ilegal, o que importa � que n�o � �tico. Mas, para entender isso, � preciso combater alguns pressupostos a respeito do crack e da coca�na. Muitas pessoas acreditam que quem usa droga fica fora de si, sem controle, o que � falso. Em alguns casos, a droga pode inclusive melhorar uma pessoa. A interna��o compuls�ria s� impede que voc� veja aquela pessoa drogada pela sua vizinhan�a.
Ent�o o que se deve fazer, por exemplo, com as crian�as que usam drogas nas ruas?
Devemos assegurar que todos sejam bem tratados e que a sociedade seja justa. Essas crian�as de rua, onde est�o seus pais? Eles tiveram oportunidade de empregos, de aprender a criar seus filhos de forma que soubessem como atender as expectativas dessa sociedade?
O sr. diz ser um mito a cren�a de que o v�cio � inevit�vel. Por que essa afirma��o � falsa?
Coletamos dados durante muitos anos e sabemos que o percentual de pessoas que usa coca�na ou outras drogas e n�o se vicia � de 89%. Os �ltimos tr�s presidentes americanos usaram drogas. Obama contou ter consumido coca�na algumas vezes; Bush disse que fumou maconha; Clinton tamb�m, apesar de tentar nos convencer de que n�o tragou. N�o falo isso como dem�rito, mas para mostrar que se pode usar drogas e ser produtivo.
As drogas causam danos cerebrais permanentes?
Usar coca�na � o mesmo que usar cafe�na ou �lcool. H� efeitos tempor�rios que procuramos quando usamos: ficamos alertas, nos sentimos melhor. Um orgasmo tamb�m causa efeitos no c�rebro, mas ningu�m diz que ele mudou definitivamente por isso. Atribuir esses danos � coca�na e ao crack � uma forma de separar as "pessoas m�s que usam coca�na" das "pessoas boas que n�o usam".
Se as drogas n�o viciam e n�o causam danos permanentes, por que combat�-las?
A pol�tica de combate s� � ben�fica para aumentar os or�amentos de seguran�a e favorecer aqueles ligados a essa ind�stria. Dizer que o crack � respons�vel pela criminalidade � mentir. No Brasil, antes da invas�o das drogas, os moradores de favela frequentavam a universidade? As drogas podem exacerbar v�rios problemas, mas n�o s�o as causadoras.
Se as drogas s�o um problema social, como lidar com o tema?
S�o duas propostas. Do ponto de vista legal, defendo a descriminaliza��o de todas as drogas, sem exce��o. Isso n�o significa legalizar, mas tirar da esfera criminal. Do ponto de vista de educa��o, proponho o ensino do b�sico sobre o uso de drogas.
Como assim?
Coisas pr�ticas, como dosagem. Quando h� aumento de dose, aumenta-se o risco. Tamb�m precisam aprender que h� organismos mais tolerantes. � necess�rio ensinar onde, como e com quem usar.