Folha de S. Paulo


Incertezas mundiais

As consequ�ncias internacionais da reincorpora��o da Crimeia pela R�ssia come�am a se fazer sentir. Os l�deres do G7 decidiram cancelar sua participa��o na confer�ncia de c�pula do G8, que deveria acontecer em junho em Sochi, cidade onde a R�ssia sediou recentemente os Jogos Ol�mpicos e Paraol�mpicos de inverno.

Mas a despeito de muito falat�rio por parte do Ocidente, e de modestas san��es impostas a membros do c�rculo mais pr�ximo a Putin, a rea��o geral dos mercados financeiros � crise da Crimeia e � potencial amea�a da R�ssia contra a Ucr�nia foi surpreendentemente discreta. Por�m, a quest�o mais importante permanece. Ser� que essa relativa calma � resultado de otimismo infundado ou existem motivos reais para preocupa��o?

Mohamed El-Erian tentou responder a essa pergunta no "Financial Times". Erian preside o conselho de desenvolvimento mundial do presidente Obama e agora se tornou o principal consultor econ�mico da Allianz, grupo multinacional alem�o de seguros e servi�os financeiros. A Allianz controla a Pimco, uma administradora de investimentos especializada em renda fixa sediada na Calif�rnia. Erian foi presidente-executivo da Pimco at� janeiro, quando causou surpresa ao anunciar sua demiss�o devido a discord�ncias com Bill Gross, cofundador da companhia. Erian deixou a Pimco na metade de mar�o.

Erian tem o h�bito de deixar empregos antes que a expans�o se torne contra��o. Ele comandou por dois anos a Harvard Management Company, que administra os US$ 32 bilh�es em ativos do fundo patrimonial da Universidade Harvard, obtendo retorno de 23% em um desses anos, antes de voltar � Pimco em setembro de 2007, um ano antes que estourasse a crise financeira, que resultou em queda de 27,3% no valor dos ativos de investimento de Harvard.

Erian adverte que a "resposta pl�cida oculta riscos geopol�ticos crescentes". Ele diz que os mercados desconsideraram as preocupa��es sobre as ambi��es de Putin da mesma forma que fizeram quanto ao Ir�, Iraque, Coreia do Norte, S�ria, Turquia, Venezuela e Tail�ndia, que eles encaram como marginais para a economia mundial, o com�rcio internacional e as redes financeiras. Eles tamb�m parecem acreditar que a situa��o financeira esteja melhorando na Am�rica do Norte e na Europa, e t�m f� no poder dos bancos centrais para isol�-los contra riscos pol�ticos e econ�micos.

Essa complac�ncia � perigosa. � bem prov�vel que o Ocidente aceite a anexa��o da Crimeia por Putin, que pode moderar suas ambi��es na Ucr�nia. Mas as tens�es geopol�ticas est�o se acumulando e podem chegar ao ponto de erup��o. Erian acredita que os mercados estejam subestimando o risco geopol�tico.

Tradu��o de PAULO MIGLIACCI


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