CL�UDIA COLLUCCI
DE S�O PAULO
H� 13 anos, a esteticista Ros�ngela Bittencourt, 53, recebeu um diagn�stico que lhe tirou o ch�o: tinha um tumor de mama e precisaria se submeter � retirada dos seios. Ap�s dois anos e muitas reuni�es da equipe m�dica, nada de a cirurgia ser marcada.
Ao mesmo tempo, Ros�ngela se aproximou das pr�ticas da medicina tradicional chinesa, adotou uma alimenta��o mais saud�vel e exerc�cios na rotina di�ria, al�m de diminuir o ritmo de trabalho.
"Entendi que, se meu corpo desenvolveu o tumor, ele poderia se livrar dele."
Foi quando tomou uma atitude radical: � revelia dos m�dicos, decidiu n�o fazer o tratamento proposto -cirurgia e hormonoterapia, bloqueio de horm�nios que estimulam o crescimento tumoral.
"As pessoas achavam que eu era maluca", diverte-se. A �ltima mamografia, feita h� tr�s anos, n�o aponta mais sinais de c�ncer, segundo ela.
Provavelmente, grande parte dos oncologistas continua considerando a atitude de Ros�ngela, no m�nimo, imprudente. Mas ela come�a a encontrar respaldo em estudos que apontam que, para certos perfis de tumor e de pacientes, o melhor tratamento pode ser n�o fazer nada.
O tumor de Ros�ngela, chamado carcinoma ductal in situ, � considerado n�o invasivo na maioria dos casos. As c�lulas anormais ainda est�o confinadas nos canais que drenam o leite materno.
"O problema � que n�o sabemos quais desses tumores v�o ou n�o progredir. Para uma mulher jovem, n�o fazer nada pode ser muito temeroso", afirma o mastologista Jos� Luiz Bevilacqua, do AC Camargo Cancer Center.
Segundo ele, faltam mais dados sobre as caracter�sticas do tumor e das pacientes para as quais "n�o tratar" seria uma op��o segura.
| Marcus Leoni/Folhapress |
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A esteticista Rosangela Bittencourt, que h� 13 anos descobriu um tumor de mama e decidiu n�o fazer o tratamento |
Essa postura "mais liberal", afirma ele, talvez possa ser aplicada a mulheres mais idosas, com tumores pequenos e de baixo grau de malignidade. "Voc� pode dar um [rem�dio] anti-horm�nio e � prov�vel que a pessoa vai morrer de outra coisa. �s vezes, a les�o at� desaparece."
Com o advento da mamografia, o diagn�stico do carcinoma ductal in situ aumentou de 3% para 25% em tr�s d�cadas. Mas o �ndice de mortalidade permaneceu inalterado, independentemente do tratamento adotado.
"Estamos identificando muitas altera��es, em raz�o do diagn�stico precoce, que n�o se tornariam um problema. Estamos operando e tratando muito, mas a mortalidade n�o caiu na mesma propor��o", diz o mastologista Antonio Frasson, do Hospital Albert Einstein.
Nos �ltimos anos, estudos apontaram que apenas 30% dos casos de carcinoma in situ evolu�ram para um tumor agressivo. O resto teve crescimento lento e sem malignidade. Em alguns, houve regress�o ou desaparecimento.
"Como n�o sabemos identificar esse paciente [de baixo risco] ou qual � o 'defeito' que pode evoluir para carcinoma invasor, tratamos todo mundo igual", afirma.
A quest�o � que ainda n�o h� exames tumorais, por exemplo, capazes de prever com precis�o quais c�lulas se tornar�o malignas, quando e como isso acontecer�.
Hoje, cinco centros da Universidade da Calif�rnia acompanham mulheres com carcinoma in situ que n�o ser�o submetidas a terapias para que seja avaliado o tipo de c�lula que pode evoluir ou n�o.
A proposta de acompanhar tumores em est�gio inicial de baixa malignidade e de crescimento lento n�o � exatamente nova. Chamada de vigil�ncia ativa, ela � adotada desde a d�cada de 1990 em casos de tumor de pr�stata.
Segundo Gustavo Guimar�es, chefe de urologia do AC Camargo, h� v�rios crit�rios de sele��o a serem adotados, como o paciente n�o ter n�dulos vis�veis e apresentar exame de PSA abaixo de 10.
Entre pacientes mais jovens, o tema � mais controverso porque h� riscos associados �s biopsias frequentes feitas para acompanhar a evolu��o do tumor.
"Podem ter sangramentos, processos inflamat�rios e fibrose. Se no futuro esse paciente tiver que ser operado, pode ser mais complicado", afirma Guimar�es.
O processo de vigil�ncia, diz, tem sido adotado com mais frequ�ncia para idosos. A partir dos 80 anos, n�o s�o mais indicadas biopsias ou exames de PSA para o paciente de baixo risco.
Nos casos de c�ncer de tireoide, a vigil�ncia � adotada com gr�vidas, desde que o tumor seja pequeno. "A gente acompanha a gravidez e a amamenta��o e opera depois sem preju�zo", diz o cirurgi�o Luiz Paulo Kowalski.