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Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 6, n. 2, p.5260-5277, mar./apr., 2023
A constru��o hist�rica do Autismo
The historical construction of Autism
DOI:10.34119/bjhrv6n2-063
Recebimento dos originais: 17/02/2023
Aceita��o para publica��o: 13/03/2023
Vilma Aparecida Bianchi
Doutora em Sa�de
Institui��o: Faculdade de Ci�ncias e Letras J�lio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus
de Assis - SP
Endere�o: Rua Jair Mariano Barbosa, N� 191, Jd. Monte Carlo, Assis – SP, CEP: 19815-365
E-mail: vilma.bianchi@unesp.br
Jorge Lu�s Ferreira Abr�o
Livre-doc�ncia em Psicologia Cl�nica
Institui��o: Faculdade de Ci�ncias e Letras J�lio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus de
Assis - SP
Endere�o: Av. Dom Antonio, 2100, Parque Universit�rio, Assis – SP, CEP: 19806-900
E-mail: jorge.abrao@unesp.br
RESUMO
O autismo infantil � um grave transtorno do desenvolvimento, que tem como consequ�ncia o
comprometimento da aquisi��o de algumas das habilidades indispens�veis para a vida humana
– a socializa��o. O objetivo geral da presente pesquisa � realizar uma an�lise da hist�ria da
constru��o da classifica��o psiqui�trica do Transtorno do Espectro Autista, buscando entender
as transforma��es do autismo. Analisar a forma como a classifica��o de TEA, � realizada
atualmente pelo DSM e como ela chegou at� o formato atual � imprescind�vel ao campo da
Sa�de Mental, e � o que se pretende com este trabalho. Tal forma de investiga��o auxiliar� a
retomada do percurso de edifica��o da psiquiatria da inf�ncia como um campo da medicina e
seu avan�o at� a atualidade a partir do desenvolvimento de nosografias psiqui�tricas mais
antigas, como a idiotia, at� a mais atual delas, o TEA. A quest�o da introdu��o de uma categoria
t�o abrangente, espectral, n�o fica bem explicada no percurso de leitura dos manuais. O autismo
� uma tem�tica altamente chamativa, pois mesmo com os estudos realizados at� o momento,
sua abordagem continua a desafiar profissionais de diferentes �reas. H� a necessidade de
empenho a fim de compreender fen�menos relacionados ao autismo em que existe pouca
explana��o e esclarecimento. S�o necess�rios mais estudos que investiguem n�o somente as
defici�ncias mas tamb�m as compet�ncias sociais destes indiv�duos. Pensa-se que o
conhecimento acerca dessas diferen�as possa ter implica��es para a identifica��o precoce da
s�ndrome, visto que as crian�as autistas mais competentess�o as que mais demoram a receber
tal diagn�stico.
Palavras-chave: Autismo, classifica��o, sa�de mental.
ABSTRACT
Childhood autism is a serious developmental disorder, which has as a consequence the
impairment of the acquisition of some of the indispensable skills for human life - socialization.
The general objective of the present research is to carry out an analysis of the history of the

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construction of the psychiatric classification of Autism Spectrum Disorder, seeking to
understand the transformations of autism. Analyzing the way in which the classification of ASD
is currently performed by the DSM and how it reached the current format is essential in the
field of Mental Health, and that is what is intended with this work. Such a form of investigation
will help the resumption of the path of construction of child psychiatry as a field of medicine
and its advancement to the present day from the development of older psychiatric nosographies,
such as idiocy, to the most current of them, the ASD. The question of introducing such a broad,
spectral category is not well explained in the course of reading the manuals. Autism is a highly
attractive topic, because even with the studies carried out to date, its approach continues to
challenge professionals from different areas. There is a need for effort in order to understand
phenomena related to autism in which there is little explanation and clarification. More studies
are needed to investigate not only the disabilities but also the social skills of these individuals.
It is thought that knowledge about these differences may have implications for the early
identification of the syndrome, since the most competent autistic children are the ones who take
the longest to receive such a diagnosis.
Keywords: Autism, classification, mental health.
1 INTRODU��O
O autismo infantil � um grave transtorno do desenvolvimento, que tem como
consequ�ncia o comprometimento da aquisi��o de algumas das habilidades indispens�veis para
a vida humana. Dentre as caracter�sticas desse transtorno, pode-se citar os preju�zos nas
intera��es sociais, defici�ncias na comunica��o verbal e n�o-verbal e a limita��o das atividades
e dos interesses. Todo esse quadro interfere diretamente no ambiente escolar, na rela��o entre
aluno e docente e at� mesmo entre alunos especiais e os considerados normais.
O Transtorno Espectro Autismo –TEA/autismo trata-se de um transtorno neurol�gico
que afeta tanto o meio social do indiv�duo, quanto a sua comunica��o, seja ela verbal
ou n�o verbal. Quanto mais cedo for diagnosticado a s�ndrome na crian�a, melhor
ser� seu desenvolvimento em rela��o, a comunica��o, aprendizado e
comportamento (Ara�jo, 2022).
As revis�es peri�dicas das classifica��es diagn�sticas psiqui�tricas costumam despertar
grande interesse dos profissionais, porque, por um lado, elas partem dos balan�os sobre as
conquistas, impasses e fracassos das vers�es anteriores e, de outro, porque, com base nelas, s�o
tra�ados novos rumos no campo (Banzato, 2004). Atualmente, a Sa�de P�blica Brasileira adota
dois principais sistemas de classifica��o:
1 - a Classifica��o Internacional de Doen�as e Problemas Relacionados com a Sa�de,
comumente designada pela sigla CID, publicada pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS),
que pode ser usada para estat�sticas de morbidade e de mortalidade, sistemas de reembolso e de
decis�es autom�ticas de suporte em medicina; esse sistema foi desenhado para permitir e

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promover a compara��o internacional de cole��o, processamento, classifica��o e apresenta��o
do tipo de estat�sticas (CREMESP, 2012) e encontra-se em sua 10� edi��o;
2 - o Manual Diagn�stico e Estat�stico de Transtorno Mentais, designado como DSM,
atualmente em sua quinta vers�o, elaborado pela Associa��o Americana de Psiquiatria, para
definir como � feito o diagn�stico de transtornos mentais, e tamb�m com objetivos que visam ao
aux�lio das decis�es sobre as melhores aplica��es dos recursos financeiros p�blicos com base
em dados estat�sticos.Sabe-se haver uma �ntima liga��o entre o desenvolvimento de sistemas
classificat�rios e a busca por uma ancoragem cient�fica para a Psiquiatria, como se a cunhagem
de um sistema classificat�rio o mais universaliz�vel poss�vel fosse o suficiente para edificar a
consist�ncia de um campo (Banzato, 2004) que, paradoxalmente, tem como condi��o ser
atravessado por incont�veis vari�veis humanas.
Os impactos sociais, �ticos e pol�ticos dessa nova forma de diagnosticar o autismo, com
base em seus deslizamentos taxon�micos, n�o se mostraram nada sutis. Por exemplo, o DSM-III,
1980 (o primeiro DSM a trazer o autismo como uma classifica��o psiqui�trica) afirmava
estatisticamente existir uma varia��o de dois a quatro casos de autismo infantil a cada 10 mil
crian�as. Segundo o que comunicaram os Centros de Controle e Preven��o de Doen�a em 2014,
esta estat�stica atualmente est� em torno de uma a cada 68 crian�as, o que representa um n�mero
7350 vezes maior do que h� 34 anos (MAS, 2018).
Com isso, a escolha por esse objeto de pesquisa se deu porque a introdu��o de uma
categoria globalizante, com a finalidade de estabelecer uma “unificadora ‘linguagem comum’”,
infelizmente, exemplifica os efeitos que podem advir dessa pretens�o, a saber, uma epidemia
de pessoas, incluindo crian�as e beb�s, diagnosticados com TEA.
No diagn�stico do transtorno do espectro autista, as caracter�sticas cl�nicas individuais
s�o registradas por meio do uso de especificadores (com ou sem comprometimento intelectual
concomitante; com ou sem comprometimento da linguagem concomitante; associado a alguma
condi��o m�dica ou gen�tica conhecida ou a fator ambiental), bem como especificadores que
descrevem os sintomas autistas (idade da primeira preocupa��o; com ou sem perda de
habilidades estabelecidas; gravidade) (APA, 2015).
Tais especificadores oportunizam aos cl�nicos a individualiza��o do diagn�stico e a
comunica��o de uma descri��o cl�nica mais rica dos indiv�duos afetados. Por exemplo, muitos
indiv�duos anteriormente diagnosticados com transtorno de Asperger atualmente receberiam
um diagn�stico de transtorno do espectro autista sem comprometimento lingu�stico ou
intelectual (APA, 2015).

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Segundo Hacking (1999), se est� especialmente preocupado com classifica��es que,
quando conhecidas por pessoas que as receberam ou por pessoas pr�ximas destas, ou quando
colocadas para circular institucionalmente, interferem no modo de ser dos indiv�duos que as
experienciam – de diferentes maneiras, essas classifica��es levam estas pessoas a se envolverem
com suas emo��es e seus comportamentos muito porque elas s�o classificadas de determinada
forma.
Analisar a forma como a classifica��o de TEA, � realizada atualmente pelo DSM e como
ela chegou at� o formato atual � imprescind�vel ao campo da Sa�de Mental, e � o que se pretende
com este trabalho.
Escolhendo, assim, como formato de investiga��o qualitativa, a pesquisa bibliogr�fica.
De acordo com Severino (2007, p.122), a pesquisa bibliogr�fica “se realiza a partir do registro
dispon�vel, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos,
teses, etc. E utiliza-se de dados ou de categorias te�ricas j� trabalhados por outros pesquisadores
e devidamente registrados”.
Segundo Mas (2018), tal forma de investiga��o auxiliar� a retomada do percurso de
edifica��o da psiquiatria da inf�ncia como um campo da medicina e seu avan�o at� a atualidade
a partir do desenvolvimento de nosografias psiqui�tricas mais antigas, como a idiotia, at� a mais
atual delas, o TEA.
Com base no que foi apresentado at� aqui acerca dos efeitos da linguagem comum na
classifica��o em psiquiatria, considerando a epidemia de diagn�sticos de TEA em crian�as, o o
objetivo geral da presente pesquisa � realizar uma an�lise da hist�ria da constru��o da
classifica��o psiqui�trica do Transtorno do Espectro Autista, buscando entender as
transforma��es do autismo.
2 REVIS�O DE LITERATURA
A perspectiva epistemol�gica apresentada por Paul Bercherie em seu artigo, A cl�nica
psiqui�trica da crian�a, foi utilizada como eixo norteador nessa parte da pesquisa, a fim de
avan�armos na an�lise do percurso hist�rico desde a no��o da crian�a idiota do s�culo XIX at�
a crian�a autista de Leo Kanner, para assim adentrarmos no ponto principal desta pesquisa: a
an�lise da constru��o hist�rica da classifica��o diagn�stica do Transtorno do Espectro Autista
(TEA).
Essa forma de investiga��o tamb�m ser� muito importante na leitura sequenciada e
comparativa das cinco vers�es do DSM, essenciais para o esclarecimento do caminho
percorrido pelos deslizamentos taxon�micos das classifica��es psiqui�tricas consideradas por

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n�s precursoras do TEA at� o TEA propriamente dito. De acordo com Mas (2018), foram
analisadas detalhadamente as edi��es e revis�es do Manual Diagn�stico e Estat�stico de
Transtornos Mentais (DSM), com a finalidade de contribuir com as discuss�es pol�ticas da
inf�ncia no campo da Sa�de Mental, mostrando como o autismo, nos seus prim�rdios, era
considerado apenas sintoma de uma afec��o – a esquizofrenia – e, com o passar das edi��es do
DSM, foi sendo transformado em um dos principais diagn�sticos psiqui�tricos para a crian�a
atualmente.
Procurou-se estabelecer rela��es entre cada nova edi��o e o fortalecimento da
psiquiatria enquanto campo detentor do fazer com a loucura infantil, com a crescente influ�ncia
da farmacologia e das neuroci�ncias, que foram decisivos para o desenvolvimento de
procedimentos classificat�rios baseados na descri��o do comportamento, favorecendo a
indica��o de terapias cognitivo-comportamentais (Coutinho et al., 2013).
Esse caminho levou em considera��o crit�rios como: a) a quantidade de sinais
indicativos de transtornos t�picos da inf�ncia; b) quais deles se ajustaram ao campo do que
futuramente foi nomeado como TEA; c) como tais sinais se modificaram ao longo do tempo;
d) quais sinais se ligaram com maior frequ�ncia e conexidade entre si ao longo do tempo; e e)
se houve aumento ou diminui��o da precis�o descritiva de tais sinais de uma edi��o para outra.
3 DA IDIOTIA � LOUCURA
A apresenta��o da hist�ria da psiquiatria infantil � uma tarefa atravessada por muitos
detalhes, como os aspectos gen�ticos, neurol�gicos e som�ticos de um ser biologicamente
imaturo, bem como os fen�menos ps�quicos, os fatores sociais e culturais determinantes que
dizem respeito � constitui��o da crian�a (Cirino, 2015). Apesar dessa complexidade, Oscar
Cirino (2015), em seu texto Genealogia da psiquiatria da inf�ncia, concebe tr�s perspectivas
para a apresenta��o do caminho percorrido pelo campo m�dico, na composi��o da psiquiatria
infantil: a perspectiva Descritiva, a Epistemol�gica e a Geneal�gica.
Entre as tr�s, a perspectiva epistemol�gica se configura como uma da mais relevantes
ao desenvolvimento desse cap�tulo da pesquisa, uma vez que oferece meios de investigar a
constru��o dos diferentes conceitos e no��es presentes tanto nos tratados de psiquiatria e
psicopatologia como nas teorias psicol�gicas e pedag�gicas sobre a crian�a.
Um dos principais artigos encontrados sobre a Hist�ria da Psiquiatria Infantil, A cl�nica
psiqui�trica da crian�a: um estudo hist�rico, 1983, de Paul Bercherie, problematizou estudos
elaborados por m�dicos como Phillipe Pinel, Esquirol, S�guin, Morel, Sante de Sanctis, Meyer,
Gesell e Leo Kanner, com o objetivo de esclarecer a g�nese e o desenvolvimento de

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nomenclaturas – como idiotia; dem�ncia precoc�ssima; esquizofrenia infantil e a S�ndrome
Aut�stica Precoce – que fortaleceram, cada qual a sua maneira, o lugar da crian�a na cl�nica
psiqui�trica. Com base na an�lise de tais pesquisas, Bercherie (2001) divide a Hist�ria da
Psiquiatria Infantil em tr�s momentos: um primeiro no qual vigorava a discuss�o sobre a no��o
de retardamento mental; um segundo no qual os esfor�os dos cl�nicos e pesquisadores estavam
voltados para encontrar nas crian�as as mesmas s�ndromes mentais descritas nos adultos e, por
�ltimo, um que partia da concep��o de uma ordem pr�pria de exist�ncia e racionalidade na
inf�ncia.
O primeiro per�odo cobre os tr�s primeiros quartos do s�culo XIX. Ele �
exclusivamente consagrado � discuss�o da no��o de retardamento mental, tal como
constitu�da por Esquirol j� antes de 1820, sob o nome de idiotia. N�o se trata, ali�s, de
uma no��o elaborada a partir de uma observa��o da crian�a, mas de um conceito que
marca um momento capital da forma��o da psiquiatria do adulto. De fato, Pinel havia
descrito, em seu Tratado da Mania, o idiotismo, definindo-o como uma oblitera��o das
faculdades intelectuais e afetivas do conjunto da atividade mental, ficando o sujeito
reduzido a uma exist�ncia vegetativa, com alguns resqu�cios de manifesta��es
psicol�gicas: devaneios, sons semi-articulados, crises de agita��o. Este estado poderia
ser adquirido e, portanto, cur�vel ou cong�nito e irrevers�vel; Pinel o diferencia da
dem�ncia, aboli��o do pensamento no sentido condillaquiano do ju�zo, com as
faculdades mentais s� se manifestando na incoer�ncia e na desordem. Ele o
diferenciava tamb�m do del�rio geral man�aco e do del�rio parcial
melanc�lico.Esquirol n�o modifica o esp�rito dessa nosologia sindr�mica, que
descreve os estados mentais, quadros de apreens�o imediata, cujo conceito se constr�i
em torno do tra�o mais central, mais evidente das manifesta��es patol�gicas. Contudo,
ele separa o idiotismo adquirido do idiotismo cong�nito, que, para ele, ser� a idiotia;
o idiotismo adquirido tornar-se-� a forma aguda da dem�ncia, antes que Georget lhe
conceda autonomia como estupidez (BERCHERIE, 2001, p.130).
Os autores dessa �poca n�o pressupunham a possibilidade de existir a loucura da crian�a.
Wilhelm Griesinger, m�dico, psiquiatra e personagem central da psiquiatria alem� (Pereira,
2007), em seu Tratado sobre patologia e terap�utica das doen�as mentais, 1845, demonstra bem
a ideia de que a loucura da crian�a � essencialmente a idiotia:
...o eu nessa idade n�o est� ainda formado de maneira est�vel para apresentar uma
pervers�o dur�vel e radical; assim, as diversas doen�as produzem nas crian�as
verdadeiras interrup��es no desenvolvimento, que atingem a intelig�ncia em todas
as duas faculdades (Griesinger apud Bercherie, 2001, p.132).
Como a loucura estaria impossibilitada � crian�a, as discuss�es subsequentes giravam
em torno do grau de irreversibilidade do retardamento mental. Duas principais concep��es
tiveram destaque nessas discuss�es: a que falamos at� aqui, de Pinel e Esquirol, para os quais
o d�ficit era global e definitivo e o progn�stico inteiramente negativo; e dos educadores de
idiotas, S�guin e Delasiauve, para os quais o d�ficit aparentava ser, na maior parte do tempo,

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parcial e relativo �s faltas de aten��o, de concentra��o e de vontade, mas, no entanto, o
desenvolvimento mental s� era comprometido quando a educa��o se limitava �s suas
modalidades tradicionais (Bercherie, 2001, p. 132).
Tal bordeamento entre a psiquiatria e a pedagogia no campo da sa�de da crian�a n�o
deixou de promover, segundo Oscar Cirino, 2015, certo ponto de tens�o entre as respectivas
posi��es diante da idiotia. Essa diverg�ncia, segundo o autor, possibilitou um deslizamento
taxon�mico da idiotia � no��o de anormalidade, abrindo, assim, espa�o para outra concep��o
etiol�gica no campo das patologias infantis, al�m das org�nicas: a forma��o subjetiva da crian�a
(Cirino, 2015).
Atentar-se para a forma��o subjetiva infantil possibilitou – a partir de 1845 – uma
mudan�a no modo de compreens�o do sofrimento ps�quico da crian�a, trazendo consequ�ncias
decisivas ao campo da psiquiatria, principalmente no que se refere � possibilidade do tratamento
de crian�as anormais. Caso a anormalidade fosse entendida como doen�a mental, ou dem�ncia,
as crian�as teriam um progn�stico diferente do que se ela fosse entendida sob o nome de
defici�ncia. Seria, ainda, tamb�m em consequ�ncia desse desalinho entre os campos da
Psiquiatria e da Pedagogia que surgiria, por sua vez, o segundo momento hist�rico analisado
por Bercherie.
4 DA LOUCURA AO ESPECTRO
Com extens�o de 1880 at� meados do s�culo XX – momento no qual se firma tamb�m a
cl�nica psiqui�trica cl�ssica do adulto –, a cl�nica psiqui�trica infantil passou a fazer uso da
cl�nica e da nosologia elaboradas para os adultos, como se n�o houvesse diferen�as entre uma
crian�a e o adulto que ela poderia vir a ser (Cirino, 2015). Em outras palavras, a diacronia e a
etiopatogenia da doen�a mental passam a ser condi��es para o diagn�stico do quadro infantil,
como aponta Bercherie na passagem abaixo:
A princ�pio e antes de qualquer coisa, a cl�nica torna-se diacr�nica: j� n�o se trata
mais de descrever estados, mas doen�as, estabelecendo-se um ciclo de quadros
cl�nicos ao longo de uma evolu��o temporal regrada; seu modelo � paralisia geral com
suas fases delirante, man�aca, demencial e estuporosa terminal. Em seguida, a cl�nica
se quer etiopatog�nica, isto �, cada grupo de entidades cl�nico-evolutivas deve poder
apoiar-se sobre uma constela��o de causas e de mecanismos patol�gicos t�picos. Trata-
se de uma concep��o essencialmente m�dica e som�tica dos transtornos mentais,
concebidos como doen�as do c�rebro (Bercherie, 2001, p.133).
� nesse contexto que as doen�as mentais adquiridas – como as psicoses ex�genas ou
outras “doen�as mentais adquiridas que t�m causas patol�gicas provindas da rubrica

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correspondente na medicina do corpo” (Bercherie, 2001,p.133), ser�o colocadas em oposi��o
�s doen�as mentais constitucionais, como a idiotia ou “aquelas que se enra�zam em um terreno
psicol�gico particular, uma degeneresc�ncia mental heredit�ria ou adquirida precocemente na
exist�ncia” (Bercherie, 2001, p.133).
De acordo com Mas (2018), a quest�o da constitucional recebe destaque do autor, pois
estaria relacionada ao fundo origin�rio dos transtornos, permitindo compreend�-los como
oriundos de um defeito ou insufici�ncia do desenvolvimento de certas faculdades mentais que,
por sua vez, d�o origem �s no��es de desequil�brio, desarmonia evolutiva – uma edi��o mais
atual do conceito de retardamento, embora aplicada �s partes e n�o ao todo da afecc��o.
De acordo com Bercherie (2001), a busca de uma denominador comum entre os
transtornos das inf�ncias e adolesc�ncia e dos adultos significaria que, a partir desse momento,
as crian�as desadaptadas estariam sendo diagnosticadas sob os nomes de: mania, excita��o,
depress�o, melancolia, obsess�o, fobia, alucina��o, del�rio, loucura moral (pervers�o) e neurose
(histeria, epilepsia, cor�ia, tiques).
A diferencia��o no campo do retardamento entre as formas cong�nitas e as adquiridas
nos primeiros anos de vida, as dem�ncias infantis, aparece nesse momento. Poder incluir no
campo cl�nico o problema etiol�gico, como vimos desde Esquirol, foi essencial para que
quest�es conceituais sobre os “transtornos mesntais” avan�assem, culminando, por exemplo,
em novas classifica��es nosol�gicas, como a de dem�ncias precoc�ssimas – sobre a qual Heller
(1906) faz uma descri��o importante:
Trata-se do aparecimento a partir de 3-4 anos, em crian�as, que at� ent�o, haviam tido
um desenvolvimento normal, de um estado de morosidade e indiferen�a, com
negativismo, oposi��o, transtornos afetivos (c�lera, ansiedade), seguidos de uma
desagrega��o da linguagem e de diversos transtornos motores bastante caracter�sticos:
agita��o, estereotipias, maneirismo, catatonia, impuls�es. (...) suspeita de epis�dios
alucinat�rios e delirantes. A crian�a cai em seguida, bastante rapidamente, em uma
completa “idiotia”, n�o mais se alimenta de maneira aut�noma, torna-se incontinente,
perde o uso da linguagem. (...) Heller destaca a persist�ncia de uma certa capacidade
de aten��o e de focaliza��o e, sobretudo, a conserva��o de uma fisionomia inteligente,
que diferencia nitidamente essas crian�as dos verdadeiros retardados (Heller Heller
apud Bercherie, 2001, p.135.)
Paulo Dalgalarrondo, em seu livro Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos
Mentais (2008), considera que Bleuler (1911) tamb�m utilizou a palavra autismo pela primeira
vez para denominar uma forma especifica de esquizofrenia: a S�ndrome Aut�stica da
Esquizofrenia.
Ela inclu�a a dificuldade ou incapacidade de estabelecer contato afetivo com outras
pessoas e retra��o do conv�vio social, inacessibilidade do mundo interno do paciente, atitudes

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e comportamentos r�gidos, pensamento desorganizado ou idiossincr�tico e perda de hierarquia
em valores, objetos e ambi��es, e, em casos extremos, o mutismo e o comportamento
negativista tamb�m estavam presentes na sintomatologia desse quadro – ponto que ser�
trabalhado mais detalhadamente mais adiante (Dalgalarrondo, 2008).
Com dura��o de 1930 a 1980, o terceiro per�odo da Hist�ria da Psiquiatria Infantil
identificado por Bercherie (2001) concebe, enfim, a inf�ncia com ordem pr�pria de exist�ncia e
racionalidade, invertendo o paradigma de interpreta��o da inf�ncia – n�o seria mais o adulto
que explicaria a crian�a que existiu, mas, sim, a crian�a que explicaria o devir adulto.
Mas (2018) descreve que a colabora��o da pediatria e a influ�ncia das ideias
psicanal�ticas sobre a cl�nica da psicopatologia infantil fazem algumas manifesta��es
patol�gicas da crian�a nesse per�odo passarem a ser pensadas tanto sob o modelo da histeria,
tanto como pelas formas de convers�o ou de express�o substitutiva das dificuldades que a
crian�a encontra ao se relacionar, como sob a �tica dos fen�menos psicossom�ticos.
Foi nesse �ltimo per�odo analisado que p�de ser observada a possibilidade de a
psicopatologia se transformar em um campo mais explorado pela psican�lise do que pela
psiquiatria, uma vez que a primeira exerce influ�ncia dominante sobre a cl�nica infantil:
A descoberta de que toda manifesta��o psicopatol�gica � o resultado de um conflito
ps�quico e que nesse conflito, em sua express�o atual no adulto, repete a hist�ria
infantil do sujeito, adquire no quadro da cl�nica infantil uma resson�ncia muito
pr�pria, pois � de uma situa��o conflitiva atual, ou pelo menos recente, que dependem,
ent�o, as perturba��es psicol�gicas (Bercherie, 2001, p.136).
A mudan�a de par�metro diagn�stico foi muito importante, pois ela contribuiu, com
efeito, para um momento muito prof�cuo no campo da pedo-psiquiatria (palavra utilizada para
designar o campo psiqui�trico da inf�ncia naquele momento), afinal ela traz consigo aquisi��es
para a cl�nica psiqui�trica da crian�a (Mas, 2018).
Utilizando a no��o de autismo forjada por Eugen Bleuler como um dos principais
sintomas da esquizofrenia, Kanner descreveu 11 crian�as cujo dist�rbio caracter�stico seria “a
incapacidade de se relacionarem de maneira normal com as pessoas e situa��es, desde o
princ�pio de suas vidas” (Kanner, 1943, p.243 apud Brasil, 2015).
� importante notar que a quest�o etiol�gica tamb�m n�o passou despercebida por Leo
Kanner, que, mesmo n�o tendo certeza sobre a causa do autismo, n�o tardou em aventar o
inatismo como tal.
O segundo m�dico, psiquiatra e pesquisador que falou sobre autismo com um ano de
diferen�a de Leo Kanner (1945) foi Hans Asperger (1991). Tamb�m austr�aco, mas residente

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em Viena, em 1944 ele escreveu o artigo Psicopatia Aut�stica na Inf�ncia, no qual tamb�m
utilizava o termo cunhado por Bleuler para descrever quatro crian�as que, na vis�o do autor,
apresentavam como quadro central dificuldades em relacionarem-se (Mas, 2018).
No entanto, a interpreta��o que o psiquiatra prop�s a essa quest�o foi que isso se daria
em decorr�ncia do alto n�vel de originalidade no pensamento e nas atitudes das crian�as (Brasil,
2015, p. 21):
As caracter�sticas autistas apareceriam a partir do segundo ano de vida e seriam
persistentes. Haveria pobreza de express�es gestuais e faciais e, quando as crian�as
eram inquietas, sua movimenta��o era estereotipada e sem objetivo, podendo haver
movimentos r�tmicos repetitivos. Suas falas seriam artificiais, mas teriam atitude
criativa em rela��o � linguagem, exemplificada pelo uso de palavras incomuns e
neologismos. Outro ponto positivo seria sua capacidade de enxergar eventos a partir
de um ponto de vista original, com campos de interesses diferentes dos apresentados
pelas outras crian�as de sua idade (especialmente ligados �s ci�ncias naturais), o que
desvelaria sua “surpreendente maturidade”.
Seu ref�gio na abstra��o, sua inventividade e sagacidade seriam diretamente
proporcionais ao seu afastamento do ambiente imediato. Seu aprendizado cotidiano
dependeria de regras e leis claras, n�o se baseando na imita��o natural e inconsciente
dos comportamentos dos adultos, como ocorreria com as crian�as “normais”. No
campo das emo��es, n�o se encontrava pobreza afetiva, mas sim uma altera��o
qualitativa, a desarmonia nas emo��es e na disposi��o. A falta de harmonia entre afeto
e intelecto explicaria a hipo ou hipersensibilidade no campo dos instintos sexuais e do
apetite e tamb�m suas peculiares rea��es a sons e ao toque. Seu “extremo
egocentrismo” muitas vezes se aliaria a atitudes de mal�cia com as pessoas, sendo
tamb�m caracter�stica a falta de senso de humor.
Ao contr�rio dos casos de Kanner, que demonstravam ter boas rela��es com os
objetos, as crian�as de Asperger teriam rela��es at�picas tanto com as pessoas quanto
com os objetos, ignorando certos elementos do ambiente ou se fixando
exageradamente em outros. Seu olhar n�o se deteria por muito tempo nas coisas e
deslizaria sobre as pessoas. Al�m disso, algumas crian�as se dedicavam a cole��es
ex�ticas ou in�teis ou � ordena��o de objetos. Asperger atribuiu tais problemas a uma
defici�ncia biol�gica, especialmente gen�tica, n�o especulando sobre aspectos
psicodin�micos (Asperger, 1991, apud Brasil, 2015, p. 21-22).
Diferentemente do de Kanner, que ganha destaque desde sua publica��o em 1943, esse
artigo de Asperger passa a ser conhecido apenas a partir de um outro artigo da m�dica e psiquiatra
inglesa Lorna Wing, em 1981 (Brasil, 2015) e, embora na Linha de Cuidado, o Minist�rio da
Sa�de diga que:
O artigo de Wing (1981) propiciaria o gradual fortalecimento da no��o de continuum
ou “espectro do autismo” nos anos e nas d�cadas seguintes e contribuiria para que a
“s�ndrome de Asperger” fosse incorporada � classifica��o psiqui�trica nos anos 1990
(Brasil, 2015, p.27).
� v�lido pontuar que, apesar de Leo Kanner ter sido o pioneiro na publica��o do termo
autismo como uma patologia, outro psiquiatra, agora de Viena, chamado Hans Asperger (1944),
exp�s quadros cl�nicos semelhantes ao autismo, como por exemplo, no que se refere �

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perturba��o existente no contato afetivo. Sua obra, por�m, n�o teve muita repercuss�o na �poca,
visto que sua publica��o ocorreu em l�ngua alem� e ao t�rmino da Segunda Guerra Mundial
(Marfinati e Arag�o, 2014).
Para Segundo Mas (2018), fica pouco especificado o que est� sendo nomeado de
espectro ou continuum pela classifica��o diagn�stica do DSM-V (APA, 2015). Por exemplo,
na seguinte passagem, “os sintomas desses transtornos representam um continuum �nico de
preju�zos com intensidades que v�o de leve a grave nos dom�nios de comunica��o social e de
comportamentos restritivos e repetitivos em vez de constituir transtornos distintos” (APA,
2015,p. xlii).
Ainda de acordo com Mas (2018), � poss�vel afirmar que a concep��o de continuum
seria a mesma de uma progress�o linear? E mais, apesar da implementa��o dessa nova forma
de classifica��o ser justificada para melhorar a sensibilidade e a especificidade dos crit�rios
para o diagn�stico de transtorno do espectro autista e para identificar alvos mais focados de
tratamento para os preju�zos espec�ficos observados (APA, 2015).
Segundo Mas (2018), de que forma se pretende fazer que um diagn�stico se torne mais
sens�vel e mais espec�fico, se o agrupamento de categorias diagn�sticas antes englobadas pelos
transtornos globais do desenvolvimento e pelos transtornos globais do desenvolvimento sem
outra especifica��o gera apenas uma categoria – o TEA? N�o seria o contr�rio?
Estamos diante de uma classifica��o t�o generalista em sua descri��o, que � capaz de
englobar a maior parte de sinais problem�ticos vindos de crian�as – relacionamentos e
interesses restritos, fala ausente ou prec�ria, comunica��o n�o verbal deficit�ria.
A problem�tica do conceito de autismo em rela��o a sua distin��o com a psicose e a
esquizofrenia infantil � bastante controversa ao longo de sua hist�ria, e tamb�m est� presente
nos manuais psiqui�tricos:
As primeiras edi��es da CID n�o fazem qualquer men��o ao autismo. A oitava edi��o
o traz como uma forma de esquizofrenia, e a nona agrupa-o como psicose infantil. A
partir da d�cada de 80, assiste-se a uma verdadeira revolu��o paradigm�tica no
conceito, sendo o autismo retirado da categoria de psicose no DSM-III e no DSM-III-
R, bem como na CID-10, passando a fazer parte dos transtornos globais do
desenvolvimento (Bosa, 2002, p. 28).
Hoje em dia, portanto, de acordo com os manuais psiqui�tricos DSM-V (APA, 2015) e
CID-10 (OMS, 2011), o autismo � considerado, respectivamente, como Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento e como Transtorno Global do Desenvolvimento (Marfinati e Arag�o, 2014).

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5 AS CLASSIFICA��ES PSIQUI�TRICAS: HIST�RICO GERAL
A classifica��o dos transtornos mentais em psiquiatria desde seu in�cio em 1798
permanece um desafio n�o s� pelas hist�rias das nomenclaturas, mas tamb�m pelo movimento
pol�tico que se releva no processo de suas constru��es (Berrios, 2008). Em seu artigo
Classifica��es em psiquiatria: uma hist�ria conceitual, 2008, o professor universit�rio em
psiquiatria e consultor em neuropsiquiatria pelo departamento de psiquiatria da Universidade de
Cambridge, German E. Berrios, ressalta que, a partir do s�culo XIX, as concep��es das
classifica��es psiqui�tricas podem ser agrupadas:
...de acordo com o crit�rio de elas assumirem ou n�o que os princ�pios da classifica��o
�cient�fica� s�o universais e 1) se aplicam � psiquiatria diretamente; 2) se aplicam �
psiquiatria guardadas propor��es; 3) eles s�o em absoluto aplic�veis (Berrios, 2008, p.
114)
De acordo com Berrios (2008), muito embora nunca se tenha chegado a uma resposta
convencional acerca de como se poderia decidir qual das tr�s concep��es estaria correta:
(...) � mais prov�vel que, at� o momento, a quest�o n�o tinha tido resposta; nenhuma
ci�ncia (incluindo-se a f�sica) foi capaz de desenvolver um �teste emp�rico crucial� que
possa decidir entre sistemas conceituais rivais. H� complica��o adicional de que a
�pesquisa emp�rica� est� associada a uma concep��o na qual a natureza e seus objetos
s�o plenamente independentes da mente, t�m uma �estrutura matem�tica�, etc. e,
portanto, de que ela n�o possa ser usada para comparar duas epistemes diferentes,
particularmente, quando uma delas pode de fato rejeitar essa concep��o particular de
natureza. Em vista de tudo isso, esperar que a psiquiatria desenvolva um teste crucial
� utopia (ou seja, apenas pela pesquisa emp�rica ela nunca ser� capaz de identificar uma
classifica��o �real� dos transtornos mentais) (Berrios, 2008, p. 115).
O que o autor prop�e, a partir desse ponto, � uma sa�da mais realista e anterior ao
trabalho classificat�rio em si, que possa ter preestabelecida uma conven��o – ou um acordo –
entre as diferentes concep��es, tais como a natureza do fen�meno a ser classificado, os
tipos de conceito e classe a serem utilizados e uma metodologia organizacional, ressaltando
que:
Na medida em que tal acordo tamb�m requer que a an�lise conceitual esteja focada
em um enquadramento espacial (ou seja, regi�o no mundo) e temporal espec�fico,
torna-se �bvia a necessidade de uma �hist�ria conceitual� das classifica��es
psiqui�tricas na qual esse acordo possa se basear (Berrios, 2008, p.115).
A nomenclatura seria aquilo que organiza o sistema de classifica��o, que, por sua vez,
precisa estar expresso em termos de um n�mero de dicotomias como categ�rico versus
dimensional; monot�tico vs polit�tico; natural vs artificial; de cima para baixo vs de baixo para
cima; estruturado vs lista; hier�rquico vs n�o hier�rquico; exaustivo vs parcial; ideogr�fico vs

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nomot�tico (Mas, 2018). Em outras palavras, de acordo com Mas (2018), a nomenclatura adv�m
tamb�m dos paradigmas vigentes sobre os quais a atualidade da produ��o cient�fica de um
campo e est� pautada.
Historicamente, pode-se notar que a psiquiatria tem deslizado suas produ��es em
paradigmas como o da aliena��o mental, proposta por Pinel, seguido pelo paradigma das
doen�as mentais, o que rompe com a ideia de uma �nica afec��o e introduz um movimento em
que s�o desenvolvidas v�rias e extensas descri��es realizadas por alienistas, como, estruturas
psicopatol�gicas, sobre as quais Guillermo Izaguirre em seu cap�tulo Elogio ao DSM (2011),
do livro O livro negro da psicopatologia contempor�nea (2011), relata:
(...) surge pela influ�ncia de v�rias disciplinas pr�prias dessa �poca como a
Gestalttheorie de Koelher e Koofka, a neurobiologia de Goldstein, a fenomenologia,
os formalistas russos, o estudo dos mitos na antropologia do s�culo XX, a semiologia
e a lingu�stica, as matem�ticas e a psican�lise (Izaguirre, 2011, p. 15).
Segundo Izaguirre (2011), nos �ltimos anos deste terceiro tempo paradigm�tico, foram
desenvolvidos novos psicofarmacos, epis�dio que n�o passa de maneira desapercebida pela
cultura e imediatamente traz efeitos nos estudos sobre neuroci�ncias e gen�tica, campos que
ganham mais import�ncia nas classifica��es atuais, pois, determinam os caminhos dos
tratamentos e, portanto, dos diagn�sticos que os precedem:
Com o surgimento das primeiras drogas denominadas “antipsic�ticas”, n�o entra em
crise o paradigma, mas com o aparecimento de m�ltiplos tipos de psicof�rmacos, a
quest�o muda. Nota do Autor: O primeiro antipsic�tico que se introduz no mercado, a
clorpromazina, � de 1952. Nesse mesmo ano, surge o DSM-I. � uma coincid�ncia,
mas h� rela��o entre a import�ncia crescente dos tratamentos psicofarmacol�gicos e
o sistema classificat�rio dos sucessivos DSMs (Izaguirre, 2011, p.16).
O DSM-III rompe com o modelo de psicopatologia estrutural – das neuroses, psicoses
e pervers�es – , ao mesmo tempo que adota o modelo rec�m surgido na �poca, da medicina
baseada em evid�ncias (Dunker, 2014), ou seja, como dizem as autoras Fernanda Martinhago
e Sandra Caponi, no artigo Patologias Mentais: uma breve hist�ria das classifica��es
psiqui�tricas (2019),
O DSM-III � o marco da mudan�a de paradigma no �mbito da psiquiatria, que at� este
momento eram regidas com fundamenta��o principalmente na psican�lise. As
patologias psiqui�tricas passam a ser definidas por agrupamentos de sintomas, o que
ocasionou a supress�o das hist�rias de vida, das narrativas dos pacientes, das causas
psicol�gicas e sociais que possivelmente causaram algum sofrimento ps�quico e/ou
sua manifesta��o em determinado comportamento. Esta transforma��o ocorre em
fun��o de um grupo de psiquiatras americanos, que se denominaram como
neokraepelinianos, fundamentados nos novos avan�os cient�ficos, que apresentavam
estudos populacionais, bancos de dados quantitativos, descobertas da neurologia,

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anatomopatologia cerebral e da gen�tica, para elaborar o DSM III e as sucessivas
edi��es do Manual (Martinhago e Caponi, 2019, p.77).
Apesar de esse sistema classificat�rio se dizer ate�rico, por disponibilizar � psiquiatria
sob a �tica descritivo-terminol�gico um sistema de diagn�stico para a pesquisa emp�rico-
experimental (Martinhago e Caponi, 2016), n�o � poss�vel aceitar isso. Ainda que um sistema
de classifica��o se diga dessa forma e se desvie de evidenciar uma refer�ncia ontol�gica ao
deixar de lado as “hist�rias de vida dos pacientes, das causas psicol�gicas e sociais que
possivelmente causaram algum sofrimento ps�quico”, o que emerge dele s�o novas concep��es
de “doen�a mental”.
Nesse momento, as doen�as mentais independeriam de experi�ncias pregressas, seriam
simples reuni�o de signos, excluindo-se a preocupa��o etiol�gica, o que contribui para a
compreens�o do que ocorreu no �mbito da taxonomia, em que os sintomas ascenderam como
classe diagn�stica, por exemplo, como foi o caso da histeria na quarta vers�o do manual que foi
desmembrada em dissocia��o, dimorfismo corporal, ansiedade, depress�o e fibromialgia
(Dunker, 2014).
De acordo com os crit�rios diagn�sticos utilizados no Manual diagn�stico e estat�stico
de transtornos mentais – DSM IV (APA, 2002), a perturba��o deve ser manifestada antes dos
tr�s anos de idade, havendo um preju�zo severo em pelo menos um dos diferentes campos do
desenvolvimento: intera��o social, linguagem usada para comunica��o social, ou jogos
simb�licos ou imaginativos. No Transtorno Autista, podem ocorrer anormalidades no
desenvolvimento das habilidades cognitivas. Na maioria dos casos o diagn�stico est� associado
ao retardo mental geralmente na faixa moderada (Klin, 2006).
No DSM-IV (APA, 2002) est�o inclusos como Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento, al�m do Transtorno Autista, o Transtorno de Rett, o Transtorno
Desintegrativo da Inf�ncia e o Transtorno de Asperger.
No caso do TEA, na quinta vers�o (DMS-V), que reuniu outras classifica��es que teriam
como principais crit�rios diagn�sticos a tr�ade preju�zo na comunica��o, interesses restritos e
movimentos repetitivos, como veremos mais adiante (Mas, 2018). Portanto, a teoria que se
evidencia ainda � ontol�gica, mas de um ontos que dispensaria sua hist�ria, poss�vel de ser
desenla�ado de epis�dios traum�ticos e lido atrav�s daquilo que se expressa no imediato do
comportamento.
Segundo Bosa (2002), existem outras classifica��es, como a classifica��o francesa a
qual, de maneira geral, define o autismo como psicose, e o Grupo para o Avan�o da Psiquiatria

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(GAP), o qual enquadra o autismo dentro dos transtornos psic�ticos, sendo designado de
“autismo infantil precoce”:
Com isso, queremos demonstrar que a concep��o de autismo como psicose ou como
transtorno de desenvolvimento depende do sistema de classifica��o empregado, o
qual, por sua vez, traz impl�citas concep��es te�ricas diferentes sobre o
desenvolvimento infantil. Ainda que a preocupa��o em estabelecer crit�rios rigorosos
e padronizados na CID e do DSM, a fim de possibilitar uma “linguagem comum”
entre a comunidade cient�fica, seja em princ�pio “ate�rica”, h� posicionamentos
contr�rios a essa situa��o (Bosa, 2002, p. 29).
De acordo com Cirino (2001, p. 92), com os diagn�sticos descritivos, considerados
como totalmente verific�veis, tal como o DSM-V e CID-10, almeja-se “preencher a aus�ncia
de signos patognom�nicos e a car�ncia de exames de laborat�rio em psiquiatria”.
O caminho � o da “medicaliza��o da psiquiatria, a fim de afast�-la de vez das influ�ncias
filos�ficas (Jaspers, fenomenologia, existencialismo, marxismo) e psicanal�ticas (em especial,
Lacan)” (Cirino, 2001, p.92).
Segundo Marfinati e Arag�o (2014), os psiquiatras infantis voltam a se aproximar da
maioria dos psiquiatras da segunda metade do s�culo XIX, em que o �nico agente de
transforma��o era o recurso aos psicof�rmacos integrados ao condicionamento do
comportamento e do pensamento, posi��o essa que exclui a responsabilidade do sujeito pelos
seus sintomas.
6 CONSIDERA��ES FINAIS
Os deslizamentos taxon�micos desde sua primeira forma, o Autismo Precoce, nas cinco
vers�es de um dos principais sistemas de classifica��o psiqui�tricas utilizados no Brasil, o
Manual Diagn�stico e Estat�stico de Transtornos Mentais (DSM), trouxeram impactos
socioecon�micos, �ticos e pol�ticos que merecem ser observados com cautela.
O estudo na �rea do autismo, desde as primeiras considera��es feitas por Kanner (1943)
at� as mais recentes reformula��es em termos de classifica��o e compreens�o dessa s�ndrome,
tem sido permeado por controv�rsias quanto a sua etiologia. Historicamente, reivindica��es a
respeito da natureza do deficit considerado prim�rio (inato x ambiental) t�m constitu�do os
principais postulados das teorias psicol�gicas sobre o autismo.
A quest�o da introdu��o de uma categoria t�o abrangente, espectral, n�o � uma quest�o
que fica bem explicada no percurso de leitura dos manuais, mas � de extrema import�ncia de
ser compreendida com maiores detalhes acerca da origem e outras informa��es que auxiliam a
entender como foi seu percurso at� o DSM-V.

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Essa nova forma de diagnosticar o autismo n�o se mostrou nada sutil, uma vez que se
trata de uma categoria nosogr�fica muito abrangente e que trouxe consigo uma epidemia de
diagn�sticos de TEA. Nenhuma abordagem deve ser considerada como totalizadora, j� que
precisam estar contextualizadas de modo a atender as situa��es, casos espec�ficos.
O autismo � uma tem�tica altamente chamativa, pois mesmo com os estudos realizados
at� o momento, sua abordagem continua a desafiar profissionais de diferentes �reas. H� a
necessidade de empenho a fim de compreender fen�menos relacionados ao autismo em que
existe pouca explana��o e esclarecimento.
H� uma expans�o consider�vel de pesquisas sobre os aspectos sociais e cognitivos na
�rea do autismo. Entretanto, uma interpreta��o �nica e final do conhecimento acumulado ao
longo dos anos permanece imposs�vel por v�rias raz�es. Primeiro, os diferentes achados ainda
n�o cobrem toda a extens�o de diferen�as individuais ao longo do espectro, embora tenham
contribu�do para desmistificar, em parte, a id�ia caricaturizada de um indiv�duo com autismo.
De acordo com Braga et al (2022) O diagn�stico precoce para um tratamento eficaz
continua sendo um desafio, devendo ser cada vez mais explorado, com o intuito de
convencer as fam�lias o quanto � importante identificar sinais que podem perceber
uma prov�vel condi��o de autismo, de forma que o quanto mais prematuro for o
tratamento, maiores s�o as chances da crian�a se adaptar e crescer de forma mais
lucida social.
S�o necess�rios mais estudos que investiguem n�o somente as defici�ncias mas tamb�m
as compet�ncias sociais destes indiv�duos. Pensa-se que o conhecimento acerca dessas
diferen�as possa ter implica��es para a identifica��o precoce da s�ndrome, visto que as crian�as
autistas mais competentess�o as que mais demoram a receber tal diagn�stico.
Segundo, a quest�o do diagn�stico diferencial ainda apresenta-se controverso. Esse
campo tem sido dominado pela pol�mica em torno de prioridades causais (afetivas, cognitivas,
biol�gicas) na determina��o da s�ndrome. Ainda que a intera��o desses diferentes processos
tenha sido proposta e reconhecida em termos te�ricos, a sua operacionaliza��o ainda constitui
um grande desafio aos futuros estudos.
Esfor�os devem ser concentrados na desafiadora tarefa de integrar-se os achados das
diferentes �reas a fim de compreender-se os mecanismos atrav�s dos quais diferentes facetas
do comportamento combinam-se para formar o intrigante perfil que caracteriza o autismo.

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