Dançaterapia: como funciona método usado por Simony durante tratamento de câncer

"Eu não sou forte o tempo e tudo bem. Eu não quero ser forte o tempo todo, eu quero apenas não perder minha fé. Eu quero ter pensamentos leves. Quero viver cada segundo. Que bom poder chorar, limpar a alma. Meu choro é de agradecimento a Deus, por ter uma equipe maravilhosa, por ter a possibilidade de me tratar, com a certeza que a vitória é certa", escreveu a artista.

"Eu quero ser apenas um canal de amor e luz para você que também está passando por isso. Muitas vezes nessa vida nós somos o remédio da vida de outras pessoas. Faça parte da caixinha de remédios de alguém. Um sorriso, um colo pode mudar tudo. Eu sou verdade. Gratidão, Fabiana Dutra! Amei a psicodançaterapia. Parabéns Hcor e Dr. Fernando Maluf", agradeceu Simony.

Quem conversou com a terapeuta integrativa e dançaterapeuta Fabiana Dutra, responsável pela prática terapêutica com Simony no Hcor, a fim de entender como a dança pode trazer benefícios para a mente.

Segundo a profissional, a dançaterapia faz parte de uma iniciativa do Hcor para oferecer várias terapias integrativas -- como meditação, reiki, ioga, automaquiagem, musicoterapia e cãoterapia -- aos pacientes da área oncológica.

"O Hcor pensou em algumas terapias que seriam benéficas aos pacientes. A partir de então, comecei a fazer a dançaterapia semanalmente na unidade. Geralmente faço para grupos, mas com a Simony foi uma sessão individual. As meninas da enfermaria me falaram que ela iria gostar e propus de fazer com ela, que topou", conta.

Fabiana explica que, de maneira geral, nas sessões individuais, como a de Simony, o paciente escolhe duas músicas para se expressar por meio da dança. "Falo para a pessoa escolher duas músicas que mexem com ela sobre um determinado tema. Se ela perdeu a mãe, por exemplo, e quer trabalhar essa dor, peço que escolha uma música que remeta a isso para que ela se aprofunde nesse sentimento", diz.

"Nossas emoções vão gerando couraças ao longo do nosso corpo, vão ficando represadas e a gente precisa liberar. Temos que trazer a emoção e a música e a dança fazem a pessoa acessar a emoção", explica. "A segunda música é para ter a sensação de superação, da coragem, do sentimento de 'posso superar essa dor'", acrescenta.

Segundo Fabiana, a ideia da dançaterapia é conectar a pessoa a seus sentimentos mais profundos. "Durante a sessão, sou um canal, uma referência para a pessoa, falo para que ela observe a minha movimentação. Não existe uma diretriz do que é para ela fazer. O fundamental é que a pessoa esteja em um ambiente em que possa se expressar com liberdade, sem julgamento. É a expressão dela", explica.

"Encorajo a pessoa por meio da minha movimentação e explico que quanto mais estranho, melhor. Estamos acostumados a fazer passinhos, a padronizar. E o importante é que ela sinta o que o corpo está pedindo. Tem muita gente bloqueada, travada. E com o preconceito de que não sabe dançar", observa.

"Todo mundo sabe dançar, é só deixar o corpo se movimentar da maneira que ele quer, se permitir. Isso que é o importante na dança, o resto é técnica. A dança é orgânica, é como o corpo se manifesta nessa existência. É um processo muito curativo, até pelo fato de a pessoa tomar coragem para se expor", diz.

Além dos benefícios de qualquer outra atividade física, a dança traz a possibilidade da expressão. "A dançaterapia desperta aspectos da nossa personalidade enterrados e represados. O que mais ouço das pessoas, depois de um tempo dançando, é que estão se sentindo leves. Elas falam em liberdade, reconexão, que se sentem energizadas", explica.

Acessar o inconsciente e proporcionar um maior autoconhecimento é o principal objetivo da prática terapêutica. "Vou fazendo de uma maneira que, aos poucos, a pessoa vai conseguindo se soltar. A Simony, por exemplo, adorou, disse que foi muito bom. Em uma das músicas, coloquei uma venda nela e pedi que visitasse a infância e a vida dela até hoje", recorda.

"Ela disse que realmente conseguiu se conectar e se viu criança. Agradeceu bastante e gostou muito. O marido dela, que também estava na sessão, disse que todas as terapias integrativas têm sido muito importantes e feito a diferença no tratamento dela", acrescenta.