Histórias de atores mirins que sofreram abusos nos bastidores do canal de TV Nickelodeon são contadas no novo documentário do canal Investigation Discovery chamado Quiet On Set: The Dark Side of Kids TV. Além do abuso sexual infantil e sexualização infantil, o documentário expõe casos de racismo e de exposição a situações de perigo enfrentados pelas vítimas.
Drake Bell
Um dos personagens da série é Drake Bell, conhecido por protagonizar o seriado da Nickelodeon Drake & Josh. O ator foi molestado por seis meses de sua infância pelo coach de atores Brian Peck. Em 2003, na ocasião da prisão de Peck, seu nome foi preservado, assim como o de outras vítimas.
Segundo Joe Bell, pai do ator, o coach de atuação tinha uns comportamentos estranhos com o de entrar no vestiário e tentar colocar roupas no ator mirim, que tinha capacidade de fazer aquilo sozinho. Ao confrontar Peck, o pai do ator foi afastado da administração da carreira do filho. O coach ainda convenceu a mãe do ator, Robin Dodson, a dar permissão para que Drake morasse em sua casa, onde o abuso teria ocorrido.
“Imagine a pior coisa que alguém poderia fazer a alguém como agressão sexual. … Não sei de outra forma”, explicou Drake, discutindo o que aconteceu com ele pela primeira vez na série documental. Conforme Peck assumia um papel maior na carreira de Drake, o abuso aumentava. “Ficou pior e pior e pior, e eu fiquei preso. Eu não tinha saída", lamentou Drake.
Apesar de não aparecer como fonte da série documental, Amanda Bynes é citada algumas vezes como uma possível vítima de sexualização de Dan Schneider, criador de programas como O Show da Amanda, iCarly e Zoey 101.
Quiet On Set revelou que Schneider gostava particularmente de Bynes, na época uma das maiores estrelas da Nickelodeon. Vários membros do elenco lembraram que Bynes costumava ser separada do resto do elenco, tendo reuniões privadas com Schneider.
Kate Taylor, jornalista do Business Insider, descreveu um incidente em que Bynes fugiu de casa com a ajuda de Schneider. “Os detalhes são um pouco obscuros, mas sabemos por fontes que a polícia esteve envolvida”, disse Taylor.
O documentário também revelou que Schneider estava colocando Bynes intencionalmente em uma situação sexualizada ao nomear uma de suas personagens de Penelope Taynt, que se refere à gíria para períneo. “Dan nos disse na sala dos roteiristas: 'Não diga o que essa palavra realmente significa'. Ele queria que mantivéssemos isso em segredo'", lembrou a roteirista Jenny Kilgen.
Jamie Lynn Spears
A irmã de Britney Spears, Jamie Lynn Spears, também teria sido outra vítima de sexualização infantil de Schneider. Em uma cena, a estrela de Zoey 101 aparece com o rosto coberto de gosma.
Sua colega estrela infantil, Alexa Nikolas, relembrou: “Então, primeiro foi Dan [Schneider] rugindo, rindo e depois todo mundo meio que rindo. Ouvimos os meninos dizendo: 'É um gozada'. E eu não tinha ideia do que isso significava".
A cantora Ariana Grande, que antes de se tornar uma estrela do pop iniciou sua carreira em Victorious, de Schneider parece ter sido alvo frequente desses tipos de piadas sexualizadas. O documentário inclui clipes da estrela pop derramando água sobre si mesma e fingindo “ordenhar” uma batata.
"Há piadas sobre levar um tapa com salsicha", explicou a jornalista Kate Taylor. “Há uma piada sobre estar 'na floresta'. Você tem atores chacoalhando pesos de uma forma que parece claramente sexual. E esses atores, em sua maioria, são menores de idade", analisou.
Em comunicado publicado pelo The Wrap, Schneider negou a sexualização e enfatizou que havia outros adultos por perto o tempo todo. “Se houvesse cenas ou trajes inadequados de alguma forma, eles teriam sido sinalizados e bloqueados por esse escrutínio multifacetado”, disse via comunicado. "Infelizmente, alguns adultos projetam suas mentes adultas em programas infantis, tirando conclusões falsas sobre eles", concluiu.
Bryan Hearne
O ator Bryan Hearne do seriado All That, de 2000 a 2002, contou que se sentiu torturado ao gravar o programa do canal On-Air Dare. Ele se lembrou de quando produtores cobriram seu corpo com manteiga de amendoim antes de liberarem "cães famintos" no estúdio para lambê-lo. “Isso soa como uma fantasia estranha de algum cara esquisito. Foi muito desconfortável. Eu não gostei disso. Gostaria de ter gritado para eles pararem", lembrou.
Se não bastasse isso, ele se lembra que as crianças brancas eram tratadas de forma diferente que as negras. O ator relatou uma experiência particular de racismo ao ser convidado para interpretar Lil Fetus, o rapper mais jovem de todos os tempos. O macacão era desconfortável para o menino em crescimento, e ele também foi submetido a comentários racistas de membros da tripulação enquanto o esboço era preparado.
“Fui chamado de 'pedaço de carvão'. Comentários como esse são prejudiciais. Eles ficam com você”, refletiu.