Entrevistas

Angela Davis, 80 anos, passou pelo Brasil na última semana e Quem teve a chance de participar de um happy hour com a professora, ativista, escritora e pantera negra na sede do jornalismo da TV Globo, no Rio de Janeiro. Ela veio ao país para abrir a edição de 2024 do Festival LED em um papo com Aline Midlej.

Inspiração para os defensores dos direitos humanos no mundo, Angela falou por cerca de uma hora sobre o avanço do caso Marielle, a ascensão da extrema direita na Europa, aborto, capitalismo e motivação para seguir na luta em busca de um mundo melhor. Confira o que ela disse sobre os tópicos a seguir.

Feminismo negro

"Conheço parte da cultura do Brasil. Acho que não seria certo visitar vocês e não saber. Até porque sou dos Estados Unidos e lá muitas pessoas pensam que só eles têm as respostas para todas as coisas. Nenhum feminismo negro está sediado lá e sempre defendi que somos obrigados a descobrir o que está acontecendo em outras partes do mundo porque há muito o que aprender".

"O conhecimento tem que ir em ambos os sentidos, não apenas de uma maneira. Sempre me senti um pouco incomodada com isso. Sempre fui vista no Brasil como uma feminista negra e me surpreendi porque sou apenas uma entre milhares, talvez centenas de milhares em todo o mundo. Fico muito feliz de também termos acesso, no mundo, ao trabalho da Sueli Carneiro [filósofa e escritora]".

Angela Davis no Festival LED — Foto: Roberto Filho/Brazil News
Angela Davis no Festival LED — Foto: Roberto Filho/Brazil News

Marielle Franco

"Abracei os sonhos de Marielle e acredito que eles se cruzam com os meus, como o fim do capitalismo [risos]. E quero dizer sobre isso que, só porque não vemos a possibilidade de futuro muito próximo, não podemos esquecer de dizer o que queremos e avançar. Veja o que aconteceu durante o verão de 2020 e o movimento sobre George Floyd. Ninguém poderia imaginar que aquela seria a maior demonstração de luta contra o racismo em toda a história dos Estados Unidos - e durante a pandemia! Então, todas aquelas pessoas, foram às ruas colocando suas vidas em risco. Isso foi incrível e não podemos esquecer. É uma memória histórica das lutas do passado que nos ajuda a criar agendas para o futuro."

Angela Davis e a ministra Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, em 2019 — Foto: Reprodução/Instagram
Angela Davis e a ministra Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, em 2019 — Foto: Reprodução/Instagram

"Apenas punir aqueles que a assassinaram não vai trazer justiça. Temos que tentar realizar seus sonhos. Para que a gente possa alcançar Justiça, precisamos desafiar as violências policiais, desmilitarizar a polícia... Às vezes, ficamos focados na punição e esquecemos de outras coisas importantes."

"Penso em Marielle o tempo todo. No que ela poderia ter feito nos últimos seis anos com seu trabalho. No meu último livro tem um relato sobre ela."

Aborto

"Precisamos defender nossas vitórias. Muitas de nós fomos contra a forma como a lei do aborto foi mudada nos Estados Unidos. Temos muitos problemas com justiça reprodutiva. Então, muitas de nós estão lutando a favor dos direitos de abortar, mas também estão lutando contra a esterilização. Um grande número de mulheres indígenas são esterilizadas à força. Um grande número de mulheres negras no sul dos EUA são esterilizadas. Estamos falando de um assunto muito mais amplo, enquanto outros estão falando de uma coisa muito menor. E eles falam como se fosse apenas uma questão de querer. Não. É uma questão individual que toda mulher tinha que poder escolher."

Angela Davis fala sobre aborto, Marielle, educação e racismo ambiental

Angela Davis fala sobre aborto, Marielle, educação e racismo ambiental

"A decisão da suprema corte é baseada em momentos de privacidade entre a mulher e seu médico. Quando mulheres têm médicos... Algumas não têm. Não é sobre o acesso, é sobre o direito abstrato à privacidade e agora isso se foi. É um momento assustador."

Direitos adquiridos

"Precisamos sempre defender nossas vitórias. Não podemos nunca acreditar que estamos seguros. É necessário pressionar pelos nossos direitos na história e não deveríamos ficar surpresos em ter que lutar por isso. Temos que esperar, mas raramente esperamos. Estão sempre de olho no passado e tentam nos enviar para a direção errada. E quando conquistamos vitórias, vão tentar nos diminuir."

Angela Davis no Festival LED — Foto: Roberto Filho/Brazil News
Angela Davis no Festival LED — Foto: Roberto Filho/Brazil News

Meio ambiente

"Precisamos falar sobre justiça, como o racismo está relacionado com as mudanças climáticas. Justiça ambiental. Esse movimento existe desde a década de 1980, mas às vezes leva muito tempo para que as ideias ressoem. Me lembro de quando as pessoas apontavam o fato de que os bairros negros pobres eram os que estavam mais próximo das fábricas que poluíam."

"Nós não podemos começar a dizer: 'este grupo merece justiça e este não'. Justiça é indivisível, como diz Dr. King (Martin Luther king) . Mas é incrível como em um pequeno período de tempo nós vimos as consequências materiais da poluição do meio ambiente, e muito mais cedo do que os cientistas climáticos já previam."

"Temos incêndios na Califórnia que costumavam ser raríssimos, e agora acontecem todos os anos. Isso é muito triste. Quem sofre mais? E os capitalistas tentam descobrir um jeito de colonizar outros planetas. É como se eles tivessem aberto mão de resolver as coisas neste planeta. A próxima geração não merece isso."

Como não perder a fé no futuro

"Não podemos estar nas ruas o tempo todo. É importante reconhecer o que a mobilização de massa faz ao construir movimentos sociais. Mas não é apenas o fato de estarem nas ruas, isso é como o movimento é representado. Essa é a forma como se mostra ao imenso número de pessoas com a gente, mas não é a única coisa que importa."

"Se você não organiza essas pessoas, a única coisa que elas fazem é sair às ruas e voltarem para suas vidas sem fazer nada além. Acredito que com o uso das redes sociais nos esquecemos como nos organizarmos e seguirmos juntos, mesmo fora das ruas. As manifestações têm que mostrar que aquilo é um movimento, a demonstração não é o movimento. Ela é apenas a cara do movimento. É como um ensaio da revolução."

"Mas não podemos fazer isso todos os dias [sair às ruas], porque, se fizermos, não teremos tempo para nos organizar e educar as pessoas sobre os probelmas, ler sobre as conexões, colocar pressão nas coisas. O que importa realmente no trabalho não é tão 'dramático'. E frequentemente não reconhecemos como esse trabalho é importante. E, se não fizermos, podemos abrir mão do movimento. Teremos demonstrações, demonstrações e demonstrações, mas não um movimento coletivo. Uma visão coletiva, uma consciência coletiva.

Esses períodos, quando estamos quietos, são os períodos que devemos fazer a maior parte do trabalho importante. Então se lembrem. Todas as manifestações que aconteceram em 2020 ao redor do mundo [caso George Floyd] elas não teriam acontecido se as pessoas não tivessem trabalhando há anos nisso, décadas. Sempre digo que é preciso se organizar como se fosse possível mudar o mundo imediatamente, com essa urgência. Mas pode não acontecer nada por anos, talvez décadas, mas se não fizermos, nada irá acontecer realmente."

"Precisamos descobrir como criar esperança durante o período que não a vemos. Que não vemos os sinais. Dylan Kava disse que a esperança é uma disciplina. Não é algo que você simplesmente sente. É algo que você tem que cultivar, tem que criar, construir."

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