“Falo o tempo todo nos meus stories, mas não tenho energia para pegar o telefone e falar como estou me sentindo em relação a tudo o que estou vendo”. Gaúcha, Titi Müller viu a desenvoltura que lhe é de costume se perder frente às enchentes históricas no Rio Grande do Sul.
Para além da comoção inevitável com tamanha gravidade da situação, a apresentadora de 37 anos chora pela tragédia na cidade natal. Nascida e criada em Porto Alegre, Titi lamenta o transtorno dos seus "irmãos de alma", Aloísio Dias e Basílio Sartor, que precisaram evacuar o apartamento próprio no bairro Cidade Baixa, considerado a casa da artista no estado.
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Lar de Titi Muller no Rio Grande do Sul
O endereço registrado em seu documento pessoal, onde conta ter passado os melhores momentos da adolescência e juventude, é o elo de mais forte da comunicadora com a cidade. Imóvel adquirido com muito esforço pela dupla, escolhida para levá-la ao altar em seu casamento, em 2019.
![Titi Müller com o casal de amigos, Aloisio e Basílio, que precisaram deixar apartamento em Porto Alegre — Foto: Arquivo Pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/Mn2tq35wyMndUDRVPfxoxbHhLzo=/0x0:1226x1347/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2024/8/U/3FQFicR0O1ENeJrPNejQ/whatsapp-image-2024-05-09-at-17.56.45.jpeg)
“Não estou nem conseguindo verbalizar direito. A verdade é que estou meio paralisada desde que começou a enchente. Meu CFP está inscrito lá, porque lá eu considero a minha casa em Porto Alegre, toda vez que vou, eu fico lá e não saio de lá. É o meu refúgio, meu lugar de segurança", explica
Eles foram alertados a deixar o local com urgência por ser um bairro estruturalmente baixo e por morarem no primeiro andar do prédio. Em um cenário comparado por Titi a um filme distópico, ela conta terem relatado a presença até de um jacaré nas ruas alagadas das redondezas.
![Titi Müller nos anos 2000 com o amigo no apartamento que passou a fazer parte do seu CPF — Foto: Arquivo Pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/TRghaMrEpbOi0FpTgCQR1H3nlPs=/0x0:1280x969/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2024/N/p/Oo7F1rTYuUFwZ5illsCg/whatsapp-image-2024-05-10-at-16.50.33.jpeg)
"É muito importante para mim e para eles. Não à toa, quando fui inscrever meu CPF, coloquei o endereço do apartamento. Eles saíram praticamente com a roupa do corpo, deixaram documentos importantes para trás, inclusive a escritura do imóvel, mas estão seguros, conseguiram ir para o litoral"
Embora o prédio não tenha sido diretamente atingido até então, Titi reforça que seus melhores amigos tiveram que deixar o local de uma hora para outra e seguem isolados no litoral sem noção do retorno para Porto Alegre. E a previsão é de mais chuvas. "Enfrentaram um caos apocalíptico para sair da cidade. Estão aflitos como todo mundo, mas estão seguros e isso é o que importa"
![Titi Müller no casamento com Aloísio Dias e Basílio Sartor, que precisaram deixar apartamento em Porto Alegre — Foto: Arquivo Pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/1oggGvRNaDE0W6et_lry1yJD948=/0x0:1600x1279/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2024/E/z/E3ZCMjQgihPPsm1KVGCw/whatsapp-image-2024-05-09-at-17.56.02.jpeg)
De hóspede para 'refugiado' e voluntário
Morando em São Paulo desde 2008, Titi acabou transformando a própria casa em um abrigo para outro amigo gaúcho, Augusto Stern. Ele estava de passagem como visita de fim de semana e voltaria para casa na segunda-feira (6). Agora, a previsão é morar com a apresentadora até o próximo mês.
![Titi Müller com o amigo, Augusto Stern, que está abrigado em seu apartamento em São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/WHwRPwbBOY_v7smCCphRk2j0TG4=/0x0:960x1280/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2024/Z/P/I4qqn1R9eSxyl10yZwJQ/whatsapp-image-2024-05-10-at-12.36.37.jpeg)
"Ganhei um ‘roomie’, um refugiado climático mesmo. Não tem como voltar para casa dele, a família dele segue sem água, mas também estão seguros lá”
“Penso em todas as mulheres que estão nos abrigos com seus filhos, nas mães atípicas que estão com seus filhos autistas em abrigo. Tenho acompanhado muitas mulheres, ajudado e mandado PIX e já separei muitas coisas minhas e do Benjamim para mandar para lá pelos Correios”, reflete.
Para se juntar à onda de generosidade dentro do possível, o amigo Augusto se tornou voluntário no Consulado Gaúcho da capital paulista, localizado em Pinheiros. Já Titi, lamenta não poder se juntar ao time da linha de frente após cirurgia na coluna. "Não estou liberada de qualquer forma por conta do meu pós-operatório, mas estamos fazendo o que dá, tanto em doações quanto em divulgação".
A reação ao caos
Titi se diz com a "cabeça muito ruim", sem conseguir descansar, com noites marcada por pesadelos e muita ansiedade, mesmo que fisicamente distante do desastre ambiental, já que mora na capital paulista.
“Estou totalmente, sem energia. A cabeça não para, pensando como posso ajudar. A verdade é que não estou conseguindo nem fazer um stories falando sobre o que tá acontecendo, porque a minha cabeça está muito confusa, muito preocupada, com o coração apertado demais”, declara.
"Ver meu Estado sendo engolido pela água, pelo esgoto, é muito triste mesmo. Estou em contato com vários amigos que estão lá na trincheira e a gente só tem a gente mesmo. O que está salvando a população é a própria população"
A casa dos pais já foi vendida após terem se mudado para São Paulo, recentemente, mas fica a angústia de pensar se é mais um lugar recheado de memórias, que, provavelmente, foi tomado pela água. "A relação que a gente tem com as coisas que fazem parte da nossa história é muito profunda, mas a relação que a gente tem com a nossa vida não se compara”.
“É uma mistura de gratidão por saber que as pessoas que mais amo de lá estão seguras, mas uma tristeza profunda por saber que muitas delas perderam tudo. Trabalham com audiovisual, em restaurantes, setores da economia que vão demorar para voltar e se reconstruir. Mas sei que meu povo é um povo muito resiliente. A gente já passou muita coisa e se reergueu", desabafa.
Ela diz que tentou se desligar um pouco das notícias, assistir a um filme, mexer no telefone, mas não consegue abstrair da tragédia. Além disso, a preocupação aumenta por tios e primos morarem na região, mesmo que estejam seguros. "Me deu uma uma tristeza profunda, tive crises de choro".
“É uma situação de guerra. O que o Aloísio falou é que, quem conseguiu sair da cidade, ainda está todo mundo em um estado catatônico de stress agudo pós-trauma mesmo. Vivendo o trauma. Por mais que esteja seguro, não consegue desligar. Eu aqui, há três Estados de distância, não consigo desligar”
Amor pelas origens de Porto Alegre
A apresentadora parafraseia a conterrânea Elis Regina (1945 - 1982), nascidas no mesmo bairro, IAPI, para definir sua conexão com Porto Alegre: "A gente não esquece o útero que veio"
Ela relembra quando gravou uma temporada do programa Anota Aí, do Multishow, na capital gaúcha e se sentiu realizada por voltar para lá com seu trabalho. "Toda vez que pouso em Porto Alegre, fico emocionada. É uma cidade que eu amo demais mesmo. Fui muito feliz em Porto Alegre, saí de lá para conseguir conquistar mais coisas profissionalmente, mas o meu coração sempre esteve lá”
![Titi Müller na infância em Porto Alegre, em frente ao prédio onde morava, no mesmo bairro de Elis Regina — Foto: Arquivo Pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/P1DkGg20m0Ptyz68y51dimSCQZM=/0x0:1284x1264/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2024/G/E/Dm5CdnR9SKibNpmC7crw/whatsapp-image-2024-05-10-at-17.11.30.jpeg)
Mesmo longe há mais de 15 anos, Titi mantém a identificação com a cidade. “Minha relação com cada esquina daquela cidade é muito profunda. Sempre fui da cidade, sempre gostei desde muito nova de passar o tempo na rua. Foi um cidade muito boa para ser adolescente. Era uma cidade segura no início dos anos 2000, que fervia de rock and roll, uma cena muito legal musical”.
![Titi Müller na gravação do programa 'Anota Aí', do Multishow, em Porto Alegre — Foto: Reprodução/Instagram](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/Ly0fLO4Ctd6S8h_bISlgWdgLLw0=/0x0:1080x1080/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2024/F/E/Ji0jigQ46x6DzQZ44luQ/snapinsta.app-26334431-2033116486961476-2805749079022239744-n-1080.jpg)
A conversa com o filho
Mãe do pequeno Benjamin, de 3 anos, Titi lamenta a necessidade de levar a realidade catastrófica da própria cidade para o filho. Ela conta ter separado alguns brinquedos junto dele e explicado que outras crianças precisam dessas doações.
“Ele foi um super fofo, muito querido, muito simpático. Com três anos e saber que esse é o planeta que a gente vai deixar para ele, para nós mesmos na verdade. A gente não estava preparado para passar por esse tipo de situação tão logo. Falava em projeções de 200 anos, depois 100 anos, depois 50, 30, agora está acontecendo hoje, agora, na nossa esquina, no lugar que eu nasci e cresci”, reflete.
![Titi Müller e o filho, Benjamin — Foto: Reprodução/Instagram](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/oHa5kAjLicxpLSi1TZpyRKIkZBQ=/0x0:1400x950/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2024/G/B/LA3PJwS4ilTNNUD8vR7g/titi.jpg)
Importância da ajuda
TIti exalta nomes como Luísa Sonza, Felipe Neto e Lucas Silveira, ao destacar a importância de famosos tomarem iniciativas em prol das população impactada pelas enchentes. “Os artistas estão fazendo muito mais do que o Governo do Estado e do que a Prefeitura"
"Todos os artistas que estão repostando as chaves PIX também. Qualquer quantia faz diferença é uma garrafa de água para alguém que está passando sede, um pacote de bolacha para alguém que está há três dias sem comer, um cobertor para quem vai tremer no frio da frente fria nessa Porto Alegre úmida e com cheiro de esgoto".
Ela ainda indica três perfis da linha de frente em prol do Rio de Grande do Sul. Primeiro, o @somoscolodemae, instituto voltado ao acolhimento da maternidade atípica, focado no apoio para famílias com autistas. Segundo, a atriz e comediante Carol Delgado, a @soucaroldelgado, que está mobilizando uma equipe de voluntários para viabilizar diversos tipos de doações e prestando contas nas redes sociais. Terceiro, a amiga pessoal Mariana Gutheli, a @mariguti, que está na linha de frente dos resgates e acolhimento em abrigos.
Crise ambiental
Titi acredita que essa tragédia ambiental será a primeira em grande escala de muitas que estão por vir. "A partir de agora, vai ser uma roleta russa de onde vai ser a estiagem, onde vai ser a cheia, onde vai ser o ciclone, onde a terra vai ficar arrasada, onde vai ter enchente. Nós estamos todos no mesmo planeta. Agora, a gente está colhendo as consequências de anos de descaso do poder público", desabafa.
"Não foi por falta de aviso. Há décadas, os cientistas, a comunidade científica inteira alerta sobre as consequências do aquecimento global. Desde 2015, o Rio Grande do Sul sabia do risco iminente de enchentes desse porte e não fez nada”, avalia.
“É momento de ajudar e de sentir muito mesmo por todo mundo que perdeu a vida, perdeu família, perdeu a casa, perdeu uma um carro, porque tudo é muito batalhado. Mas é momento também de rever em quem a gente vota, quais são as prioridades dessas pessoas”, completa.