Entrevistas

A carreira de ator começou em 1970, de forma despretensiosa, quando participou de um teste para o filme Marcelo Zona Sul e passou. No ano seguinte, Stepan Nercessian já estava na Globo e, até hoje, segue atuando. Aos 70 anos, o artista já viveu experiências na TV, no cinema, no teatro e, atualmente, é uma das estrelas do musical O Rei do Rock, que conta a história de Elvis Presley.

Esse, no entanto, não é o primeiro musical de Stepan, que fez um enorme sucesso na pele de Chacrinha (1917-1988). O desempenho do ator no palco impressionou tanto que o espetáculo ganhou uma adaptação para o cinema e um especial para a TV Globo, com participação de Roberto Carlos. “Foi um sucesso. Chacrinha é um fenômeno. Marcou minha carreira, porque esses personagens marcaram as pessoas”, disse o ator à Quem.

Mesmo com um vasto currículo, o artista não sente que já fez de tudo na carreira. Pelo contrário, para Stepan, ainda falta tudo. “Eu não determinei um cronograma ou um objetivo de vida ou de carreira. Falta dinheiro, por exemplo. Eu precisava ter ganhado muito mais, mas você vai vivendo. No final, as coisas [materiais] que você vai acumulando ao longo da vida viram uma chateação para quem fica. Quando me perguntam qual o trabalho que mais gosto, eu falo: ‘O próximo porque o atual eu já gastei até o cachê’. É isso, sempre o próximo é o melhor”, falou aos risos.

Stepan Nercessian como Tom Parker — Foto: Rafael Cusato/Quem
Stepan Nercessian como Tom Parker — Foto: Rafael Cusato/Quem

O bom humor se manteve quando o ator comentou que é a segunda vez que estrela um musical sem saber cantar e dançar. Ele topou o desafio de viver Tom Parker, o empresário de Elvis, depois que leu o roteiro da peça e conheceu o elenco. “Percebi alguma coisa diferente. A maneira como é contada, eu achei muito brasileira. A história do Elvis é muito parecida com a de um jogador de futebol do Brasil que é pobre e ganha dinheiro. A primeira coisa que ele quer fazer é comprar uma casa para a mãe. Eu achei isso muito bonito e interessante.”

Como mora no Rio de Janeiro, Stepan sabia que sua rotina teria que mudar, pois o espetáculo está em cartaz em São Paulo. Como o roteiro o atraiu, ele veio conferir a produção de perto e, ao ver Beto Sargentelli em cena, teve a certeza de que queria participar. “Fiquei impressionado. Ele não imita nem faz cover. Ele faz o Elvis de uma maneira extraordinária. Fico aguardando minhas cenas na coxia e olhando ele no palco. Teve um dia que bobeei e quase não entrei em cena porque estava assistindo (risos). É impressionante o magnetismo com que ele consegue fazer o Elvis, me emociona toda sessão”, afirmou.

Beto Sargentelli como Elvis Presley — Foto: Rafael Cusato/Quem
Beto Sargentelli como Elvis Presley — Foto: Rafael Cusato/Quem

Estar na ativa aos 70 anos é algo que também emociona o artista, que não se vê longe do seu ofício. “Sempre agradeço a Deus antes de entrar em cena. Hoje, eu digo sem exagero nenhum que, para mim, a felicidade da vida se resume em fazer cinema, teatro e televisão. É eu estar trabalhando como ator. Se isso estiver acontecendo, eu estou absolutamente feliz e com o sentimento de que estou vivendo intensamente. Sem trabalhar, as coisas ficam chatas. O tempo para mim não passa quando eu estou exercendo minha profissão, porque é bom demais.”

Na visão de Stepan, não há nada pior para um ator do que o desemprego. “Nas outras profissões, o que é recusado é o currículo. Já para o ator, o que é recusado é ele, não é o currículo. É a cara dele, é a voz dele e não tem como esquecer isso. Dói. É um sentimento de rejeição”, falou.

Cena do musical 'O Rei do Rock' — Foto: Divulgação/Stephan Solon
Cena do musical 'O Rei do Rock' — Foto: Divulgação/Stephan Solon

Já o glamour associado à sua profissão, ele definiu como “uma ilusão grande” que acaba valendo a pena: “Você fica nesse teatro lotado, passa três horas em cena, todo mundo te olhando, aí termina, te aplaudem, você fica com essa vibração e, de repente, as luzes vão se apagando, as cortinas fecham e, muitas vezes, você fica sozinho. Não tem com quem conversar [no hotel]. Mas no dia seguinte você está aqui porque sabe que vai reencontrar aquilo tudo de novo”.

Qualidade de morte

Aguentar quase três horas em cena não é uma tarefa fácil aos 70 anos. Nos finais de semana, Stepan faz duas sessões por dia, ou seja, são quase seis horas em cima do palco. O corpo sente, o figurino — como o sapato que foi aberto atrás para ele se sentir mais confortável — sofreu adaptações, mas Stepan segue firme trabalhando e convicto de que sua alma não acompanha a idade que possui no RG.

É uma merda esse negócio de ficar velho”, brincou. “É horrível ter 70 anos e uma alma jovem. Tinha que envelhecer tudo junto. Você vai ao médico e o cara fala: ‘Seu fígado está de criança, seu coração está não sei o quê, mas tal coisa está uma merda’. Então não adianta (risos). O ruim [de envelhecer] é só essa parte física, o grande problema não é mental, mas o físico que não acompanha a sua cabeça. Você quer fazer coisas, mas o corpo sente, o corpo pesa, o corpo não tem agilidade. Começa a doer as juntas, o joelho, o pé, o calcanhar e por aí vai.”

Stepan Nercessian — Foto: Rafael Cusato/Quem
Stepan Nercessian — Foto: Rafael Cusato/Quem

Pensando em envelhecer com qualidade, Stepan tomou a difícil decisão de parar de fumar depois de 55 anos. À Quem, ele explicou: “Parei para ver se aproveito esse restinho de vida (risos). As pessoas falam muito em qualidade de vida e eu penso muito em qualidade de morte, até por acompanhar e lidar com muito idoso no Retiro dos Artistas. Você tem que preparar como é que vai ser o final da sua vida, se você vai ser vai ter um final de vida confortável. Não digo saudável, mas confortável”.

O artista engordou 10 kg após abandonar o cigarro e confessou que ainda sente vontade de fumar, mas tem resistido às tentações. “Minha mulher pedia, implorava, era o sonho da vida dela. E eu sabia que isso era uma decisão. Não tem remédio que dê jeito, não tem tratamento, nada. Passei um tempo fazendo minha cabeça, mesmo adorando cigarro e tendo consciência de tudo. Uma hora, eu falei: ‘Chega’. Sofri pra caramba, tive pesadelo por causa do cigarro. Ontem mesmo, eu acabei o espetáculo e fiquei procurando um, mas consegui parar e já vai fazer um ano”, enfatizou.

Do sindicato à política

Depois de viver momentos altos e baixos na profissão, Stepan entendeu que era necessário lutar pela sua classe artística. Em 1995, ele assumiu a presidência do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (Sated-RJ) e ficou no cargo até 2007. Nesse tempo, ele tomou frente de diversas causas, incluindo o aumento do piso salarial dos atores e a valorização da categoria.

Qualquer outra profissão que a vida tivesse me levado, eu ia estar com as mesmas preocupações, principalmente de justiça social e de condições de trabalho. Quando eu era novo, lembro que fui fazer cinema e pensava se não estava me acovardando porque alguns amigos estavam indo para a luta armada [durante a ditadura]”, relembrou.

Stepan Nercessian posa com charuto falso do personagem — Foto: Rafael Cusato/Quem
Stepan Nercessian posa com charuto falso do personagem — Foto: Rafael Cusato/Quem

Um grupo de artistas formado nessa época propagou um discurso de que era importante vencer a imposição militar pela arte, com ideias, inteligência e pensamentos, e não encarando uma luta armada. “Isso me ajudou a continuar no trabalho acreditando que era importante politicamente e socialmente. A nossa profissão não era regulamentada. Cheguei em um momento que estava nessa luta, logo depois de 75. E depois acabei participando dos sindicatos.”

Anos depois, o ator também decidiu se aventurar na política e se elegeu vereador no Rio de Janeiro por dois mandatos, ficando no cargo de 2005 a 2011. Ele também foi deputado federal, de 2011 a 2015.

“Minha experiência como vereador foi mais gratificante do que como deputado. Na câmara de vereadores são 51 vereadores, você fala e tem sua importância. Na Câmara, são 500, então você é mais um. O sistema lá é feito de uma forma que para você se sobressair é muito complicado e se for partido de oposição [fica mais difícil]. Aquele grupo que é governista controla tudo e só os líderes falam. É complicado para você atuar. Como vereador, as pessoas têm um acesso fácil a você”, disse.

A decisão de deixar a política, no entanto, não foi por esse motivo e até hoje Stepan é convidado para se candidatar novamente: “Eu não quero. Eu me perguntei muito o porquê e entendi que eu nunca quis deixar de ser artista, tanto que meu slogan na política era ‘política com arte’. Eu era um ator que estava exercendo um cargo político, mas eu não quero deixar de ser ator para ser um político profissional. Chega um momento em que você vira profissional. Percebi que se eu continuasse, eu teria que trabalhar para me reeleger”.

Um novo Retiro dos Artistas

Este ano, o Retiro dos Artistas completa 106 anos e o respeito que a instituição conquistou nas últimas duas décadas foi graças ao trabalho de Stepan, que aceitou assumir a presidência do local em um momento crítico. “Sempre teve momentos de altos e baixos, mas teve um instante em que estava caótico. Sabia que eu era louco suficiente para consertar ou para fechar de vez o Retiro. Mas pensava que se há 105 anos atrás, um grupo de artistas e jornalistas conseguiu fundar a instituição, não é possível que 100 anos depois a gente não consiga mantê-la de pé.”

Stepan Nercessian — Foto: Rafael Cusato/Quem
Stepan Nercessian — Foto: Rafael Cusato/Quem

O ator se dedicou de corpo e alma para retomar a credibilidade do local. “Durante muito tempo, chegava lá 7h da manhã e saía meia-noite, porque eu precisava buscar de novo a confiança das pessoas no Retiro. Mas a minha missão maior era: eu preciso que as pessoas que morem aqui voltem a se sentir bem, que elas retomem o amor próprio e não achem que estão jogadas num depósito de gente”, contou.

O primeiro passo foi limpar o local. Stepan tirou 20 caminhões de lixo que pagou do bolso dele, porque o Retiro estava afundado em dívidas. “Precisava limpar o ambiente para que as pessoas começassem a ir lá. Arrumei um salão de beleza fiado, fui convidando gente para ir fazer churrasco, tocar um pagode. Queria levar vida lá pra dentro. E eles [os idosos] começaram a se reunir e conversar”, relembrou o ator, que expandiu o Retiro, que atualmente também recebe músicos e jornalistas.

“Hoje todo mundo tem muito orgulho de morar lá. A Dercy Gonçalves, minha grande amiga, sempre dizia que quando ela era jovem, quando você queria jogar uma praga em alguém, você dizia que ela ia terminar os dias no Retiro dos Artistas. Depois, ela mesmo falou: ‘Hoje em dia, se alguém me disser que vou morar aqui, agradeço de joelhos, eu gostaria demais de morar aqui’. Houve essa essa mudança e hoje em dia está todo mundo com a cabeça boa por lá”, concluiu Stepan.

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