Além de atriz, Amanda Lee, de 46 anos, é atleta amadora. Casada com o ex-jogador de vôlei Nalbert Bitencourt, de 50, a carioca leva a sério o triathlon, esporte que combina natação, ciclismo e corrida. Tanto que no próximo dia 19 de maio competirá no Mundial de Thriatlon de Samorin, na Eslováquia.
"A preparação está intensa. A classificação para o mundial mexeu profundamente comigo. Acredito que, pela primeira vez, questionei o esporte na minha vida. Não esperava a classificação [a atriz ficou em quarto lugar] para o mundial, quando disputei o campeonato em Florianópolis (SC). Foi uma prova exaustiva, que exigiu muito do meu corpo, mas me fez perceber meu esgotamento mental", recorda em entrevista exclusiva para a Quem.
Amanda conta que questionou se participaria ou não do mundial e chegou a se afastar dos treinos para refletir. "Eu tinha perdido o prazer e isso sempre foi o que me fez praticar o esporte. Eu só sentia um peso nas costas. No lugar de já cair direto na preparação, parei tudo. Fiquei mais de um mês sem treinos, emendei com as festas de fim de ano e fui me entender. Precisava encontrar o prazer que eu sempre senti no esporte", afirma.
A atriz percebeu que estava com uma autocobrança excessiva. "Descobri que estava me colocando uma pressão que não havia a menor necessidade. Voltei, então, a pedalar sem me preocupar com o tempo, com a velocidade. Olhando as paisagens, me sentindo integrada à natureza. Às vezes, nós entramos em um mood automático e desrespeitamos nossos limites", avalia.
Ela também voltou a nadar sem se cobrar. "Aos poucos, fui me reencontrando. E de umas semanas para cá, estou treinando para o mundial. Mas não sou profissional, sou amadora e faço porque amo. Esse amor precisa existir para eu estar inteira, presente. Melhorar faz parte do treinamento, mas, para mim, se eu não estiver me divertindo ou sendo uma válvula de escape, não faz sentido algum praticar o esporte", diz.
Ciclismo
Das três modalidades do thriatlon, a que Amanda mais curte é o ciclismo. "Adoro pedalar e, sem dúvida nenhuma, é a modalidade que sou mais forte", reconhece, explicando que é mais competitiva consigo mesma do que com os adversários.
"Não sou muito competitiva em relação ao outro, mas me cobro muito. Busco melhorar, evoluir, estar em constante crescimento. Se vou superar ou não o outro não me importo, mas se faço algo repetidas vezes pior que antes, me cobro. E a autocobrança pode ser mais cruel do que competir com o outro. A minha maior competidora sempre fui eu. E estou aprendendo a competir com ela de uma forma mais saudável", entrega.
Lifestyle
Quando está treinando para alguma competição, Amanda direciona a alimentação para os treinos. "Se não há prova, a alimentação é mais restrita, é saudável e já faz parte da rotina. Se estou em um período como o de agora, em preparação para o mundial, adoto uma alimentação mais rica em carboidratos e gorduras boas. Estou sempre em manutenção, a alimentação interfere muito no meu dia a dia", diz.
Atualmente, a atriz tenta ter uma relação de aceitação com seu corpo. "O corpo da mulher sempre é uma pauta. Se está mais magra, está demais. Se não, está acima do peso. Malha muito? Musculosa demais! A sociedade ainda é muito cruel quando se fala sobre o corpo da mulher. Já sofri muito no passado e carrego traumas comigo", admite.
Mãe de dois adolescentes -- Rafaela, de 14, e Vitor, de 11 --, ela não esquece as críticas que sofreu nas duas vezes que engravidou. "Fui criticada demais por causa do meu corpo. Foi muito tempo de análise para compreender a mulher que sou e adquirir a minha segurança de volta. Não sou focada na forma física, mas meu corpo de hoje é o reflexo da vida que levo. O esporte sempre fez parte da minha vida e história, mas ganhou um outro significado com o triathlon", analisa.
Amanda se exercita porque encontrou no esporte um lugar para se manter bem emocionalmente. "Não quero manter medidas impecáveis, não quero nada que seja um aprisionamento na minha vida. Sou uma mulher real, que pratica esporte, que tem 46 anos, e que se permite quebrar a rotina e ser feliz", argumenta.
"Vamos comer uma massa e tomar um vinho? Vamos! Vivemos em um mundo que vende uma perfeição ilusória, muitas vezes fabricada em mesa de cirurgia e vendida como vida saudável. Não podemos acreditar que vidas de redes sociais são perfeitas e nem acreditar que tudo aquilo que é mostrado é real. Meu compromisso é comigo, é me sentir bem. O que as pessoas veem é apenas o reflexo da minha forma de viver", completa.
Vida após o triathlon
Amanda conta que aprendeu muito desde que começou a se dedicar ao triathlon. "O triathlon me ensina muitas coisas: disciplina, resiliência, humildade de aceitar que nem sempre estarei bem para fazer algo que gostaria de fazer e tudo bem. Me ensina, ainda, que cada dia é um dia diferente, que nem sempre estou motivada ou com vontade de treinar, mas que a disciplina me leva ao hábito e que ao acabar estarei me sentindo muito melhor", enumera.
A atriz também se descobriu muito mais forte do que pensava. "Aprendi que cada linha de chegada cruzada é uma Amanda mais forte que nasce. Aprendi a ter mais cuidado com o outro e a pedir ajuda. O triathlon é o esporte individual mais coletivo que conheço. Levo todos esses ensinamentos para a minha vida e para minha profissão. Hoje sei exatamente a força que tenho e que meu sobrenome é disciplina e foco", afirma.
"A vida ficou mais leve e mais saborosa depois do triathlon. Ganhei novos amigos, vivencio situações inusitadas algumas vezes. Cada dia vejo que o universo do triatleta amador muitas vezes é mais complexo que o meu meio artístico. Chega a ser engraçado. O esporte é o reflexo claro da vida", analisa.
Impuros
Em breve, Amanda poderá ser vista como a policial civil Sandra na quinta temporada da série Impuros, ainda sem data definida de estreia na plataforma de streaming Star+. ''Impuros' foi uma delícia de fazer, uma verdadeira catarse. Quando recebi o texto para o teste da Sandra, sabia que a personagem seria minha. Ela é visceral, forte e tem uma habilidade física que nunca tinha tido a oportunidade de exercer na TV", elogia.
Para viver o papel, Amanda aprendeu a atirar e fez treinamento na CORE (a equipe de elite da Polícia Civil do Rio de Janeiro). "Vivenciei o dia a dia dos policiais, que é pura adrenalina, disciplina e foco. Foi um caminho artístico que sempre tive vontade de fazer. Pude mostrar a força que uma mulher tem. E sem falar na equipe toda que me recebeu de braços abertos, parecia que eu já fazia parte daquela família desde o início", derrete-se.
A atriz segue firme e forte na interpretação. "Estou ativa na minha profissão, com vontade de trabalhar mais e mais. É curioso como as pessoas tendem a nos rotular e enquadrar sempre em um caminho apenas. Não podemos ser mais de uma coisa. Posso ser atriz, triatleta amadora, escritora, produtora, o que eu quiser, uma coisa nunca anulará a outra", argumenta.
"Acho engraçado quando as pessoas chegam para mim e falam: 'Nossa! Você não é mais atriz? Agora é triatleta?'. Ou como quando ouvi de um produtor: 'será que você pode tirar a descrição de triatleta do Instagram e fixar somente a de atriz, porque vou te apresentar para o diretor e ele só gosta de atrizes que fazem mais teatro'. Oi? Em que mundo vivemos?", questiona.
"Em um período em que gritamos por liberdade, estamos cada vez mais aprisionados nos números de seguidores e encaixotando as pessoas -- na verdade, reduzindo seus talentos a uma coisa só. Eu sou uma camaleoa. Inclusive acho que esse é o meu maior trunfo na profissão, no esporte e na vida. Posso fazer a personagem que for, porque sei que vou entregar sempre o meu melhor", garante.