Beetlejuice, Beetlejuice… é melhor não falar a terceira vez, do contrário, ele aparece. É justamente esse o objetivo do fantasma defendido por Eduardo Sterblitch. O personagem tenta fazer um humano repetir seu nome três vezes para ter um vislumbre de vida. Beetlejuice, que está em cartaz no Teatro Liberdade, em São Paulo, é uma versão brasileira do musical da Broadway inspirado no clássico de Tim Burton Os Fantasmas se Divertem (1988).
Diferentemente da maioria dos títulos vindos lá de fora, Beetlejuice tem um detalhe que o torna diferenciado: espaço para improvisar. A naturalidade com que Eduardo encarnou o personagem-título é tanta que, para quem assiste, boa parte do texto soa como um jogo de improvisos para arrancar gargalhadas da plateia. No entanto, não é bem assim que acontece.
Em conversa com a Quem nos bastidores da produção, o protagonista explicou que tem liberdade de improvisar onde o espetáculo permite e destacou que as mudanças no texto foram fundamentais para o Beetlejuice se conectar com a plateia brasileira.
“No texto [original], tem piadas que têm mais graça nos Estados Unidos, então a gente tem que apropriar a nossa cultura para poder fazer com que o público se identifique, senão fica só uma reprodução de piada. Fica ruim. O ideal é não fugir do texto, mas nunca consigo, nunca faço a mesma peça, porque ele [o personagem] está morto, mas eu estou vivo em cena”, enfatiza Edu.
Por outro lado, o timing do musical precisa sempre ser respeitado. “Repito as cenas no mesmo tempo, só que eu não sou obrigado a respirar da mesma forma, não sou obrigado a sentir da mesma forma. Cada plateia me leva para emoções diferentes. Isso é o que faz o teatro ficar vivo e não o improviso. Fora que você inventar um texto do nada não é muito bom numa peça de três horas, isso é perigoso”, pontua.
A produção marca o retorno do ator, que nos últimos anos se envolveu em vários projetos de audiovisual, aos palcos de um teatro. “É a melhor peça que eu já fiz na minha vida em relação a estrutura e a felicidade de se fazer, porque eu sou realizador das minhas próprias peças, então sempre fico tenso porque fazer teatro no Brasil é muito difícil. Tem que operar milagre. Se é difícil para a Renata [Borges, produtora do espetáculo], que consegue patrocínio, imagina para quem não consegue.”
Mãe morta
O fantasma interpretado pelo humorista se aproveita do luto de Lydia Deetz, uma adolescente que entra em crise após perder a mãe, para colocar o plano que ele julga maligno em prática. A jovem muda com o pai, Charles, para a casa que o morto assombra. Explorar o luto da personagem em uma trama com tantas cenas de humor é um dos maiores desafios dessa personagem, conta Gabi Camisotti.
“Trazer todas as camadas que ela tem é importante para Lydia não ficar só uma adolescente chata e birrenta. É muito difícil, porque você tem que se conectar com a dor da perda de um ente querido”, comenta a atriz. Ana Luiza Ferreira, que alterna o papel com Gabi, concorda com a parceira e destaca que as cenas de humor, principalmente as improvisadas, ajudam a falar sobre a morte de uma forma leve. “É uma experiência refrescante. No Beetlejuice, a gente nunca se acostuma, nunca cai na mesmice. É óbvio que é sempre um desafio. A atenção precisa sempre ser redobrada.”
"Essa peça fala de vida"
Na visão de Flávia Santana, o tema central do espetáculo não é a morte, mas a importância das conexões. “Essa peça fala de vida, porque, na verdade, toda a angústia da Lydia é porque ela se sentiu abandonada pela mãe, então ela fica o tempo inteiro procurando pela mãe e, no final, ela se encontra”, fala a intérprete de Delia. Na trama, a personagem da atriz causa incômodo na adolescente, pois ela tem um caso com o pai dela, vivido por Joaquim Lopes.
“Esse é o primeiro musical que eu faço e está sendo uma experiência maravilhosa. Quando você canta na frente dos outros, é como se você estivesse se despindo, é um lugar muito vulnerável”, diz Joaquim. “Também é um desafio estar inserido nesse lugar de pessoas tão talentosas e você não estragar o rolê de todo mundo (risos). Tem ainda a parte corporal, pois tem muita dança durante o musical, e o fato do meu personagem ter uma curva dramática. Ele tenta criar uma conexão com a filha, indo de um afastamento no começo até a catarse do reencontro.”
Beetlejuice diferenciado
Tanto o filme de Tim Burton quanto o musical da Broadway serviram de referência para o espetáculo brasileiro, principalmente na questão visual, mas o que se vê em cena é um Beetlejuice único e isso só evidencia o talento de quem atua dentro e fora de cena.
“Ele conversa perfeitamente com a plateia. Lá [em Nova York] era muito bom, irreverente como é aqui, mas nós temos um ator muito mais brilhante do que eles tinham lá. O Eduardo e também o João [Telles, alternate do Beetlejuice] ouvem e aproveitam o que a plateia oferece e devolvem do jeito deles [com improvisos]. Eles têm a malemolência e o jeito brasileiro de representar”, destaca Tadeu Aguiar, diretor do espetáculo no Brasil. Assim como Edu, ele também bate na tecla de que o teatro é vivo e não fabricado.
Mesmo novo nesse universo dos musicais, Joaquim Lopes também sente a diferença entre a produção brasileira e a montagem internacional. “A nossa peça é bem diferente da Broadway, porque lá era uma coisa mais correta, mais limpa, e isso não necessariamente é uma coisa boa. Eu gosto da gente porque fazemos do nosso jeito, com as nossas referências, com a nossa brasilidade e eu acho que isso tudo agrega muito valor ao espetáculo”, conclui.
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Bastidores do musical Beetlejuice
Serviço:
- Local: Teatro Liberdade (R. São Joaquim, 129, São Paulo)
- Sessões: Quarta, quinta, sexta e sábado às 21h00; sábado e domingo às 16h00; domingo às 20h30
- Valores: Entre R$ 95,00 e R$ 350,00
- Ingressos: sympla.com.br