Entrevistas

Gabriel Santana entrou para o elenco da peça The Boys in the Band - Os Garotos da Banda, que neste ano segue em cartaz no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, já integrado ao elenco, personagens e história. O ator, que por conta de compromissos profissionais não pode estrear na primeira temporada, em outubro no ano passado, explica que participou desde o começo de leituras de texto e ensaios do espetáculo.

"Por questão de agenda, eu não pude estrear com o elenco. Estava com muitos projetos, mas queria muito fazer esse espetáculo e chegamos ao acordo que a minha estreia seria mais para o meio da temporada", conta.

"Participei das primeiras leituras do The Boys in the Band e dos ensaios iniciais. Além disso, já conhecia pelo menos 50% do elenco, formado por amigos meus e pessoas que admiro o trabalho. Então, me senti integrado ao elenco e parte da peça. Quando teve a minha estreia, não senti que estava entrando meio do processo. Fiz parte dele desde o início", pontua.

Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação
Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação

Considerada a primeira peça de temática abertamente gay, The Boys in the Band se passa em Nova York e gira em torno de um grupo de amigos gays que se reúne para celebrar o aniversário de um deles. Gabriel interpreta Boy, um garoto de programa contratado por um valor irrisório para entreter o aniversariante.

A nudez em cena não o incomoda, já que ele entende o contexto que ela é inserida: "Sempre me dei bem com o meu corpo na vida pessoal e na minha vida profissional, mas eu também só faço nu quando sinto que tem um valor artístico a agregar. Não sou a favor de emprestar o meu corpo a uma situação que seja uma nudez gratuita. Em The Boys veio de uma maneira muito tranquila mesmo. Gosto de como a construção do personagem é dada e de como o corpo dele serve a cena".

Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação
Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação

A peça da década de 60 aborda questões de identidade, sexualidade, relacionamentos e autoaceitação. O ator, que é bissexual, conta que ao contrário de alguns dos personagens do espetáculo, não teve traumas ao assumir publicamente sua orientação sexual.

"Tive um privilégio muito grande na minha vida, tanto familiar quanto profissional, de ter um lugar respeitoso, em que as pessoas poderiam ser o que elas quisessem no momento que elas quisessem. Então, me assumir publicamente não foi algo que acho que seja tão chocante na minha vida", relembra.

Gabriel procura sempre papéis que possam dar voz a minorias. Esse foi um dos pontos que o atraiu ao projeto. "Enquanto artista, gosto de dar voz a histórias que precisam ser contadas, independentemente de quais sejam. Mas por ser uma pessoa preta de pele clara e LGBT, é óbvio que gosto muito de dar visibilidade e acessibilidade a esses temas", explica.

Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação
Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação

Como se preparou para viver o Boy?
Acho essa pergunta sempre muito difícil de responder. Eu não acho que a gente se prepara para uma personagem. Assim como acho impossível você se preparar para a vida. Ninguém se preparou para a vida. A gente nasceu, foi aprendendo, se identificando e fazendo escolhas que nos levaram ao momento presente. Então entendi o boy que eu queria fazer e fui fazendo escolhas para que ele fosse construído da maneira que ele está construído a hoje.

E como é o Boy?
A primeira coisa que eu quis demonstrar com ele é que ele não é uma pessoa idiota, rasa e burra. Ele é uma pessoa que tem o seu nível de inocência, mas que antes de tudo, está naquela festa porque foi contratado para prestar um serviço. Ele não está em condições hierárquicas de ser ele mesmo, de apontar algo ou não. A gente não sabe o passado do boy, se ele está com problema financeiro, se ele vem de uma família rica, se ele tem problema com drogas... Não é dito isso na peça. E é muito bonito porque a gente, enquanto ator, pode pensar nessas questões. Ele está ali precisando de grana. O bichinho, coitado, cobrou 70 reais para passar a noite com uma pessoa. Então não é uma pessoa valorizada, sabe? Mas não é um idiota. S�� está ali porque precisa.

Ele traz esse universo do garoto de programa...
Para entender a personagem, tive que entender que ele está representando uma parcela da sociedade que trabalha com prostituição, que talvez seja a profissão mais antiga que se tem datada na terra, mas que ainda sofre muita desumanização e objetificação. Não ligam para o que ele pensa ou o que ele quer da vida, sabe? As pessoas que trabalham com prostituição sofrem muito com isso. Isso faz do Boy uma personagem muito bonita. Tive o prazer de descobri-lo e de caminhar junto a ele, entendendo as suas preocupações, os seus desejos, as suas contradições e o que ele representa socialmente.

Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação
Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação

Tem cena de nudez. Você lida bem com esse tipo de exposição em cena? É algo que sempre foi natural para você ou que aprendeu a olhar de outra forma com o maior tempo de experiência profissional?
Sempre me lidei muito bem com o meu corpo, até porque tenho muitos privilégios através do meu corpo. Sou uma pessoa que não é alta nem baixa, eu tenho 1,75 m de altura, que é uma média que me torna bem-visto na sociedade. Tenho também um corpo esguio e atlético. Sou uma pessoa preta, de pele clara, que sofre muito menos do que uma pessoa retinta e é sexualizado muito menos do que uma pessoa retinta... Então, uma cena de nudez da minha parte também não seria algo que me traria muitos gatilhos para a minha vida pessoal. Óbvio que eu só vou fazer uma cena de nudez caso eu sinta que artisticamente faz muito sentido, sabe? Eu não sou a favor de emprestar o meu corpo a uma situação que seja uma nudez gratuita.

É um espetáculo de extrema importância para comunidade LGBT+. O que mais te atraiu neste trabalho?
Sou um ator, e como ator acho que o que mais me interessa é contar histórias que são relevantes socialmente, sabe? Que tenha uma relevância política, social, sociológica, filosófica, ou algum lugar que me afete e que afete a sociedade. É sobre poder estar nos palcos representando a comunidade LGBTQIA+, contando nossas histórias através de uma produção que se preocupou em ter na equipe e no elenco pessoas que são parte da comunidade. Além disso, é a primeira peça assumidamente gay produzida na Broadway. Todo esse contexto, o elenco que foi escolhido e o momento em que a gente está vivendo para contar essa história, me atraem muito.

Gabriel Santana — Foto: Adriana Alves/Divulgação
Gabriel Santana — Foto: Adriana Alves/Divulgação

As questões da época em que o texto foi escrito ainda são pertinentes nos dias de hoje. Como foi para você, que desde pequeno está sob os holofotes, ter suas descobertas e se assumir publicamente bi em um país em que ainda há muita homofobia?
Trabalho com arte e desde pequeno tive acesso a pessoas com todo tipo de posicionamentos políticos, sobre vida, orientação sexual, gênero etc... Então, isso me fez naturalizar muito tudo o que eu via ou que eu desconhecia ainda, sabe? E acho que foi muito bonito pra mim. É óbvio que isso é um privilégio gigantesco. Sei que nem todo mundo tem oportunidade disso. Mas eu não tive porque não me assumir.

É um outro contexto social...
É difícil se assumir publicamente e socialmente quando a pessoa tem a família homofóbica, vive numa região aonde vão te hostilizar e que você vai poder sofrer agressão física e psicológica. Inclusive, gente, se você não se sente seguro, se você depende financeiramente de alguém e se você sabe que vai sofrer o preconceito, não tenha a pressa pra sair do armário, de se assumir. As coisas acontecem no tempo certo. É melhor você estar bem físico e mentalmente, ou estar menos pior físico e mentalmente, do que recorrer o risco de ficar em uma situação pior, de apanhar mais, de sofrer mais hostilidade da família, amigos e religião, ou o que quer que seja, sabe? Essa é a minha opinião.

Gabriel Santana — Foto: Adriana Alves/Divulgação
Gabriel Santana — Foto: Adriana Alves/Divulgação

Quais são as suas lutas hoje como um homem bi com grande visibilidade?
Como pessoa física, eu tenho que fazer o que todos os seres humanos têm que fazer, que é desconstruir as pessoas ao meu redor, fazer com que elas enxerguem os racismos estruturais, as LGBTQIA+ fobias estruturais que estão na nossa sociedade, assim como outras questões... A gente ama pessoas que por diversas vezes podem reproduzir estruturas de desigualdade. A gente não precisa brigar com a pessoa, a gente pode ensinar e conversar, às vezes em um tom mais tranquilo, às vezes, mais incisivo. Cada um vai encontrar a sua maneira.

E como pessoa jurídica?
Enquanto artista, eu acho que o que posso fazer é justamente dar voz a personagens com histórias que precisam ser contadas e estar associado a causas sociais.

Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação
Gabriel Santana — Foto: Thiago Mancini/Divulgação
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