Mari Saade e Stênio Garcia falam de amor sem rótulos: 'Encontro de almas'

"Um dos motivos de eu ter esse estalo para fazer esse podcast é que o Stênio tem muita coisa para contar. Ele não é só ator. Ele foi apresentador, é palestrante, deu muito curso de teatro, não só no Brasil com no exterior... Ele tem muito a dizer", explica Mari, que ao lado do marido falará sobre carreira, e sozinha, pretende abordar questões do universo feminino. "A ideia veio também do desejo que eu já tinha de querer falar com as mulheres sobre vários temas, como a menopausa", conta.

Fã do trabalho do marido, de 91 anos, Mari acredita que a escassez de papéis em novelas seja um reflexo do etarismo, que ela, com 55 anos, também já sente na pele. Stênio, que começou a carreira no teatro na década de 50, não tem um papel fixo em novelas desde Salve Jorge (2012).

"Sinto que há etarismo, sim. Tem muito menos oportunidade para tudo, tanto nas artes, comerciais e em outros trabalhos que surgem em consequência da visibilidade. Acham que a pessoa está passada, que não é mais potente. O Stênio é um ator brilhante e teria que estar trabalhando até o último dia de vida", analisa Mari.

"Estou há bastante tempo afastado do trabalho e não sei por quê. Vai ver que esse aspecto (etarismo) prevalece... Mas estou pronto fisicamente, intelectualmente e emocionalmente para trabalhar. Vou me preparar muito e estudar muito, assim como fiz para todos os meus personagens", avisa Stênio.

O preconceito em relação à idade não se limita ao campo profissional, Mari diz que o casal sempre sofre ataques por falar abertamente sobre a importância do sexo na relação a dois.

"As pessoas pensam que um homem com mais de 80 não pode namorar a mulher. O avô dele com 92 anos engravidou a mulher. Não é sobre idade, é sobre saúde. As pessoas têm preconceito com as pessoas mais velhas. O Stênio malha e faz tudo sozinho. É um homem ativo. A gente está sempre namorando. Não sei porque acham estranho eu namorar meu marido", explica Mari, que recentemente teve que negar os rumores de que estaria se envolvendo com outra mulher em uma relação extraconjugal.

"Esses dias apareceu uma suposta amante... Eu não conheço essa mulher! Tive que contratar um advogado. Estamos há 25 anos juntos em um casamento fluído, leve, de muito amor, parceria, amizade, paixão e compaixão. Converso muito com o Stênio. Somos monogâmicos, mas amanhã, se a gente quiser experimentar ménage, algo que a gente nunca fez, a gente vai fazer. Se eu quiser ter uma namorada e o Stênio achar ok, esse é um assunto nosso. Espero que o que a gente fale possa ajudar as pessoas a viverem as suas vidas ao invés de tentarem minar a vida dos outros", diz Mari.

"Nunca senti a necessidade de um ménage, acho que não me sentiria bem. Mas quem quiser, faz o que quiser. Não me cabe julgar as pessoas, não tenho nada a ver com isso", adiciona Stênio.

Questionada recentemente se era bissexual, Mari diz que vive um amor sem rótulos com o marido e que acredita em encontro de almas antes de qualquer coisa.

"Estou sendo questionada e julgada sobre ser bi ou não. O que sei é que não sou heterossexual. Sou um ser humano que ama outro ser humano, que por acaso está no corpo de um homem 36 anos mais velho do que eu. O Stênio poderia ser Stênia, Maria que virou João ou João que virou Maria e eu seguiria amando essa alma que está dentro do corpo dele. Não gosto de rótulos, mas se pansexual for ser apaixonada pela alma da pessoa, daí pode ser que seja isso", acredita Mari.

"O amor está nas entranhas das pessoas, independentemente da orientação, aspecto físico... Amo a Mari pelo ser humano que ela é", pontua Stênio.

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Como surgiu a ideia do podcast?
Mari: Já fui apresentadora da Rede OM de Televisão. Não era dona do programa, mas apresentava pontos do mundo, turismo e variedades. Na época não conseguia nada como atriz e foi isso que pintou. Entrevistei pessoas bem legais como o atual prefeito do Rio Eduardo Paes. Mas a ideia deste podcast veio de um desejo que eu já tinha de querer falar com as mulheres sobre vários temas. Meu maior objetivo é trocar com as mulheres, como falar sobre menopausa com as mulheres que estão passando por esse mesmo momento que passo ou com as que ainda não chegaram a esta fase, mas com conhecimento, podem se preparar melhor para este momento. Gosto deste formato do podcast, em que se pode perguntar tudo por meio de uma conversa.

Quantos episódios serão?
Mari: Penso em dez episódios, lançados a cada 15 dias. Estamos roteirizando primeiro para depois fazer a listar os convidados. E quero fazer gravado, para a pessoa se sentir mais confortável possível. Tem várias pessoas que querem falar.

O Stênio vai participar também do comando do programa?
Mari: O meu foco é a mulher, mas o podcast vai falar também do ser humano. Não vou me limitar a mulher. Quando o convidado for uma atriz ou ator, vou chamar o Stênio para conduzir. Vai ser um espaço para a pessoa falar do seu trabalho e para a gente conhecer um pouco da pessoa atrás do artista. Nestes momentos, o Stênio vai estar comigo, em outros vou estar sozinha. Ele veio do teatro, antes de existir a TV, e sabe melhor do que ninguém conduzir um bate-papo assim. Quero que ele troque com outros atores. E também não descarto a possibilidade dele contar sua trajetória em um dos programas. São mais de 200 personagens!

Muitos atores reclamam do etarismo e da falta de oportunidades. Vocês sentem isso na pele?
Mari: Como uma mulher 50 mais também sofro com o etarismo. Acham que a mulher vai estar cansada, com distúrbio de humor e etc por causa da menopausa. Eu não tenho nada isso. Se me chamarem para um personagem que eu gosto, vou plena e cheia de energia.

Vocês dois usam a visibilidade muita vezes para abordar temas importantes, que muitas pessoas têm tabus, como o sexo na melhor idade. Sofrem preconceito ou ataques por falaram de sexo?
Mari: Não sei porque acham estranho eu namorar meu marido. Temos sido muito atacados na internet. Chego a receber a direct até... Não vou à polícia porque não gosto de perder tempo com as trevas. Sou luz. Medito na grama e tento ser um ponto de luz para quem está a minha volta. Nestes ataques vejo muito ódio. Pensei que após a pandemia o mundo fosse se tornar melhor, já que a gente viu que um dependia do outro. Mas as pessoas ficaram piores.

Após tantos anos, como fazem para manter esse clima que parece de dois recém-namorados?
Mari: Não tem receita de bolo. Casei com uma alma. O Stênio é a pessoa mais leve que eu já conheci em toda a minha vida. Tudo o que eu mais buscava na minha vida era leveza e arte. A gente gosta muito de fazer as coisas juntos. É delicioso ver filmes e seriados juntos. Nosso casamento dá certo porque tem muita sintonia e é um encontro de almas. A gente namora o tempo todo, até na academia. Ele está em um cantinho e eu vou correndo até ele dar um beijinho. A gente não briga. Somos dois palhaços. A gente tem até apelidinhos, Amendoim e Chupeta, Debi e Lóide, Idi e o ota... A gente brinca muito. Nosso encontro é uma troca.

Quais os outros projetos para o ano que vem?
Mari: Além do podcast, estamos pensando em fazer uma peça baseada no livro Vou Deixar de ser Feliz por Medo de Ficar Triste?, sobre a história de amor de um casal, Andreia e Daniel, com diferença de idade de 25 anos. No livro o homem é mais novo, mas pensamos em inverter a história. Vivi esse preconceito por ser 36 anos mais jovem que o Stênio. Já pensou se eu tivesse medo e pensasse: "Ah! Ele é mais velho e vai morrer mais cedo"? Não estaríamos aqui há 25 anos vivendo um amor verdadeiro. Não me importei com a idade, assim como não me importaria se ele fosse Stênia, se fosse um homem transgênero ou uma mulher transgênero. Tivemos um encontro de almas.