Isis Valverde, de 36 anos, foi o nome escolhido para dar vida a Ângela Diniz no filme que conta a história da Pantera de Minas, como a socialite era conhecida. Em entrevista exclusiva à Quem, a atriz revelou que as duas compartilham mais do que o mesmo local de nascimento e a coragem de lutar por suas convicções.
Chegando às telonas no dia 7 de setembro, o longa apresenta os últimos meses de vida de Ângela, uma mulher à frente de seu tempo que entregou-se a um amor fatal. Obrigada a afastar-se de seus três filhos para conseguir o desquite de um casamento abusivo, ela acaba se apaixonando por Raul, um homem que, a princípio demonstra ser alguém leve e cheio de encantos.
![Isis Valverde em 'Ângela' — Foto: Divulgação: Downtown Filmes](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/P4xah52U3pJlMJRfW3AOd2VQs3I=/0x0:4480x6720/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2023/4/A/fekq9kRkKRKPRzkHJ0WA/isis-valverde-como-angela-diniz6-credito-aline-arruda.jpg)
Os dois, então, passam a viver juntos em Búzios, no Rio de Janeiro, mas a paixão de verão rapidamente se transforma em um dos feminicídios mais famosos de todos os tempos no Brasil. E para externar todo o sofrimento ao qual Ângela Diniz foi exposta antes de ser assassinada, Isis precisou revisitar suas vivências enquanto mulher.
"Busquei na ancestralidade feminina um ponto de encontro entre nós duas. E nisso, as violências pelas quais somos submetidas desde pequenas afloraram. Nem sempre vamos encontrar o destino trágico de Ângela, mas todas nós já passamos por alguma situação de abuso ou violência infelizmente", contou.
Além disso, Isis Valverde também experimentou na pele a saudade que Ângela sentiu dos filhos, já que durante as gravações do filme precisou ficar longe do pequeno Rael, de quatro aninhos, algo que tentou trazer para sua interpretação.
"Conversei com algumas pessoas que a conheceram para ter uma ideia melhor de como ela era e uma definição me impactou muito: 'Ângela estava sempre sorrindo, mas era um sorriso triste'", disse.
![Isis Valverde em 'Ângela' — Foto: Divulgação: Downtown Filmes](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/2Q-1YXXgm3eKlz4acfY6ghy2IYA=/0x0:4480x6720/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2023/4/n/c086N5SBOA6GNQZ7K2BA/isis-valverde-como-angela-diniz1-credito-aline-arruda.jpg)
Legítima Defesa da Honra
No julgamento do crime, que foi cometido em 1976, a defesa de Raul Fernando do Amaral alegou 'legítima defesa de honra', linha argumentativa que acabou lhe rendendo uma pena simbólica de apenas dois anos. Foi só em 1981, quando um promotor de justiça recorreu do caso, que o assassino de Ângela foi condenado a 15 anos de prisão em regime fechado.
Por muito tempo a morte de Ângela Diniz pautou a luta pelos direitos das mulheres, e em agosto 2023 foi fundamental para que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgasse como institucional o argumento utilizado pelo homem que tirou sua vida 46 anos atrás.
![Isis Valverde em 'Ângela' — Foto: Divulgação: Downtown Filmes](https://cdn.statically.io/img/s2-quem.glbimg.com/EK1TY2ajT8GGGFarCMpTVRKHz5M=/0x0:1920x1008/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b0f0e84207c948ab8b8777be5a6a4395/internal_photos/bs/2023/M/i/s9ewXFQBmwJEeDQAC9RA/frame-angela.jpg)
Para Isis Valverde, se Ângela tivesse assassinada por Raul nos dias de hoje, ela receberia muito mais apoio por parte da sociedade, o que não significa que o caminho a ser percorrido todavia não seja muito extenso, já que em 2022 o Brasil registrou o maior pico de feminicídio da história, com uma mulher sendo morta a cada seis horas.
"Temos a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio. Se elas não mudam tanto as estatísticas, pelo menos tipificam os crimes. Isso é importante para lutarmos por mudanças, para exigirmos que elas aconteçam. Mas o caminho ainda é muito longo, justamente porque é uma mudança de pensamento, uma mudança de atitude, uma mudança social", refletiu.
A artista, que recentemente precisou sair em defesa da mãe diante de diversos comentários etaristas, acredita que o machismo segue ditando as regras do jogo.
"Ser mulher não é um fardo. O fardo é ser mulher em uma sociedade estruturalmente machista, que nos oprime, que nos quer envergonhadas e preocupadas em agradar o outro. Isso é um fardo porque somos tolhidas da nossa liberdade, somos julgadas a cada passo, a cada escolha. Sabemos o que representa esse controle e enquanto não mudarmos essa ideia de que mulheres estão aqui apenas para servir e agradar, vai ser difícil de realmente mudarmos nossa realidade", lamentou ela.
Mãe de um homem, Isis falou sobre a responsabilidade de criar um cidadão melhor para as futuras gerações: "Para mim, o principal é que ele seja respeitoso e amável com as pessoas, além de entender que todos somos iguais, que o gênero não deve ser indicativo de qualquer tipo de hierarquia".
Pausa nas novelas
Há algumas semanas, Isis compartilhou com seus seguidores que eles passariam a conhecer uma nova versão dela em filmes e séries. No entanto, a atriz esclareceu que não pretende abandonar por completo as novelas.
"Fazer projetos mais curtos, que não sejam novelas, não quer dizer que eu não farei mais novelas. Isso nunca foi dito por mim. Por isso não considero que seja uma transição de carreira. O que acontece, neste momento, é que recebi convites para outros formatos e estou mergulhando nesses projetos (...) A boa história e os bons personagens estão nas novelas, nos filmes, nas séries… E o que realmente importa para mim é ter uma boa história para contar", concluiu.