Entrevistas

Por Marina Bonini (@marina_bonini)

Lucinha Lins me encontra na Praça Benedito Calixto, em São Paulo, após deixar o neto Mariano, de 10 anos, na escola e lavar a louça. Hospedada no apartamento do filho Claudio Lins, a atriz é parada algumas vezes para ser elogiada por seu trabalho e atender pedidos de fotos por pessoas que circulam pela feira que ocorre no local.

"Todos nós somos pessoas como quaisquer outras. Sou dona de casa, faço a comida quase todos os dias na minha casa, lavo a louça... No momento, estou em São Paulo a trabalho e, ao mesmo tempo, ajudando meu filho Claudio e a nora Xanda, que estão morando aqui e que fazia tempo que não via. Estou de cozinheira e avó que leva no colégio. O Mariano já fez pedido de torta de limão e o Claudio da minha carne assada. Estou matando a saudade deste pedaço da família que não está mais no Rio de Janeiro", explica Lucinha, que também é mãe de João, Luciana e Beatriz e avó de mais dois meninos.

Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem
Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem

De volta aos palcos com o espetáculo As Meninas Velhas, escrito por seu marido, Claudio Tovar, Lucinha interpreta Zuleika, uma mulher madura cheia de vida, sonhos e desejos. Aos 70 anos, a carioca ressalta a importância de falar sobre a maturidade e combater o etarismo.

"São quatro mulheres na faixa de seus 60 anos e aposentadas. São amigas da vida que se encontram na praça. Elas vão envelhecendo juntas com o pacto de jamais se separar. Os velhos de hoje não são os velhos da época dos meus pais. O avô de hoje surfa com o neto, anda de bicicleta, não fica sentado numa praça jogando apenas dama porque se aposentou ou dentro de casa em depressão. Ele acompanha o mais jovem, ensina e aprende todos os dias. Ele vive com uma qualidade de vida muito melhor e o hoje, que é o melhor dos tempos. Temos memórias, que nos acompanham, mas o bacana é o hoje e o que possa vir. A esperança, alegria, os sonhos existem o tempo todo. Essa é a filosofia do espetáculo", conta ela sobre a peça, que de 12 de maio à 2 de junho fica em cartaz no Teatro Fernando Torres, em São Paulo.

Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem
Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem

Após completar 40 anos, Lucinha lembra que começou a sentir o etarismo na pele até por meio dos elogios: "Passei a ouvir uma palavra que acho que vai me acompanhar até o resto da vida: o ainda. A partir dos 40, após as pessoas me conhecerem pessoalmente, passei a ouvir: 'Nossa, você está bonita ainda!'. É como se você não merecesse continuar bonita, saudável, alegre, estudando e querendo alguma coisa depois de uma certa idade".

Isso inclui a vida sexual ativa. Apesar do tabu envolvendo o sexo na maturidade, Lucinha afirma que a libido ainda existe e o sexo é bom assim como na juventude. "As pessoas acham que por estarem velhas, acabou o prazer. É como se a gente não tivesse mais direito ao amor, ao sexo, ao beijo de língua, a mão na coisa e a coisa na mão... Sexo com 14 anos tem um gosto, com 30 outro e por aí vai. Mas o gosto é bom e isso que é o legal. O sexo e a libido mudam? Claro que sim, mas não deixa de ser bom, possível e presente no dia a dia", garante.

Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem
Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem

Após ficar dois meses internada no final do ano passado devido a uma pancreatite, a artista acumula metas para realizar. "Fiquei doentinha, mas já estou boa. Tive que mudar a dieta porque a coisa foi feia. Tive uma pancreatite de repetição, tirei a vesícula, tenho no momento uma prótese no pâncreas que deve ser retirada em breve. Tenho um pâncreas inflamadinho que devagarinho vai se curar. Então, cortei bastante a gordura da dieta e álcool já não faz parte da minha vida. Eu tomava um drinque socialmente, mas agora acho que não vou tomar mais pelo resto da minha vida. De resto, posso comer de tudo. Acabou a fase do caldinho e sopinha, que não posso nem ver mais na minha frente (risos). A vida segue e estou muito bem", conta.

"Tenho muitos sonhos: quero trabalhar até fisicamente não conseguir mais, saúde, amor e que o planeta se cure. Quero um país melhor, que não exista mais foro privilegiado, que exista prisão em segunda instância e que a fome e guerra acabem", diz.

Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem
Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem

Você está em cartaz com um texto escrito por seu atual marido, Claudio Tovar. É um texto que aborda esse universo feminino. Você o ajudou neste processo de criação?
O Tovar é o grande artista da nossa casa! Ele tem uma ideia, senta em frente ao computador e escreve dois, três dias seguidos. Fica compulsivo e de repente para e me chama: "My wife, dá uma olhada nisso aqui. Veja se é uma porcaria?". Eu leio é opino uma coisa ou outra e ele fica mais alguns dias naquele texto. Quando ele acaba, leio novamente e conversamos sobre o tema. O Tovar tem vários textos escritos na gaveta lá de casa. Em breve vamos usar um deles. Existe um monólogo também, o Torta Capixaba, que é muito engraçado e bonito, que ele escreveu para mim. Acho um desafio fazer monólogo, tenho pânico, mas pretendo fazer este em breve. Mas voltando a pergunta, o Meninas Velhas ele escreveu anos atrás. Quem desencavou foi o Claudio (Lins), que mexendo no computador, encontrou o texto e achou muito bom. Resolvemos montar na pandemia antes que a gente enlouquecesse. Todo mundo ficou dentro da minha casa, de máscara, com portas abertas ensaiando para estar pronto para quando os teatros reabrissem. E estamos há quase dois anos em cartaz e ainda não temos patrocínio, seguimos com a cara e a coragem.

Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem
Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem

Algumas pessoas não entendem a importância do patrocínio. Os artistas ainda têm que justificar tanto não só os patrocínios como a lei de incentivo à cultura, né?
As pessoas não têm ideia do que seja uma Lei Rouanet. Ela é da maior importância da vida artística. Nosso espetáculo está aguardando por ela, que ficou fechada por muito tempo. Já temos uma inscrição. Assim que sair, começamos a bater na porta de possíveis apoiadores e patrocinadores. Sem isso é impossível sobreviver do teatro. Quando eu digo teatro, incluo a bilheteira, do técnico, da camareira, de todas as pessoas que vivem de arte neste país. Produzir uma peça gera muitos empregos. A Lei Rouanet e um patrocinador nos colocam no palco. Sou produtora, além de atriz. Trabalho há 50 anos no palco. Sei o que é pagar as suas contas. Em determinados espetáculos, pelo sem tamanho e sem patrocínio, não há bilheteria que cubra. Eu me lembro de sair de espetáculos meus lotados e um amigo falando: "Nossa, Lucinha, você deve estar enchendo a bolsa de grana". E eu dizia: "Graças a Deus está dando para pagar todo mundo". É uma vida difícil. Nós estamos trabalhando da seguinte maneira: os teatros têm sido generosos depois da pandemia e não estão cobrando mínimos, que às vezes, você trabalha para se pagar junto com a parte técnica. Os atores e a produção às vezes não ganham nada porque não sobra. Mas nós estamos no picadeiro, nos mostrando, trabalhando... É difícil pagar conta quando isso acontece e viver. Neste momento estamos trabalhando com teatros que também estão sobrevivendo de um percentual de bilheteria. Se sobrar para a produção R$ 10, divide por todos, se der R$ 20 mil, divide por todos. É assim que estamos vivendo e conseguindo manter a nossa arte viva.

As Meninas Velhas dá o protagonismo para mulheres acima dos 60, que sonham e realizam. Recentemente, uma aluna de 40 anos foi vítima de deboche por colegas mais novas, que diziam que ela já deveria estar aposentada...
As meninas devem estar tão envergonhadas dessa coisa tão infantil que fizeram. Mas, aos mesmo tempo, chego a ter pena delas. Que isto sirva de lição para todos. Criticar alguém pela sua idade, gordura, cor etc é algo tão ridículo. Chega desta palhaçada. Mas acho que a grande maioria já não considera uma mulher de 40 e 50 anos velha. Eu mesma quando era jovem achava que uma mulher de 40 anos era muito velha. Quando fiz 40, fui capa da Revista Manchete, linda e maravilhosa em um maiô dourado. Ali levei um susto: "Já tenho 40 anos, mas está tudo bem, não mudou tanto assim".

Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem
Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem

O próprio meio artístico pode gerar um medo do envelhecimento...
Existe uma busca pela juventude que me assusta. Vejo pessoas muito jovens se machucando porque estão estereotipadas em bocas e peitos. Elas estão adiantando a natureza de uma maneira, se preocupando com pé de galinha aos 20. Quando tiverem 60 anos vai dar problema porque não tem volta. Elas vão ficar esquisitas. São pessoas que mexem muito na cara... Um cirurgião-plástico, de quem gosto muito e que já está aposentado, me dizia que só a partir 40 anos a gente deveria procurar alguém, criterioso, que respeitasse a gente. Daí a gente poderia começar a dar um beijinho de botox no cantinho do olho, dar uma atenção para o pescoço... Sem sair cortando e preenchendo. Não deixe que ninguém perceba que você mexeu. Vá fazendo devagar coisas que mantenham sua pele e musculatura no lugar. Tem tantas coisas hoje para ajudar a envelhecer bem.

Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem
Lucinha Lins — Foto: Rafael Cusato/Quem

Muitas atrizes desabafam que os papéis ficam limitados na maturidade. Você sentiu esse impacto na sua carreira?
Eu entendo que é necessário dar lugar para a juventude. Nós, os atores mais velhos, temos ainda grandes papéis, mas talvez não sejamos mais os grandes protagonistas. Somos integrantes do núcleo principal. A Tônia Carrero disse uma frase muito interessante: "À medida que envelheço, percebo que a minha capacidade de sedução diminui". Eu acho que isso é verdade, fica mais restrito. Eu não posso mais fazer uma garota que sobe na árvore. Vou ficar na parte debaixo da árvore pedindo para a minha netinha descer. Temos que cair real. A gente muda. As oportunidades quando aparecem, a gente tem que agradecer.

Você disse uma vez que chegar aos 60 foi assustador. E como foi chegar aos 70?
Foi mesmo! Mas entrar para os 70 não me assustou. Nos 40 eu me achei um máximo, nos 50 me senti forte e disse, "ok, agora sou uma senhora e já sei o que eu não quero", mas e nos 60 foi esquisito e pesado. Fiquei assustadíssima. Agora não tenho mais medo. É um dia de cada vez tendo certeza que o hoje é o melhor dos tempos.

Antes dos 20 você já estava trabalhando no meio artístico, era casada com Ivan Lins e já era mãe. Imagino a loucura que era conciliar tudo isso. Dá para curtir mais agora o papel de avó que o de mãe?
As pessoas costumam dizer que ser avó é melhor do que ser mãe. Eu não acho uma frase bacana, não é comparável. Hoje tenho 70 anos e sou avó. Meu tempo, conhecimento, atenção e paciência são outros. Eu sou outra pessoa. É uma emoção completamente diferente, mas é um renascer todos os dias, o céu muda de cor todos os dias. Quero mais netos e ando pressionando meus filhos. Além do Mariano, sou avó do Tito e do Lui. Preciso de uma menininha para encher de laço (risos).

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