Elenco de 'Pedaço de Mim' reflete sobre a complexidade da nova trama da Netflix

Na trama, Juliana Paes interpreta Liana, uma mulher que sonha em ser mãe e é casada com Tomás, personagem de Vladimir Brichta. Ao longo da história, Liana engravida de gêmeos, mas de forma extremamente rara, por meio de um fenômeno chamado superfecundação heteroparental. Enquanto um dos bebês é fruto de seu casamento, o outro foi concebido por meio de um estupro. Em meio a uma complexa mistura de emoções e diante de um grande dilema moral, Liana enfrenta a difícil questão de saber se será capaz de amar igualmente as duas crianças e manter suas relações familiares intactas.

Questionada sobre o que mais a atraiu no roteiro, Juliana Paes declara: “Eu sempre achei que o roteiro tem uma genialidade no sentido de conseguir abordar tantos assuntos que são muito relacionados com a audiência de uma forma muito sensível. Então, assim, poder falar de maternidade, sobre esse desejo, toda essa cobrança da maternidade, poder falar sobre machismo, esse machismo estrutural que permeia a nossa vida de um jeito que às vezes nem temos mais consciência, é poder falar de abuso e todas as decisões que se precisa tomar”, inicia.

“A falta de apoio em situações de abuso e violência sexual... São tantos assuntos, e de uma maneira tão sensível, colocados para essa personagem, para Liana, para o roteiro como um todo, que foi muito fácil aceitar fazer. Foi muito fácil querer fazer. Difícil foi fazer, mas, além disso, esse plot inicial também, sobre essa questão da superfecundação, acho que traz um debate para além da excentricidade da questão. Meu Deus, ficar grávida de dois pais diferentes? Além disso, há muitas outras discussões muito pertinentes e muito férteis..Acho que o público vai poder discutir muita coisa. "Caramba, isso é possível? O que eu faria no lugar dessa mulher? Como eu reagiria?" Então, propor essa identificação e esse nível de discussão é muito instigante. É tudo que nós, atores, queremos: promover esse debate e provocar isso nas pessoas”, segue a artista.

O ator João Vitti, que interpretará o médico Vicente e será par romântico de Silvia, papel de Palomma Duarte, destaca o roteiro de Angela Chaves. Segundo ele, é uma trama potente que aborda o comportamento humano e a diversidade de emoções que as pessoas têm o poder de expressar diante dos conflitos da vida.

“Precisamos sempre escolher um caminho e agir. Existem essas escolhas, essas ações e os efeitos delas, e é isso que acho que essa história traz, com momentos assim, com essa carpintaria de dramaturgia que nos remete à novela, que tem um DNA bem brasileiro. Todos nós conhecemos esse estilo e, ao mesmo tempo, tem uma aura que faz a gente pensar: "Caramba, mas é uma novela com cara de cinema, com um plus." A Netflix definiu como melodrama, o que acho uma inovação não só pela palavra, pelo título, mas que pode ser uma tendência de outras histórias no streaming. Soma-se esse DNA brasileiro de novela com essa carpintaria e acabamento de cinema, uma história fechada. E o mais importante de tudo: temos uma excelente história, grandes atores e diretores muito comprometidos com esse projeto, de uma forma muito democrática”, explica João Vitti.

Por se tratar de uma produção que aborda temas tão relevantes e atuais, os artistas não esconderam os desafios enfrentados ao interpretar seus personagens. Vladimir Brichta, que interpreta o advogado Tomás, marido de Liana, destacou a complexidade do enredo e os desdobramentos da obra.

“Ao compreender o enredo inicial, que envolve a superfecundação heteroparental, fiquei fascinado. Pensei: "Meu Deus, isso é possível? Como ninguém explorou isso antes? Que ideia brilhante!" Para um melodrama, é um terreno incrivelmente rico. É digno de uma novela. Apesar de ser um tema comum nos dias de hoje, é um enredo de alto nível. Quando percebi isso, pensei: "Uau, que incrível!" Todos os desdobramentos a partir desse ponto, como as pessoas lidam com essa situação, são fascinantes. São potencialmente muito dramáticos”, conta o artista entusiasmado.

“Meu personagem, Tomás, é alguém que, quando olhei, pensei: "Cara, é algo que, de fato, eu não abordei tanto assim." A linguagem é muito realista, o que frequento menos na televisão, por exemplo, e mais no cinema. Com características que ao longo da trama vão se mostrando, ele é um personagem muito egoísta, muito em si mesmo. Isso, de alguma forma, era um desdobramento interessante e novo para mim também. Fiquei amarradão”, finaliza o ator.

Dando vida ao vilão Oscar, o ator Felipe Adib menciona durante a entrevista sua experiência ao interpretar um personagem polêmico e desafiador na série. Ele destaca a complexidade de representar um papel que gera debate e contribui significativamente para a trama.

"O desafio para mim foi porque é muito interessante interpretar um personagem que polemiza. Como ator, é legal você ter um personagem que apronta, que provoca, que gera informação. Esse personagem contribui com conteúdo para a história. Então, nesse ponto, foi muito legal. O desafio maior, acho que, foi fazer aquela cena de abuso, de estupro. Foi um desafio. É meio estranho falar sobre isso. Você sabe que aquele é o dia em que vai gravar a cena de estupro e pensa: 'Ai, gente...'. Por mais que sejamos técnicos, por mais que a Juliana seja muito técnica, muito certeira e maravilhosa, e por mais que tenhamos um acompanhante, uma pessoa que orienta tudo, ainda assim é um gatilho”, inicia ele.

“Para mim, foi mais difícil do que outras cenas. Esse tipo de cena requer que você traga uma energia específica, que olhe de uma maneira que crie mal-estar. Como artistas, estamos à frente, tentando combater, repensar essa questão social, principalmente do masculino”, segue Felipe.

A atriz Palomma Duarte, que dará vida à médica Silvia, cunhada de Liana, ainda aborda a relevância da série em relação aos temas contemporâneos que aborda, especialmente no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade atual.

"Estamos no meio de uma discussão muito importante, e a série vem de forma muito contemporânea falar sobre a situação da mulher nessa sociedade. Que mulher é essa que vai para uma boate, é drogada e violentada? Que mulher é essa que tem um marido machista? E por um conhecido com quem, de repente, está dançando e relaxando uma noite, esse conhecido é um cara que ela conhece há muitos anos, o irmão dela era o melhor amigo dele, e esse cara comete um ato de violência”, questiona a atriz.

“Que mulher é essa, como no caso da Silvia, que não quer saber da instituição do casamento, pelo menos até onde a gente está assistindo? Então, acho que é um grande mérito da Angela trazer de forma palatável, embora difícil, porque os temas são difíceis, questões tão importantes que estão sendo discutidas hoje. E a série ajuda um pouco mais nesse debate, a iluminar essas questões”, completa Palomma.

Ao final da entrevista, os atores ainda refletiram sobre a mensagem que esperam que os espectadores absorvam ao assistir "Pedaço de Mim". “É importante questionar essa dinâmica patriarcal da nossa sociedade e escutar as mulheres. A Liana, ela batalha muito para ser respeitada, né? Eu acho que ela é a heroína da nossa trama, de fato. Uma heroína que, no primeiro momento, é vítima da situação, até que consegue se fazer ouvir. Mas é uma batalha. Então, de alguma forma, tem um componente muito feminista que merece ser celebrado nessa obra”, menciona Vladimir.

"Pedaço de Mim é uma obra que nos convida a refletir sobre a jornada da personagem principal, interpretada de forma magnífica por Juliana Paes. O tempo que ela dedica à sua dor e reflexão nos faz repensar as consequências de nossas próprias ações. É crucial que homens também assistam a essa série. Durante nossas conversas, percebi a importância de ajudar a disseminar essa história. Embora saibamos que as mulheres vão se interessar, apesar dos temas difíceis e dolorosos que aborda, que tocam profundamente, como homem e parte integrante da obra, me emocionei muito ao assistir. Foi uma experiência impactante que me fez refletir sobre a gravidade do abuso e seu impacto ao longo do tempo”, finaliza Felipe Adib.