De Cristo a canibais: conheça outros filmes tão controversos quanto 'Salò ou 120 Dias de Sodoma'

Apesar de sua fama, Salò disputa o título de filme mais controverso com outros títulos. Confira a lista:

O filme de D.W. Griffith apresentou inovações técnicas que formaram a base para muito do cinema que veio depois, mas é considerado uma das obras mais polêmicas já feitas, mesmo levando em conta que tem mais cem anos. Para começar, a trama que se passa antes, durante e depois da Guerra da Secessão americana é racista, glorificando a escravidão e defendendo a Ku Klux Klan. Os afro-americanos, representados por atores brancos fazendo blackface, são mostrados como perigosos e estúpidos.

O Nascimento de uma Nação é tão errado que já em 1915 causou revolta, levando a motins nas principais cidades americanas, com o público jogando ovos na tela. Ainda hoje tentativas de exibição do longa são recebidas com ameaças de boicotes, e ele foi banido de alguns lugares.

Não existe lista de filmes mais controversos sem esta obra do diretor italiano Ruggero Deodato. Banidos dos cinemas em vários países, a produção é um mockdocumentário (um documentário falso), que acompanha quatro documentaristas que se embrenham na selva da Amazônia para filmar tribos canibais (!) que vivem na região. Eles desaparecem e uma equipe de resgate recupera o material que eles gravaram.

Além de ser muito ruim como trama, Holocausto Canibal é altamente preconceituoso em relação aos povos originários amazônicos, tem cenas tão violentas que foi acusado de ser um filme snuff (quando os atores são mortos de verdade), mostra estupros, canibalismo e tortura. Além disso, vários animais foram realmente mortos durante as gravações, segundo Deodato para alimentar os personagens.

Diz o diretor sérvio Srđan Spasojević que seu filme é uma crítica ao governo e à burocracia da indústria cinematográfica de seu país. Na tela, a história gira em torno de um ex-ator pornô que volta à indústria de filmes adultos devido às dificuldades financeiras. Mas só depois que já assinou os contratos descobre que terá cenas de estupro e pedofilia.

Embora Terror sem Limites tenha sido exibido sem cortes na Sérvia, ele foi censurado em mais de 50 países, inclusive o Brasil, onde ficou mais de um ano proibido. Em alguns locais, a obra teve cortes de mais de quatro minutos e foi terminantemente proibido para menores de 18 anos, sendo acusado em muitos locais de incentivar a pornografia infantil. Spasojević se defendeu, alegando liberdade de expressão e dizendo que crianças não participaram das cenas mais pesadas, mas, para muitos, o filme se resume em uma palavra: monstruosidade.

Martin Scorsese, um dos maiores gênios do cinema, chegou a ser ameaçado de morte ao lançar A Última Tentação de Cristo. O cineasta, que é católico, contou a história de Jesus Cristo, revoltando o público por fugir do que está na Bíblia e mostrando o Salvador como um homem, que se casa com Maria Madalena, consumado a relação, e duvidando de seu propósito divino.

Os protestos foram violentos em todo o mundo, e 13 pessoas ficaram feridas quando um grupo católico colocou fogo em um teatro de Paris com coquetéis Molotov. Scorsese foi ameaçado de morte, e um pastor evangélico quis comprar os negativos do filme e destruí-lo. Apesar das polêmicas, A Última Tentação de Cristo tem 84% de aprovação no Rotten Tomatoes, site que é um termômetro da recepção de um filme, com os críticos reclamando mesmo é do ritmo da produção e dos poucos diálogos.

Pier Paolo Pasolini morreu dias antes da exibição do filme, censurado em muitos países. A trama se passa na República de Salò, um estado criado pelos nazistas já no final da Segunda Guerra Mundial, que levou a uma resistência nacional italiano e posterior guerra civil. No filme, quatro fascistas, o Bispo, o Magistrado, o Presidente e o Duque sequestram nove meninas e meninos adolescentes para submetê-los a todo tipo de tortura mental, sexual e física.

Dividido em quatro partes com títulos inspirados na Divina Comédia, Salò foi banido em muitos países devido às violentíssimas cenas de sexo, contra os dois gêneros, escatologia, e abusos. Extremamente gráfico, com constantes cenas de assassinato, o filme é muitas vezes usado como exemplo no debate sobre censura e liberdade de expressão.