Capas

Por Por Mateus Phyno (@phynocomph_)

Mesmo que você não tenha muita familiaridade com o mundo drag, provavelmente já viu ou ouvir falar em Silvetty Montilla, seja dos tempos em que ela passava trotes ao lado de Tata Werneck, no Trolalá, da MTV, ou dos muitos memes e bordões dela que circulam nas redes sociais -- quem nunca ouviu um Inhaííiiiii?. Sílvio Cássio Bernardo, de 55 anos, é mesmo uma lenda.

Reverenciada por gerações de artistas, é considerada uma das pioneiras da cena e uma das primeiras a “furar a bolha”. Com 36 anos de carreira, é mais conhecida como apresentadora e comediante de stand up, mas também acumula experiências como performer, atriz e cantora. Abriu caminhos para si e para todos nós. Em 28 de junho de 1997, fez parte e discursou na primeira Parada LGBTQIAP+ de São Paulo, a primeira do Brasil, e foi também a apresentadora oficial por 16 anos, momentos que ela guarda com muito carinho. "Foi muito legal. Fui como todo mundo, sem saber e sem entender o que era aquilo", conta.

Silvetty Montilla veste capa usada como vestido Lino Villaventura, brincos Bella Maria e sapatos Eurico Max — Foto: Rhaiffe
Silvetty Montilla veste capa usada como vestido Lino Villaventura, brincos Bella Maria e sapatos Eurico Max — Foto: Rhaiffe

Pouco antes da hora marcada para as fotos que ilustram essa capa, Silvetty me liga e diz que vai atrasar um pouco, porque "o voo da maquiadora atrasou, estava em Nova York". Esse humor rápido e que brinca com signos de riqueza, pelo qual ficou conhecida, nos acompanhou durante toda a sessão de fotos na Sala São Paulo e, ela conta, é o que a ajudou na vida. Entre um clique e outro, um look e outro, a queen sempre tinha um comentário divertido para fazer.

A entrevista, feita por telefone, alguns dias depois da sessão de fotos, aconteceu depois que Silvetty saiu de uma sessão de hemodiálise, parte do tratamento de um diabetes bem avançado que já a levou à UTI. Inclusive, como é justo, as fotos foram adiadas para não bater com a agenda médica dela. "Faço hemodiálise três vezes por semana e, às vezes, quando preciso viajar, faço seguidas. Mas aceito superbem! Eu quero viver! Tenho que correr atrás da minha saúde", decreta. Nem assim, ela perde o bom humor e fez piadas durante toda a nossa conversa. Ciente do próprio impacto, mas sem se deslumbrar, ela diz: "Famosa eu sempre fui, porque naquela época eu já fiz todos os meninos do meu bairro!".

Silvetty Montilla usa vestido Andre Betio, adornos de cabeça, colares e anéis, tudo Marco Apollonio — Foto: Rhaiffe
Silvetty Montilla usa vestido Andre Betio, adornos de cabeça, colares e anéis, tudo Marco Apollonio — Foto: Rhaiffe

INFÂNCIA
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Tive uma infância muito tranquila, com duas irmãs e um irmão, meus pais... Sempre me dei com todo mundo, brinquei muito, tinha muitos vizinhos, aquela coisa de bairro mesmo. Minha mãe era empregada doméstica e meu pai era corretor. Ele faleceu ano retrasado e ela, há 22 anos. Nunca sofri nenhum tipo de bullying, sempre soube entrar e sair dos lugares e sempre fui respeitada. Se eu tinha um dom artístico era escondido, mas toquei na banda marcial do colégio Jardim São Paulo por 10 anos. Quando a gente viajava [com a banda], sempre subia nos palcos e nas mesas de bar para fazer umas brincadeiras. Acho que foi ali que descobri meu dom artístico. Já faz um tempinho, viu? Faz 36 anos, que é o tempo que tenho de carreira".

"Não sei dizer quando minha carreira estourou, nunca imaginei fazer nada disso"

O NASCIMENTO DE SILVETTY
"Lembro bem, foi na Rua Marquês de Itu [em São Paulo], onde tinha vários bares gays e ali, naquela multidão de gays, foi onde me descobri. A Silvetty Montilla surgiu porque eu ia a muitos shows e tinha um amigo meu, o Paulo (que era Paulette), que já é falecido... Até que um dia comecei, em 1987. A primeira vez que me montei foi num Carnaval, na Praça da República, peguei uma sainha da minha irmã, uma camisa e fui de lá para a Marquês de Itu. Me senti superbem, super à vontade, e pensei: 'acho que é isso que quero para mim'. De Silvio, coloquei Silvetty e comecei a ir a shows de calouros que faziam na época; sempre ia pra final, mas eu nunca participava da final, porque eu sempre estava viajando com a banda marcial. Sempre me inspirei na Paulette, e tinham muitas outras... Miss Biá, Colibri... E fui conhecendo gente, conhecendo boates".

OFICIAL DE JUSTIÇA E DRAG QUEEN
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Há uns 32 anos, me tornei drag queen em tempo integral. Eu trabalhava como oficial de justiça e por quatro anos conciliei meu trabalho como oficial com o trabalho na noite. Foi muito bom, o pessoal lá sempre me respeitou; minha chefe sabia que eu trabalhava na noite, às vezes eu chegava cansado e ela me punha num cantinho pra dar uma dormidinha. (risos) Deixei quando o dinheiro começou a entrar, mas, também, eu era boêmia, sempre gostei da noite, nunca gostei de acordar cedo. Não achava que isso seria pra minha vida, mas, graças a Deus, há 36 anos... Acho que deu certo, né? Está dando! Não sei dizer quando minha carreira estourou, nunca imaginei fazer nada disso. Fui fazendo do meu jeito, meu jeito de apresentar, e acho que caí na graça [do público]. Acho que o talento também conta, estou aí até hoje."

BOATE WALL SHOW, BOLINHA E SILVIO SANTOS
"As duas primeiras boates que conheci foram a Wall Show e a boate Fabs, que ficava na Rua das Palmeiras, ambas no centro de São Paulo. Era muito legal, muito gostoso! Ia muito nas matinês -- naquela época tinham muitas matinês. Foi lá que eu conheci o DiCalaf, que é um estilista do Rio Grande do Norte, que morou em São Paulo durante muitos anos, e foi quem me deu as primeiras oportunidades para fazer show. Tive que engolir muita coisa naquela época. Sou muito da hierarquia: respeito muito aquelas tantas que vieram antes, assim como respeito muito as que vieram agora."

Silvetty Montilla veste capa usada como vestido Lino Villaventura, brincos Bella Maria e sapatos Eurico Max — Foto: Rhaiffe
Silvetty Montilla veste capa usada como vestido Lino Villaventura, brincos Bella Maria e sapatos Eurico Max — Foto: Rhaiffe
Silvetty Montilla veste capa usada como vestido Lino Villaventura, brincos Bella Maria e sapatos Eurico Max — Foto: Rhaiffe
Silvetty Montilla veste capa usada como vestido Lino Villaventura, brincos Bella Maria e sapatos Eurico Max — Foto: Rhaiffe

TELEVISÃO
"Hoje nós estamos na TV, no cinema, no teatro, em festas, boates, bares... Isso tudo é muito bom, porque antigamente a gente não tinha essas oportunidades. Minha família nunca soube de nada -- pelo menos eu pensava. Naquela época, tinha o show do Bolinha, o Eles e Elas, e tinha o Show dos Transformistas, do Silvio Santos, cheguei uma vez em cada um. Eu saía muito para trabalhar com minha mãe e os vizinhos falavam: 'Ah, eu vi o Silvio na televisão, estava muito bonita!", mas nunca ninguém questionou nem perguntou. Sempre tive muito respeito da minha família e também sempre soube respeitar muito".

FAMÍLIA
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Minha mãe não chegou a me ver, mas as vezes que meu pai e minhas irmãs e sobrinhos foram me ver [no palco, como drag queen] foi quando eu fiz um aniversário de 30 anos de carreira e 50 anos de idade -- fiz uma festa no clube Piratininga, para mil pessoas, e eles foram; a segunda vez foi quando eu fiz um musical, Cartola - O Mundo é um Moinho (2016); e agora, mais recentemente, quando fiz show no Teatro Gazeta, na semana da Parada. A primeira vez que os vi na plateia foi complicado, fiquei meio 'assim'... Mas aí eles subiram no palco, minha irmã falou alguma coisa (minhas irmãs são evangélicas, mas sempre respeitaram muito), a gente começou a chorar -- todo mundo começou a chorar, olhava para a plateia e todo mundo se emocionou muito. Eu me emocionei muito. Foi lindo. Mas ainda hoje, quando ele me viram recentemente, fiquei meio sem graça".

VOLTA AO LAR
"Hoje tenho um apartamento na República e uma casa na Casa Verde, onde moram comigo minhas irmãs e uma sobrinha. Me dou superbem com minha família. Há dois anos, comecei o tratamento para diabetes e resolvi voltar aqui pra minha casa [na Casa Verde]. Não que eu não devia ter saído, mas ter voltado foi a melhor coisa que eu fiz na vida, porque eles me abraçaram e me acolheram de tal maneira... Foi aí que eu contei tudo da minha vida, 'olha eu sou isso, isso e isso, faço isso, isso e isso'. Para mim, foi muito gratificante".

Silvetty Montilla, Marcia Pantera e Lorelay Fox na capa da Quem

Silvetty Montilla, Marcia Pantera e Lorelay Fox na capa da Quem

DIABETES
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Há muitos anos, estava vindo da Europa, da Itália, e descobri que tinha diabetes. Descobri, fiquei um dia na UTI, saí e comecei a tomar insulina. E foi aquela coisa: trabalha, trabalha, trabalha e nunca pensa na saúde. Foi quando, há dois anos, fiz um stand up numa casa de comédia em Florianópolis (SC) e, quando cheguei no hotel, fiquei 10 horas em cima de uma cama sem me mexer, sem falar. Voltei pra São Paulo, fui num médico e, quando fui ver, precisei me internar -- fiquei sete dias internado. Estou nessa luta. Graças a Deus estou bem, mas esse tempo que fiquei ruim, mexeu com tudo. Tomei insulina durante anos sem precisar, porque não tenho esse tipo de diabetes que precisa tomar insulina. Atacou rins, fígado, vista, tudo. Hoje, estou fazendo hemodiálise três vezes por semana, fazendo um monte de exames, mas estou superbem, graças a Deus."

"Eu quero viver! Tenho que correr atrás da minha saúde"

NOVA ROTINA
"Mudei muito minha rotina de trabalho, antes trabalhava demais, de segunda a segunda. Hoje só trabalho aos fins de semana, na Blue Space , na Tunnel e no Bar Queen, e só trabalho quando quero, a hora que quero e para quem quero. Acho que trabalhei durante muitos anos, então eu sei saber 'isso quero fazer, isso não', se não estou a fim, não vou. Faço hemodiálise três vezes por semana e, às vezes, quando preciso viajar, faço seguidas. Mas aceito superbem! Só na primeira vez, logo quando comecei a fazer, fiquei meio assim... Mas eu quero viver! Tenho que correr atrás da minha saúde."

AMOR
"Tive quatro amores, que são grandes amigos meus até hoje. Gostaria de ter alguém, mas é tão complicado a gente que trabalha na noite... Às vezes as pessoas confundem, acham que o que sou em drag é o que sou no dia a dia. Gostaria de ter um companheiro, mas também estou bem sozinho. Filhos nunca imaginei. Gosto, tenho muitos sobrinhos, mas por 15 minutos! Não que eu não goste de criança, só não tenho paciência."

EPIDEMIA DE HIV
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Medo a gente sempre tem. Naquela época, quando começou [a epidemia de HIV], a gente falava que era a 'Era Cazuza'. Tive bailarinos que perderam a vida para a doença. Era bem triste, mas a gente tentava se cuidar da melhor maneira possível".

Lorelay Fox usa vestido Andre Betio, brincos, colar e pulseira Eduardo Caires e sapatos Eurico Max; Silvetty Montilla veste capa usada como vestido Lino Villaventura, brincos Bella Maria e sapatos Eurico Max e Marcia Pantera usa vestido Ginger, casaqueto Rober Dognani, brincos Carlos Penna e sandália Eurico Max — Foto: Rhaiffe
Lorelay Fox usa vestido Andre Betio, brincos, colar e pulseira Eduardo Caires e sapatos Eurico Max; Silvetty Montilla veste capa usada como vestido Lino Villaventura, brincos Bella Maria e sapatos Eurico Max e Marcia Pantera usa vestido Ginger, casaqueto Rober Dognani, brincos Carlos Penna e sandália Eurico Max — Foto: Rhaiffe

PRIMEIRA PARADA LGBTQIAP+ DE SÃO PAULO
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Foi uma época boa! Fui, durante 16 anos, apresentadora oficial da Parada, foi muito gratificante. No começo era bem fácil, não tinha essa multidão que é hoje -- hoje, nós temos a maior Parada do mundo; naquela época, a gente descia a Av. Paulista e a Rua da Consolação supertranquilos, hoje em dia não dá mais para fazer isso, é bem diferente. Tenho várias lembranças das vezes que eu descia, ia andando na rua, sem subir em trio, cumprimentava as pessoas, paquerava, tirava foto... Era muito bom. A primeira de todas foi muito legal. Fui como todo mundo, sem saber e sem entender o que era aquilo. Quando chegamos na Praça Roosevelt [no centro de São Paulo], o Beto de Jesus, que foi o primeiro presidente da Parada, disse: 'Ah, Silvetty, fala alguma coisa aí'. Eu falei e depois ele me chamou para ser a apresentadora oficial -- e fui por todos esses anos".

"A primeira Parada [LGBTQIAP+] de todas foi muito legal. Fui como todo mundo, sem saber e sem entender o que era aquilo"

RECONHECIMENTO
"Famosa eu sempre fui, porque naquela época eu já fiz todos os meninos do meu bairro! (risos) Mas nunca pensei nisso de fama, não. Eu queria trabalhar, trabalhar muito. Percebi o reconhecimento do público quando comecei a aparecer em várias casas, em vários lugares, vários eventos e fui conquistando cada dia mais pessoas que gostavam do meu trabalho -- e isso, também, é muito gratificante. Eu falo que não fui eu que criei esses bordões, pode até ter tido um bordão que eu criei, mas é mais a forma que coloco em cena. Se pudesse definir minha vida em um bordão seria 'Inhaíiiiiii!'"

HUMOR
"O humor me ajuda no dia a dia. Sempre fui uma pessoa muito tímida e muito quieta, hoje, depois de todo esse tempo de trabalho na noite, mudei bastante. Não que eu seja essa pessoa extrovertida, ainda continuo naquela linha meio quietão. Amo fazer o que eu faço, amo o público. Eu podendo estar nos palcos da vida, não só em boates, mas em casas de stand up, teatros, estou feliz. Fico feliz em ver as pessoas rindo com o trabalho que faço, é muito gratificante quando alguém chega para mim e fala que ficou melhor por algo que falei no meu show."

Silvetty Montilla usa vestido Andre Betio, adornos de cabeça, colares e anéis, tudo Marco Apollonio — Foto: Rhaiffe
Silvetty Montilla usa vestido Andre Betio, adornos de cabeça, colares e anéis, tudo Marco Apollonio — Foto: Rhaiffe

CRÉDITOS:
Fotos: Rhaiffe Ortiz (@rhaiffe)
Vídeo: Tiago Zani (@tiagozani) e Luca Valério (@lucavalerio)
Styling: Miguel Cuenca (@miguelcuenca)
Beleza: Ronaldo Hass (@ronaldohass)
Unhas: Aline Carvalho (@alinecarvalhonaildesigner)
Produção geral: Mateus Phyno (@phynocomph_)
Edição: Ana Carolina Moura (@anacmoura) e Danilo Saraiva (@danilosaraiva)
Design de capa: Eduardo Garcia (@eduardogarda)
Retouch: Victor Wagner (@vwretouch)
Assistência de foto: Natália Costa (@naapazz)
Assistência de styling: Hanna Ferreira Rodrigues (@hanitahh)
Agradecimentos especiais: Sala São Paulo (@salasaopaulo_) e Samir Amis (@samir.amis)

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